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Jornalistas e líderes de todo mundo se reúnem em Cuba para debater nova Operação Verdade

Similar ao convocado há 65 anos, encontro debateu formas de enfrentar as calúnias e difamações que correm o planeta, potencializadas pelas redes
Jorge Enrique Botero
Diálogos do Sul
Havana

Tradução:

No último domingo (21), delegados de 29 países dos cinco continentes converteram um salão localizado na frente do quebra-mar de Havana em uma Babel do jornalismo mundial para clamar por uma nova Operação Verdade, similar à que se convocou há 65 anos para desmentir a campanha de calúnias contra a nascente revolução cubana.

A urgência de reverter o “tsunami de fake news” que percorre o planeta se ouviu em turco, português, francês, chinês, árabe, russo e todas as variantes conhecidas do espanhol, desde o caribenho de Cuba e Porto Rico, passando pelo mexicano, o colombiano e o argentino, até o castelhano de uma comitiva ibérica. 

Abriu a primeira jornada deste evento o presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, o qual asseverou que “onde quer que existam propostas alternativas ao pensamento único, há uma operação verdade”, ao mesmo tempo que apelou a começar uma batalha especial pela verdade “contra o genocídio do povo palestino”.

Luis Enrique González, presidente da agência de notícias Prensa Latina (PL), organizadora do evento, evocou os primeiros meses do governo revolucionário e sublinhou que foi ao calor da Operação Verdade, em 1959, que nasceu a PL, “dando início à primeira experiência de imprensa alternativa do continente, ainda viva e vigente”.

O historiador cubano René González justificou aquela convocatória do comandante Fidel Castro, o qual deu, diante de 400 repórteres de todo o mundo, o que se continua considerando como a mais tumultuosa roda de imprensa na história do jornalismo.

“Antes de 59, Cuba era mostrada ao mundo como uma espécie de paraíso para a festa e o gozo, mas nenhum meio publicava que em sete anos a ditadura de Fulgencio Batista havia assassinado mais de 20 mil pessoas, em sua maioria jovens”, narrou o historiador para contrastar a repentina atenção que lhe deram os meios internacionais aos justiçamentos dos verdugos.

Em nome de um dos muitos países do Caribe que experimentou até os anos 60 do século XX os efeitos do colonialismo britânico, o ex-chanceler de Belize Godfrey Smith disse que uma das prioridades do jornalismo regional é sacudir-se do colonialismo cultural “que faz perder a identidade, o que é igual a perder a alma”. 

Os assistentes a este fórum, adornado por furiosas ondas que atravessavam o quebra-mar de Havana ao outro lado do salão, reconheceram com intensos aplausos o trabalho da cadeia de televisão Al Mayadeen, cujo presidente Ghassan Ben Jaddou, descreveu os avatares da cobertura que fizeram da agressão israelense contra a faixa de Gaza ao longo de mais de 70 dias.

Abel Prieto, atual presidente da Casa de las Américas e duas vezes ministro de Cultura de Cuba, evocou episódios reveladores sobre a incrível capacidade das forças de direita de inventar mentiras e lamentou o êxito que estas logram em amplos setores da população.

Prieto ironizou sobre uma campanha realizada em 1962 desde uma emissora instalada em uma ilhota próxima à ilha, que advertia as mães cubanas sobre uma presumida lei do governo destinada a tirar seus filhos para enviá-los à União Soviética, onde seriam submetidos a eficazes métodos de lavagem cerebral.

Um pequeno exército de tradutores se viu em apuros para saltar de idioma em idioma quando os assistentes tiveram a oportunidade de comentar as intervenções dos conferencistas e convidados especiais.

Segundo a maioria, as mentiras de antigamente são uma brincadeira de crianças em comparação à avalanche de fake news que recebe hoje o público através das redes sociais e dos meios massivos tradicionais de comunicação.

Por isso, se escutou um apoio unânime à iniciativa de pôr em marcha “uma segunda temporada da Operação Verdade”, tal como propôs Jenaro Villamil, presidente do Sistema Público de Radiodifusão do México.

Segundo Villamil, essa nova versão não pode cair exclusivamente sobre os ombros dos jornalistas, deve envolver outros setores como o de artistas, roteiristas, engenheiros de comunicações e profissionais das mais diversas disciplinas que “a façam mais eficaz”.

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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