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Jose Martí convive com a fraternidade no México

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Jose Marti en MexicoO jovem cubano Jose Martí (1853-1895) encontrou no México um lar, amor, fraternidade e apoio à luta independentista que seu povo travava contra o jugo colonial espanhol, luta a qual ele estava totalmente engajado. Paralelamente a vida social vinculada a luta de seu povo, ele desenvolveu um intenso trabalho jornalístico e literário nesse país.

Mayra Pardillo Gómez*
Em 28 de janeiro se comemora o 164o aniversário de Martí, ocasião propícia para recordar seus passos, breves mas que deixaram profundas marcas. No México, onde chegou pelo porto de Veracruz com apenas 22 anos, contribuiu à formação de um Martí ávido por conhecer outras culturas.
Em 30 de janeiro de 1891 ele publicou no diário El Partido Liberal, o ensaio Nuestra América, título que remete a um chamado à união entre os povos hispano-americanos. Está catalogado como um ensaio filosófico e político, em que o autor insistiu na unidade para poder enfrentar os perigos que ameaçam os povos latino-americanos.
Ensayo Nuestra América Jose MartíNesta rememoração é necessário recordar o mexicano Alfonso Herrera Franyutti, morto em 18 de março de 2016, médico e escritor, considerado por especialistas como o maior estudioso de Martí no México, cuja obra detalha a vida do líder cubano principalmente no período em que viveu no México.

Amor com amor se paga

Martí encontrou abrigo no México enquanto era ainda jovem e aí cultivou uma bela amizade com Manuel Mercado (1838-1909), quem acolheu a sua família nos momentos mais difíceis.
Em 1882 Mercado foi nomeado secretário de Governo pelo presidente da República, posto que manteve durante muitos anos e também como vice-presidente da Academia Mexicana de Jurisprudência, entre outros.
No início de 1875, quando da chegada de Martí ao México, Mercado residia na casa vizinha da de Mariano Martí, pai do herói, ficaram amigos para sempre. A irmã de Martí, Mariana Matilde, a que ele chamava Ana, faleceu muito jovem. Mercado nessa ocasião cedeu à família um lote no cemitério para que pudessem enterrá-la. Assim era a pobreza da família.
A Carta que Martí deixou inconclusa, quando caiu em combate em 19 de maio de 1895 em Dos Ríos, reconhecida como seu testamento, é dirigida a esse seu grande amigo. Há mais de uma centena de cartas dirigidas a ele que foram conservadas.
Martí percorreu o país e escreveu sobre aspectos da vida cotidiana e publicou também críticas de teatro além, claro, de seus versos. Os primeiros artigos, sob pseudônimo de Orestes, foram publicados na Revista Universal, situada em frente da Plazuela de Guardiola, onde hoje está a Torre Latino-americana. Nessa revista também publicou um poema dedicado à morte de sua irmã e uma tradução de Victor Hugo (Meus Filhos).

Da esquerda para a direita: José Martí, José Francisco Martí y Carmen Zayas Bazán.
Da esquerda para a direita: José Martí, José Francisco Martí y Carmen Zayas Bazán.

Submerso totalmente na vida intelectual e artística mexicana, estreou com êxito no Teatro Principal sua obra “Amor com Amor se Paga”. Conheceu a atriz Rosario de la Peña e se enamorou dela. Mas não deu certo, ela namorava um mexicano, tinha 27 anos e Martí 22.
Mais tarde, em 1876, Martí conheceu a cama gayana Carmen Zayas Bazán, com quem namorou, se casou e teve seu único filho, Jose Francisco.
Depois de uma breve viagem a La Habana, com outro nome para iludir a vigilância das autoridades espanholas que o tinham desterrado, foi pra Guatemala. Finalmente regressou ao México para se casar com Carmen em 20 de dezembro de 1877. O certificado de casamento está arquivado no México.
Em 1894 Martí voltou pela terceira vez ao México para promover apoios à causa da luta pela independência cubana.
Autor do drama Abdalla, dos Versos Sencillos, do romance Amistad funesta (escrito em 1885 sob o pseudônimo de Adelaida Ral), o poema Ismaelillo, se via desde os primeiros textos que se tratava de um grande escritor.
O legado de Jose Martí permanece no México, presente em numerosas bibliotecas que levam seu nome e num importante centro cultural na capital dedicado a sua memória. Neste há uma escultura de corpo inteiro. Sua figura também aparece no mural Sueño de una Tarde Dominical, en la Alameda Central, do pintor Diego Rivera (1886-1957).

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Sueño de una Tarde Dominical, en la Alameda Central, do pintor Diego Rivera (1886-1957).

O Centro Cultural Jose Martí, no centro da Cidade de México, foi inaugurado em 27 de maio de 1976. Várias universidades mexicanas estabeleceram cátedras dedicadas à obra do político, escritor, jornalista e prócer cubano.

Centro Cultural Jose Martí, no centro da Cidade de México
O Centro Cultural Jose Martí, Cidade do México.

Conhecendo o país

Destaca-se sua presença em Veracruz e a amizade que manteve com o poeta Salvador Díaz Mirón.
Em um de seus livros Herrera Franyutti fantasia que Martí e Carmem passeiam pela rua de Plateros, no coração da capital, e ceiam no Tívoli de San Cosme.
Martí regressa a México em 1894, depois de 19 anos de sua primeira viagem, se hospeda num modesto quarto no hotel Iturbide, passeia pelo Zócalo, visita San Ildefonso onde vivia seu amigo Mercado.
Chama a atenção do cubano o monólito de Chac Mool, o deus maia da chuva. Inspirado faz uma caricatura colocando sua cara no lugar da divindade. Essa ideia original de Martí foi convertida em uma escultura realizada por um escultor cubano e se encontra em La Habana.
A história se remete à última etapa do século XIX, quando foi descoberto o Chac Mool durante escavações na cidade maia de Chichén Itzá, no estado de Yucatán, sul do México. Martí se sentiu atraído pela peça e escreveu vários artigos sobre ela além de desenhos e o autorretrato montado sobre o corpo da escultura pré-hispânica. Hoje existe uma busto do herói cubano no Parque de las Américas, em Yucatán.
Em 1876 Jose Martí visitou Acapulco, no estado de Guerrero, onde permaneceu quatro dias. Teve tempo de descansar e refrescar-se à sombra dos loureiros da Praça de Armas, escreveu Herrera Franyutti em Pelas sendas do Martí no México.
Ficou registrado o amor de Martí por México, “o país que depois do meu o que mais quero em Nossa América”, disse em carta a Mercado em 1889.
Amor com amor se paga, plasmado em sua obra, e seu amor por México é retribuído nas escolas que levam seu nome, nos bustos e esculturas erguidos em sua memória, no mural de Rivera e no respeito à sua obra.
*Prensa Latina, de Ciudad de México especial para Diálogos do Sul
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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