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Lula: "Quem não quer que eu saia é a Globo. Ela poderia mandar o Bial, mas só faço ao vivo"

“Não adianta me tirar daqui, mandar pra casa e colocar uma tornozeleira. Eu quero sair com 100% da minha inocência. Fora disso, esqueçam”
Marco Weissheimer
Sul 21
Porto Alegre

Tradução:

Na entrevista concedida ao Sul21, quarta-feira (3), em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comenta o episódio da prisão de um militar que participava da comitiva de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com 39 quilos de cocaína, em um avião da FAB.

“Investigar isso é papel do Moro e da Polícia Federal, não do general Heleno. Mas eles não estão achando nem o Queiroz”, diz Lula. O ex-presidente também fala da recente decisão do STF que negou mais uma vez a sua liberdade e reafirma sua disposição para provar a sua inocência “100 por cento”:

“Não adianta querer tirar o Lula daqui, mandar ele pra casa e colocar uma tornozeleira no bicho. Eu não quero sair daqui por caridade e minha canela não é canela de pombo. Não aceito tornozeleira. Eu quero sair daqui com 100% da minha inocência. Fora disso, esqueçam”.

“Não adianta me tirar daqui, mandar pra casa e colocar uma tornozeleira. Eu quero sair com 100% da minha inocência. Fora disso, esqueçam”

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Lula: “Quando eu fui eleito eles não quiseram me entrevistar ao vivo?"

Lula questiona também o papel desempenhado pela Rede Globo na sua prisão e, agora, para, segundo ele, inviabilizar a sua libertação: “Não venham me dizer que eu sou contra a Lava Jato. Eu sou contra transformar uma operação de investigação em uma ação política e foi o que fizeram em relação a mim. Eu acho que quem não quer que eu não saia daqui nunca é a Globo. A Globo poderia vir aqui fazer uma entrevista comigo, como você está me entrevistando. Ela poderia mandar o Bial e transmitir ao vivo. Com a Globo, como eu não confio, eu não faço gravando, só ao vivo. Ou poderia mandar o William Bonner e fazer no Jornal Nacional. Quando eu fui eleito eles não quiseram me entrevistar ao vivo?”. 

Primeira parte da entrevista com Lula: “O Moro está se transformando em um boneco de barro”

Sul21O senhor participou de muitas reuniões do G-20 e de outros encontros de cúpula internacionais. Neste último encontro do G-20, houve um episódio que teve grande repercussão internacional, que foi a prisão de um militar brasileiro que acompanhava a comitiva do presidente Bolsonaro, com 39 kg de cocaína. O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, falou desse episódio como uma falta de sorte. Com a experiência que o senhor tem envolvendo os protocolos de segurança em viagens presidenciais, a ocorrência de algo do tipo pode ser associada à falta de sorte?

Lula: O que é preciso perguntar para o general Heleno, aquele que dá murro na mesa quando se trata de falar do Lula, se foi falta de sorte porque acharam. Se não tivessem achado, não teria sido falta de sorte. Eu não sou mesquinho de querer envolver o presidente da República numa coisa dessas, porque o presidente nem sabe quem viaja no SCAV, o avião reserva. O presidente sabe quem são os ministros que viajam com ele. Mas tem uma coisa que não dá para aceitar. A base aérea onde fica o avião presidencial, seja em Brasília, no aeroporto de Congonhas, em Cumbica ou no Rio de Janeiro, é controlada pelos militares. O coronel Joseli, que hoje é ministro do Superior Tribunal Militar, é quem tomava conta do avião durante os oito anos do meu governo. Ele viajava comandando os pilotos e toda a tripulação. Foi no meu governo e no da Dilma. Na base, tem um coronel que toma conta. O avião normalmente é comandado por militares.

