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ToggleNa último dia 9, o jornalista Bob Fernandes publicou uma análise em seu canal do YouTube em que detalha conexões entre Sergio Moro, a Operação Lava-Jato, o FBI e institutos neoliberais no Brasil.
As ligações apontadas por Bob evidenciam intervenções na política brasileira, ao longo dos últimos anos, com o propósito de sujeitar o país aos interesses dos EUA.
FBI no Brasil
Bob Fernandes inicia o vídeo mencionando os interrogatórios feitos pelo FBI, Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, e o DOJ, Departamento de Justiça dos EUA, dentro do Brasil, entre 2017 e 2022, sem o cumprimento de condições legais. O analista lembra que inquirições como essa só podem ser feitas com total conhecimento do governo brasileiro, o que, no entanto, não aconteceu.
Encontros foram realizados sem a participação de órgãos como o Ministério da Justiça ou a Secretaria de Cooperação Internacional (SCI). Muito menos, houve presença de representantes do Ministério Público Federal, juízes, delegados ou policiais brasileiros.
Fernandes reforça a explicação com informações sobre a visita de 17 agentes do FBI a Curitiba, em 5 de outubro de 2015, sem ciência do Ministério da Justiça. O fato foi denunciado pela Agência Pública e pelo The Intercept Brasil, este último trazendo à tona diálogos entre Vladimir Aras, então procurador responsável pela cooperação internacional na Procuradoria Geral da República, e o à época procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Aras questiona Dallagnol sobre a ingerência estadunidense e adverte: “O MPF e a SCI não podem permitir isso”.
O repúdio de Aras, no entanto, não era regra entre figuras da política e justiça brasileira. Conforme Bob Fernandes observa, os EUA doaram 2,5 bilhões de dólares à operação liderada por Sergio Moro, que supostamente seriam usados para constituir uma futura fundação de combate à corrupção. O presente, descreve o jornalista, “ilumina bastidores e operadores nem tão ocultos assim da Lava Jato”.
Investigação da Agência Sportlight
Fernandes segue com menção ao texto recentemente publicado pela Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo e republicado aqui, na Diálogos do Sul.
Leia: É oficial! Relatório de viagem de Moro aos EUA comprova “parceria” com FBI na Lava Jato
A matéria expõe relatórios oficiais de uma viagem de Moro aos EUA, entre 17 e 19 de março de 2019, quando se encontrou com altos escalões do FBI. A Sportlight chama atenção para os agradecimentos feitos pelo ex-ministro de Bolsonaro pela atuação da agência de inteligência dos EUA na Lava Jato, o que incluiu o destacamento de uma equipe especial para ficar à disposição do Brasil. Fernandes assevera: “Mesmo se fosse uma cooperação normal, seria desnecessário agradecer”, já que o FBI já atua no Brasil ao menos desde o governo de FHC.
O passeio de Moro nos EUA incluiu também encontros com a CIA, a agência de inteligência estadunidense que grampeou e espionou diversas figuras do governo de Dilma Rousseff, incluindo a própria ex-presidenta. Os acontecimentos demonstram a “capacheza” do ex-juiz, sua rendição total aos interesses de Washington e a influência de pensadores e institutos liberais no Brasil em parceria com a direita e extrema-direita brasileiras, salienta Fernandes.
Sergio Moro (Foto: Lula Marques/Agência PT)
Bob Fernandes: "Triangulação entre Atlas, institutos liberais e dirigentes econômicos desagua na política do Brasil”
Atlas Network e a batalha de ideias
O jornalista caminha para a conclusão da análise apresentando informações do estudo “(Re) pensando a dependência latino-americana: Atlas Network e institutos parceiros no governo Bolsonaro”, escrito pela professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Camila Feix Vidal, e pela doutoranda em Relações Internacionais na mesma universidade, Jahde Lopez.
Segundo o artigo, a Atlas Network, uma organização cuja missão é expandir o ideário liberal pelo planeta, foi fundada em 1981 e possui 470 institutos em 97 países. Apenas na América Latina e Caribe possuem 100 parcerias. O ponto de atenção é que boa parte dos recursos da Atlas vem do DOJ, o mesmo que operou interrogatórios no Brasil junto do FBI.
Leia também: Emparedados: escândalos sobre Dallagnol e Moro podem ser estopim para CPI da Lava Jato
O relatório, abordado por Bob Fernandes, observa ainda que a Atlas Network considerou Jair Bolsonaro uma “vitória”, apesar da “retórica feia”, e que sua equipe econômica, encabeçada pelo ex-ministro Paulo Guedes, obteve grandes feitos, como a Reforma da Previdência – que teria impulsionado um suposto crescimento econômico – e a privatização da Eletrobras.
A Atlas Network deixa evidente sua busca, apontam Vidal e Lopez: “Promover seus dirigentes na esfera política e desse modo influenciar na proposição de legislações”. Tanto é que 14 dirigentes de institutos liberais do Brasil, parceiros da Atlas, ajudaram a formular a Medida Provisória (MP) de Liberdade Econômica, e oito foram parte da equipe de Guedes.
Vale ressaltar também que, entre 1998 e 2018, a Atlas recebeu e distribuiu US$ 19 milhões – equivalente a R$ 700 milhões – a parceiros mundo afora, sendo que US$ 10 milhões foram destinados às América do Sul e Central e desde 2016 a região é a que mais recebe recursos da entidade.
Os apontamentos de Bob Fernandes ajudam a entender como “a triangulação entre Atlas, institutos liberais e dirigentes econômicos desagua na política do Brasil”, uma batalha de ideias que conta ainda com parte da mídia brasileira. Sob o lema da defesa de diferentes pontos de vista, veículos descartam preceitos jornalísticos e dão espaço a líderes de institutos liberais para debater questões econômicas, ainda que suas proposições subjuguem o país perante o imperialismo estadunidense.
Para assistir a análise completa do jornalista Bob Fernandes e conhecer mais detalhes do estudo de Camila Feix Vidal e Jahde Lopez, clique aqui.
Redação | Revista Diálogos do Sul
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