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Jango: a nossa breve história, no Arquivo Nacional

João Baptista Pimentel Neto

Tradução:

EXPOSIÇÃO JANGO1Mostra reúne, a partir de 2 de outubro, cerca de 160 fotografias, 20 documentos originais e publicações dos anos 1960 no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Nos cinquenta anos do golpe militar, o Arquivo Nacional apresenta, a partir do dia 2 de outubro, no Rio de Janeiro, a exposição “Jango: a nossa breve história”, com cerca de 160 fotografias e 20 documentos originais e publicações dos anos 1960. Composta exclusivamente com o acervo da instituição, a mostra é dedicada ao governo de João Goulart, sem esquecer sua trajetória pessoal, chegando até as imagens de exílio.

A exposição oferece ao público, além de registros do golpe militar de 1964, a oportunidade de conhecer o perfil de João Goulart, uma janela de acesso à política brasileira das décadas de 1950 e 1960, chave para acompanharmos rumos partidários, movimentos sociais, o papel dos estudantes, o cenário do pós-guerra, o clima de irreversível mudança que se respirava no País, de bossa nova e democracia.

A exposição

Arquivo NacionalO circuito da mostra divide-se em cinco módulos, começando pelo desfecho, em 1964, com uma série fotográfica com os eventos tidos como detonadores da crise militar. Ilustra os conspiradores como Lacerda e Magalhães Pinto, as lideranças de Brizola e Arraes, o dia-após-dia de março daquele ano que continua nos meses seguintes com a leitura do AI-1, as prisões, as invasões de residências, os inquéritos, o deputado cassado Rubens Paiva a caminho do exílio, e ainda, lembrando a agitação cultural de então, cenas de ‘Deus e o diabo na terra do sol’, o show ‘Opinião’, e já em 1965 uma manifestação estudantil contrária ao regime.

A trajetória de Jango é retomada a partir de seu mandato de deputado federal, da posterior ocupação da pasta da Justiça no segundo governo Vargas, do cargo de vice-presidente no governo JK, de sua eleição como vice-presidente no governo Jânio Quadros, até se tornar presidente em 1961. Dos palanques de campanha à renúncia de Jânio, até a crise em torno da posse de João Goulart, chega-se ao terceiro módulo, voltado para os anos de seu governo, incluindo a campanha pelo retorno ao presidencialismo.

Esses breves anos são retratados pelo gabinete parlamentarista, sobretudo, o do primeiro-ministro Tancredo Neves, a assinatura de importantes atos como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a criação da Universidade de Brasília, e momentos de grande projeção como a cobertura da visita aos Estados Unidos com a chuva de papel picado em Nova York e a visita a Kennedy na Casa Branca. No Brasil, a agenda política alterna encontros com trabalhadores e estudantes, com líderes como o governador Arraes, o economista e responsável pelo Plano Trienal, Celso Furtado, o sempre lembrado embaixador norte-americano Lincoln Gordon, a seleção bicampeã de 1962, uma das poucas notas festivas em meio a muitas greves e conflitos.

Há lugar também para lembrar as inaugurações de grandes obras que seguiam a trilha do desenvolvimentismo de JK. Personagens da cena cultural e política do início da década de 1960 dão o tom da inovação radical que se anuncia na música, no teatro de Nelson Rodrigues, no Cinema Novo. E no mundo, Lennon, Martin Luther King, manifestações pacifistas contra a bomba atômica, o 1º de maio na Praça Vermelha, a construção do Muro de Berlim, a Guerra Fria.

O quarto módulo é voltado às manifestações e protestos nos quais eclodiu de fato a campanha pelas reformas de base: trabalhadores rurais armados, famílias de posseiros, o líder das ligas camponesas, Francisco Julião discursando na assembleia da UNE, as greves, as multidões, o cenário da cidade do Rio de Janeiro, ainda uma capital em sua centralidade, no Recife as faixas que gritavam “o Brasil não é quintal de Kennedy.”

Não faltou o protesto de estudantes e trabalhadores contra a proposta de Jango de decretar estado de sítio para viabilizar as reformas. Esse clima de inédita e expressiva participação popular se apresenta pelos filtros da Agência Nacional, órgão do governo e do jornal Correio da Manhã, além de outros fundos de natureza privada como a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes), Santiago Dantas. Arquivos de imagens em movimento como da TV Tupi do Rio de Janeiro e César Nunes foram pesquisados para a edição do vídeo que acompanha a mostra.

O último módulo, Exílio, projeta imagens dos primeiros banidos do regime, ainda em 1964. Mostra também, inclusive com retratos do arquivo privado de João Goulart o exílio de Jango e sua família. Documentos do SNI se mesclam nessa projeção e estão ainda em vitrines, nas quais serão expostos originais como a minuta de carta de João Goulart a Kennedy sobre a crise de mísseis em Cuba, de 1962, ou o Aviso do chefe do SNI encaminhando informe sobre as atividades do ex-governador Miguel Arraes no exílio, de 1972.

Serviço
Exposição Jango: a nossa breve história
De 2 de outubro de 2014 a 31 de janeiro de 2015
Arquivo Nacional – Praça da República, 173, Centro – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2179-1228
Aberto de 2ª a 6ª feira, das 9h às 18h.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

João Baptista Pimentel Neto Jornalista e editor da Diálogos Do Sul.

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