“Como é que esse rapaz conseguiu entrar com uma mala com 39 quilos de cocaína sem que ninguém percebesse?” (Foto: Guilherme Santos/Sul21) 

Há uma sala de embarque por onde normalmente entra o presidente da República, a sua esposa e o ajudante de ordens. Há outra sala para os ministros e para todas as outras pessoas que acompanham a viagem. Todos eles têm que chegar antes do presidente nesta sala e as malas deles já chegaram três ou quatro horas antes para serem embarcadas. Como é que esse rapaz conseguiu entrar com uma mala com 39 quilos de cocaína sem que ninguém percebesse? Ele chegou por último? Entrou com a mala na mão e colocou lá dentro? Não é possível. A impressão que tenho é que querem jogar toda a culpa no sargento, mas ele não fez isso sozinho. Qual é o esquema que está por trás dele? Quem facilitou? Quem seria o dono e quem seria o receptor? O povo brasileiro precisa de respostas. Há algum tempo atrás, a Polícia Federal pegou um helicóptero com 400 quilos de coca em Minas Gerais e até hoje ninguém sabe quem é o dono da coca. 

Veja que estou sendo muito objetivo. Não acredito que o atual presidente da República soubesse de alguma coisa porque a gente não sabe direito nem quem vai na parte de trás do avião. Tem o chefe do cerimonial que cuida dos civis e tem os militares. Alguém sabe como é que esse cidadão embarcou.  Investigar isso é papel do Moro e da Polícia Federal, não do general Heleno. Mas eles não estão achando nem o Queiroz…O Queiroz enganou o Ministério Público, a Polícia Federal, está desaparecido, ninguém sabe onde está. Esse mesmo ministro, quando juiz teve a pachorra de mandar a Polícia Federal na minha casa pra pegar a minha família inteira, agora não consegue achar o Queiroz? Até agora não sabe também como um vizinho do Bolsonaro tinha 100 rifles em casa. Um contrabandista, ligado às  milícias e ao Queiroz…Ora, meu deus do céu. Até quando vai se mentir para a sociedade?

Acho engraçado que a Rede Globo de televisão finge que não é com ela. Se ela não puder puxar o saco, falar mal ela não fala. O esforço que eles estão fazendo para fingir que não tem nada de errado e para dizer que, quem está acusando o Moro é contra a luta anti-corrupção, é muito grande. O Ali Kamel deve ser um artista para tentar ficar inventando uma proteção descabida para o Moro neste instante. Todo mundo sabe que o Glenn é um jornalista respeitado no mundo inteiro. Agora querem quebrar o sigilo da renda dele, quando o Moro não tem coragem de mostrar o celular dele. Eles tiveram a coragem de pegar um tablet do meu neto de três anos e ficaram um ano com ele aqui na Polícia Federal. E agora o ministro se recusa a entregar o seu telefone para a Polícia Federal? O Dallagnol também não tem coragem de entregar o celular dele? O que eles têm para esconder? A sociedade brasileira precisa começar a acompanhar tudo isso de perto por que a democracia é um valor incomensurável que a gente não pode perder.

O STF, antes de entrar em recesso, negou mais uma vez, um pedido para a sua libertação e adiou a avaliação de um habeas corpus para o segundo semestre. Após um encontro entre o presidente Bolsonaro e os presidentes da Câmara, do Senado e do STF, noticiou-se que Rodrigo Maia teria dito ao ministro Toffoli que a libertação de Lula impediria a aprovação da Reforma da Previdência. O senhor acha que esse tema vem, de fato, bloqueando a sua libertação?

Eu, às vezes, não quero acreditar no que ouço e no que leio. Você manter um cidadão brasileiro inocente trancafiado, por uma questão política, só é possível em um regime autoritário. Em um regime democrático isso não é possível. Eu adoraria que a Globo me convidasse para um debate com o Moro e o Dallagnol para provar que eles estão mentindo ao meu respeito. Sem nenhum rancor. Só pra dizer que está na hora deles contarem a verdade. Segundo a imprensa, o comandante do Exército ligou para a Suprema Corte fazendo ameaças para não me liberarem. Eu nunca pedi para um ministro da Suprema Corte ou de outra corte qualquer favor pessoal. E não peçam pra conversar sobre assuntos que não são da minha conta. A única coisa que eu quero é que a Suprema Corte brasileira cumpra com as suas obrigações de ser o garantidor da Constituição, que não se preocupe com as manchetes de jornais ou da televisão, mas sim com os autos dos processos para tomar as decisões corretas, punindo as pessoas que merecem ser punidas e beneficiando as pessoas que merecem ser beneficiadas.

