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Maria Conga: a quilombola e heroína que teve busto vandalizado em Magé (RJ)

De princesa no Congo à entidade da Umbanda no Brasil, Maria do Congo teve monumento em sua homenagem inaugurado em 2021
Guilherme Ribeiro
Diálogos do Sul
Bauru (SP)

Tradução:

* Atualizado em 13/02/2023 às 11h17.

Nesta sexta-feira (10), em Magé (RJ), foi realizado o ato “Coroação de Maria Conga”, em protesto ao vandalismo racista e nazista contra o busto de Maria Conga, localizado no Píer da Piedade.

A manifestação, que começou por volta das 9h da manhã, foi convocada por diferentes organizações e quilombos e contou com a presença de moradores da cidade e lideranças, como o Pastor Henrique Vieira e a vereadora Thais Ferreira (PSOL/RJ): “Exigimos que a prefeitura de Magé repare este ataque ao busto de Maria Conga e o Estado responsabilize juridicamente os realizadores da ação”, afirmam em conjunto.


Foto: Mirna Freire

Foto: Mirna Freire

O ato de depredação foi notado na manhã de segunda-feira (6). A placa com o nome e parte da história de Maria Conga foi arrancada e uma suástica nazista foi talhada na escultura.

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A terapeuta integrativa e umbandista Fernanda Maia, que encontrou a peça danificada quando ia apresentá-la ao seu sacerdote, afirmou ao O Globo: “Soa como um lembrete: 'ainda estamos aqui'”. E acrescentou: “A luta ainda não acabou”.

O busto de Maria Conga foi criado pela artista Cristina Febrone e inaugurado em novembro de 2021 como parte de ações do Mês da Consciência Negra de Magé, na Região Metropolitana do Rio.

A prefeitura mageense garantiu a instalação de câmeras para monitorar o local e Anderson Ribeiro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB do município, afirmou que vai pedir a investigação do crime.

De princesa no Congo à entidade da Umbanda no Brasil, Maria do Congo teve monumento em sua homenagem inaugurado em 2021

Foto: Matheus Raymundo
Quilombo fundado por Maria Conga e sinônimo de resistência existe até hoje em Magé




Quilombola, entidade e imortalizada

Nascida em 1792 no Congo, Maria Conga era filha do Rei do Congo, portanto, princesa. Em 1804, ela e sua família foram levados à força para serem escravizados na Bahia. Separados, Maria Conga nunca mais os reencontraria.

No Brasil, foi batizada como Maria da Conceição, conforme o hábito da época de nomear negros escravizados com nomes cristãos. Foi vendida duas vezes a escravagistas, aos 18 e aos 24 anos, antes de conquistar a alforria, aos 35. Aqui, iniciou sua trajetória como líder quilombola.

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Na mata fechada, Maria Conga fundou o quilombo que mais tarde receberia seu nome. O local acolhia escravizados que conseguiam fugir da violência das senzalas. Maria Conga cuidava dos enfermos, realizava partos e solucionava os problemas da comunidade. Lutou até o fim da sua vida por todos aqueles que se tornavam seus filhos ao chegar no quilombo.

Maria Conga nunca foi capturada e morreu aos 90 anos, de velhice, quando uma nova trajetória foi traçada: Vovó Maria Conga, uma entidade brasileira sagrada por defender e lutar pela liberdade de seu povo, imortalizada e cultuada pela Umbanda em forma de Preta Velha. Acredita-se que Maria Conga é atualmente mais conhecida pelos feitos no mundo espiritual do que no plano terreno.

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Em 2020, a Acadêmicos da Rocinha contou a história da heroína da Magé na Marquês de Sapucaí, através do enredo “A guerreira negra que dominou os dois mundos”.

Foto: Mirna Freire

Participaram da convocação do protesto ao vandalismo contra o busto de Maria Conga as seguintes organizações:

Quilombo Maria Conga, Quilombo do Feital, Acquilerj, Centro Espírita São Jorge Guerreiro, Coletivo Guarani, Fórum Climático de Magé, Movimento Negro Unificado (MNU), Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial, Comitê Popular de Lutas- Magé, Frente Estadual pelo Desencarceramento RJ, Comissão de Igualdade Racial e Comissão de Direitos Humanos da OAB Magé-Guapimirim, Rede de Comunidades, Movimento contra a Violência e Instituto Carta Magna da Umbanda.

Guilherme Ribeiro | Jornalista e colaborador na Revista Diálogos do Sul.
Com informações de G1, Uol e Prefeitura de Magé.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Guilherme Ribeiro Jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul.

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