“A Globo poderia vir aqui fazer uma entrevista comigo, como você está me entrevistando”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) 

Eu vi ontem no noticiário que o Moro estava muito chateado com os deputados, questionando porque eles não estavam defendendo o Eduardo Cunha ou o Sergio Cabral. Ora, não defendem eles já confessaram que roubaram. O Sérgio Cabral já confessou não sei quantas coisas ilícitas. O Eduardo Cunha também. Por favor, Moro, não misture. Quando você mistura está mentindo. Se quiser falar de mim, fale de mim. Fale que você sabe que o tríplex não é meu, fale que você inventou a história da empresa offshore no Panamá para poder me trazer pra cá. Era sua obsessão me prender desde o tempo do Banestado. 

Que relação é essa com o caso do Banestado?

Gente, a relação do Moro com o Youssef  (doleiro Alberto Youssef) é mais que uma simples delação. Aquilo que foi feito de correto na Lava Jato tem que ser mantido. Quem roubou tem que estar preso. Isso é ponto pacífico. Agora, quem é inocente tem que estar solto. Não dá pra aceitar delação falsificada como essa do Palocci. Eu não sei quantas dessas delações são verdadeiras. O que sei é que, no começo desse processo, muitas pessoas contaram que foram detidas e a primeira coisa que perguntavam era: e o Lula? Você conhece o Lula? A obsessão era tentar chegar até o Lula. Construíram todas as medidas possíveis para chegar a isso. A Polícia Federal contava mentira no inquérito, o promotor contava mentira na acusação, o Moro e o TRF4 aceitavam a mentira e a Globo transformava aquilo em verdade. Colocaram em prática aquela ideia, com a qual nunca concordei, que, para apurar corrupção, você tem que queimar a pessoa perante a opinião pública. Quando você disser que alguém é ladrão na imprensa, não tem mais como absolver.

Já falei uma vez e vou repetir. Se pegarem o Moro, o Dallagnol, TRF4 e todos aqueles que estão me condenando e colocarem em um liquidificador, o que sair como resultado não é honesto como o Lula. A minha briga neste momento, aos 73 anos de idade, com 50 anos de vida política, é provar a minha inocência. Estou afirmando que o Moro e o Dallagnol estão mentindo. Se acertaram num caso, ótimo. Se condenaram alguém corretamente, ótimo. Mas não mintam a meu respeito. Não venham me dizer que eu sou contra a Lava Jato. Eu sou contra transformar uma operação de investigação em uma ação política e foi o que fizeram em relação a mim. A Globo sabe do que estou falando. Aliás, eu acho que quem não quer que eu saia daqui nunca é a Globo.

A Globo poderia vir aqui fazer uma entrevista comigo, como você está me entrevistando. Ela poderia mandar o Bial e transmitir ao vivo. Com a Globo, como eu não confio, eu não faço gravando, só ao vivo. Ou poderia mandar o William Bonner e fazer no Jornal Nacional. Quando eu fui eleito eles não quiseram me entrevistar ao vivo? Poderiam vir aqui, sentar aí e me fazer 20 minutos de perguntas para podermos desmascarar essa gente que foi responsável pelo golpe contra a Dilma Rousseff, que fez com que chegássemos à situação em que estamos hoje e que trabalhou para evitar que eu fosse presidente da República.

Mas eu não vou permitir que o ódio tome conta da minha cabeça. Hoje eu tenho certeza, como a certeza que tenho que Deus existe, que o Moro não dorme direito. Eu tenho certeza que o Dallagnol não dorme direito e que os delegados que me acusaram não dormem direito. Eles sabem que mentiram e que, mais tarde ou mais cedo, essa mentira vai aparecer. Você sabe que mentira tem perna curta. Pode demorar, mas uma hora aparece. Vou continuar brigando por isso. Só aceito a minha inocência. Quando eu sair daqui eu vou processar o Estado brasileiro por danos morais pelos prejuízos que tive. Eles têm noção do que significa um homem honesto, de 73 anos, já estar aqui há um ano e quatro meses? E eles sabendo que sou inocente. Eu ainda tenho esperança na Justiça e vou acreditar, até o último momento, que a verdade vai prevalecer no meu caso. Se isso não acontecer, quem sabe você venha aqui fazer outra entrevista e vou dizer outras coisas que penso e que não é prudente dizer agora.

Não posso admitir passar para a história com uma safadeza. O que estão fazendo comigo é uma canalhice. Não tem outra palavra. É canalhice dos meios de comunicação, é canalhice da Polícia Federal, do Ministério Público. Quando digo Ministério Público e Polícia Federal estou me referindo ao pessoal da Lava Jato, não às instituições. O Poder Judiciário, a Polícia Federal e o Ministério Público sabem que eu respeito as instituições. Agora, ninguém dessas instituições pode se dar ao luxo de querer ser maior do que Deus e de querer trabalhar por conveniência política. Processo tem auto, tem provas. Peguem as provas e digam onde está o crime que cometi.

Eu estou falando do meu caso aqui, mas estou sabendo que o povo brasileiro está numa situação muito pior do que eu. Aquele sonho que a gente tinha de fazer com que esse país se transformasse na quinta economia do mundo – chegamos perto -, de fazer com que o pré-sal fosse transformado em um fundo de desenvolvimento para o futuro do país, de transformar o Brasil em um país que investisse muito em ciência e tecnologia, que cuidasse do meio ambiente, de suas crianças, tudo isso está sendo jogado fora. Somente o povo é que pode recuperar esse país. Temos alguns problemas extraordinários para serem resolvidos. A educação é um deles. A saúde é outro. Temos um governo que não pensa em ser humano, que acredita em fantasias e não fala mais dos problemas sociais do nosso povo. Estamos vendo o PIB cada vez crescer menos, o emprego cada vez crescer menos, menos jovens na universidade e o país virando motivo de gozação no exterior.

“Eu jamais imaginei que o Brasil pudesse entrar na derrocada”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) 

Entre os que vêm trabalhando contra a sua libertação, há quem diga que ela incendiaria o país, como já afirmaram alguns militares. Como vê esse tipo de afirmação e como avalia o papel que poderia desempenhar, uma vez libertado, para ajudar em um processo de redemocratização do país e de enfrentamento da fratura social que vai se aprofundando, com um ambiente de ódio, violência e violação de direitos? 

Eu acho uma piada quando ouço alguém dizer que o Lula não pode sair porque, se for, não aprova a reforma da Previdência, vai criar dificuldade para o Bolsonaro ou vai acontecer tal coisa. O que quero dizer para as pessoas que pensam assim é que, em primeiro lugar, eu preciso sair porque eu sou inocente. Em segundo lugar, enquanto esse coração bater e essa cabeça funcionar eles podem estar certos que estarei na rua defendendo os interesses do povo brasileiro, goste Bolsonaro ou não goste, goste general ou não goste. Não é possível a gente chegar na situação em que está chegando. Eu jamais imaginei que o Brasil pudesse entrar na derrocada. Jamais imaginei que o Departamento de Justiça americano pudesse induzir uma parte do Ministério Público brasileiro, uma parte da Polícia Federal e um juiz para destruir a economia brasileira. Jogar falta de credibilidade na Petrobras para poder desmontar a empresa.

Como é que acontece nos Estados Unidos, na Alemanha ou no Japão? Se uma empresa praticou corrupção, o dono da empresa é preso e ela continua trabalhando. Se não, quem paga o pato, são os trabalhadores. Quem é mandado embora é o trabalhador. Aqui foi feito o contrário. Se você amanhã descobre que a família Marinho roubou qualquer coisa, ou se é verdade que eles estão devendo R$ 600 milhões para a Receita Federal, não tem que quebrar a empresa. Prende o dono, mas mantém a empresa. É assim que deveria funcionar o Brasil.

Eles deram o golpe em 2016 e até hoje eles falam que o desemprego é por conta da Dilma. Depois que tirassem a Dilma, tudo ia melhorar, mas tudo piorou. A economia não funciona porque é o Collor o presidente, ou o Bolsonaro, ou o Fernando Henrique Cardoso. A economia funciona quando os seus agentes – trabalhadores, empresários e investidores percebem que há seriedade na governança, previsibilidade e que o Estado está sendo indutor do desenvolvimento. O Brasil é muito desigual. Durante muito tempo o eixo Rio-São Paulo ganhou muita coisa e o Norte-Nordeste ficou no esquecimento. É preciso haver um tratamento equânime nas regiões brasileiras. Foi isso que fizemos e é por isso que o Brasil deu um salto de qualidade.

Vou citar um exemplo do teu Estado. Passei muito tempo da minha vida ouvindo dizer que a metade sul do Rio Grande do Sul estava fadada a ser uma região morta. Quando resolvemos recuperar a indústria naval brasileira e levamos os estaleiros para Rio Grande, o que aconteceu naquela região? Foi um crescimento estupendo. Chegou a ter mais de 20 mil trabalhadores nos estaleiros. O que aconteceu agora? Desmontaram tudo pra comprar navio de Singapura e da China. E o investimento para gerar emprego no Brasil? E o salário? E a alimentação do povo? Nada disso é levado em conta? Vamos virar importadores de chineses e coreanos? Como é que pode esse país chegar ao ponto que chegou?

O noticiário econômico vem anunciando sucessivas revisões da previsão do desempenho do PIB brasileiro para este ano. Todas para menos. O senhor conhece bem o empresariado brasileiro e estimulou um debate com eles no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Na sua avaliação, eles estão satisfeitos com os rumos que a economia do país vem tomando? 

Quando eu fui eleito presidente, botei na cabeça que eu não podia errar. Eu mirava o exemplo do Lech Walesa, na Polônia, que foi candidato à reeleição é só teve meio por cento dos votos. Em segundo lugar, o Brasil não era meu. Eu que era do Brasil. Eu não queria governar apenas a partir das minhas ideias. Por isso criei o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, reunindo empresários de todos os setores, sindicalistas, pastores da igreja evangélica, bispos da igreja católica, índios, negros, toda a sociedade participava do Conselhão. Ali se discutia assuntos importantes e se formulava propostas. Muitas dessas propostas foram colocadas em prática pelo governo. Nós resolvemos que não tem um único jeito de fazer a economia crescer e era preciso muita diversificação e diversidade de investimentos.

Lembro que eu dizia para o Guido [Mantega] e para o [Henrique] Meirelles quando a gente viajava juntos: vocês falam muito da macroeconomia, mas precisam se dar conta de que o sucesso da economia no Brasil deve-se ao crescimento da microeconomia, É o sem terra poder comprar mais semente e ter mais crédito. É o sem teto poder ter casa e fazer um puxadinho. É a dona de casa poder fazer um empréstimo de 300 reais. Ou seja, é criar condições de espraiar a possibilidade de as pessoas terem acesso a oportunidades e ao dinheiro, além da geração de empregos e do aumento anual do salário mínimo. Não tem nada para gerar mais renda do que isso. Quando criamos o programa Fome Zero, antes de transformá-lo no Bolsa Família, a Rede Globo dizia: por que não investe esse dinheiro em estrada ou faz ponte. Eu não faço ponte porque o povo não come cimento. O povo come feijão, arroz, farinha. Quando esse povo estiver com a barriga cheia ele vai ter força pra fazer ponte, estrada ou o que tiver que fazer. Essas pessoas nunca levaram em conta os milhões de deserdados que há neste país. É só você andar agora nas ruas de São Paulo para ver a quantidade de gente que está morando na rua. Talvez em Porto Alegre esteja acontecendo o mesmo. Não é possível que um país deste tamanho esteja regredindo do que jeito que está.

Se eu sair daqui, eles podem estar certos de uma coisa. Não adianta querer tirar o Lula daqui, mandar ele pra casa e colocar uma tornozeleira no bicho. Eu não quero sair daqui por caridade e minha canela não é canela de pombo. Não aceito tornozeleira. Eu quero sair daqui com 100% da minha inocência. Fora disso, esqueçam. Vou brigar pela minha inocência 100%. A única coisa que posso fazer é ficar de cabeça erguida e lutar. Eu tenho a obrigação de provar para o povo brasileiro que o Moro e o Dallagnol são mentirosos. Tenho a obrigação de provar que aqueles juízes do TRF4 do Rio Grande do Sul mentiram. Não leram o processo e já estão se preparando para me condenar noutro para evitar que eu saia daqui, eu conheço as figuras. Se eles acham que isso vai me curvar ou fazer com que eu fique quietinho, esqueçam. A única coisa que vai me deixar quieto é a minha inocência. Quando eu estiver com a minha inocência provada, eu vou dar trabalho para quem acha que pode fazer o povo de palhaço neste país. Foi assim que eu comecei a minha vida e é assim que vou deixar a minha vida. Lutar até o último batimento do meu coração

Editoria: Política, z_Areazero 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Marco Weissheimer

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