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De “miss Veneno” a “Senhora Queimadas”, Tereza Cristina garante agricultura predatória

Incompetência é tamanha que Operação Militar Verde Brasil, chefiada por Mourão, não conseguiu gastar sequer 1% no combate às queimadas
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que quando deputada era conhecida como “miss veneno”, por defender os venenos utilizados como defensivos agrícolas, diz que o agronegócio não precisa da Amazônia. Não à toa é agora conhecida mundialmente como “senhora queimada”.

Há uma certa lógica nisso que ela diz. As grandes corporações já estão assentadas no campo e aumentam a produção com o uso de tecnologia. 

Uma holding como a São Martinho, por exemplo, uma das maiores produtoras de açúcar do país, consolidada no território paulista com três usinas e uma quarta em Goiás, não precisa da Amazônia. 

A empresa produz álcool e açúcar e bateu recorde de lucro com a safra 2019/20 de R$ 639,01 milhões, quase o dobro da safra anterior.

Incompetência é tamanha que Operação Militar Verde Brasil, chefiada por Mourão, não conseguiu gastar sequer 1% no combate às queimadas

Ministério da Agricultura
Tereza Cristina, que quando deputada era conhecida como “miss veneno”.

Quem é o criminoso que desmata?

Quando olhamos o começo de cada uma dessas grandes corporações, isso se explica. 

A expansão da fronteira agrícola no estado de São Paulo é uma triste história de grilagem, assassinados e genocídio dos povos originários

Uma vez ocupado o território, a violência não cessou. Até hoje há luta de grileiros contra posseiros no Pontal do Paranapanema. Terras que vão de Presidente Prudente até Ourinhos, beirando o rio Paraná. Todas foram griladas.

A ocupação do Norte do Paraná foi a repetição do que fizeram os paulistas. Primeiro para plantar café. Hoje, essas terras foram transformadas em um mar de soja.

História se repete

O que está acontecendo hoje no Centro Oeste, Oeste e na Amazônia legal é grilagem sobre grilagem, é ocupação ilegal de áreas de mananciais que estão pondo em risco as vertentes que alimentam o Pantanal, paraíso ecológico único no mundo e hoje ameaçado.

A zona dos cocais, no Maranhão, bioma único de transição para a floresta amazônica, foi transformada em pasto e monocultura de soja. 

De avião, de São Luiz para Brasília, o que se vê são pequenos rios que alimentam o Araguaia completamente assoreados e zonas que já se parecem com desertos.

No Pará, até mais da metade do século passado, o catador de castanha recebia autorização de cata de tantos quilômetros de frente para o rio Tocantins. E de fundos? O quanto ele alcançasse. 

Mas o catador não ficava só na coleta. Derrubava para vender a madeira. Logo vinham os boiadeiros ou plantadores do que fosse. Os indígenas foram dizimados, os mananciais contaminados pelos garimpeiros. 

Não precisa mesmo?

A devastação é contínua. Em plena gestão do agronegócio, somente em junho, a Amazônia bateu o recorde de queimadas com 2.250 focos de incêndio. 

Como dizer que o agronegócio não precisa e não derruba ou queima a Amazônia? O que faz o general vice-presidente que comanda o projeto de proteção da Amazônia?

A própria ministra da Agricultura, latifundiária que se diz porta-voz do agronegócio, representando o modelo no governo, nada faz e ainda diz que o agronegócio é inocente.

É com a conivência do poder que eles se enriqueceram e conquistaram o poder para seguir saqueado. É habito que vem desde as Capitanias Hereditárias.

Preocupados com a repercussão da predação ecológica lá fora, a Junta Militar criou um programa para mostrar que está atenta ao problema. 

Programa para |inglês ver|, porque aqui ninguém viu. 

A Operação Militar Verde Brasil, chefiada pelo general vice-presidente do governo de ocupação, recebeu R$ 60 milhões pra cuidar do assunto. 

A intenção talvez até tenha sido boa, no entanto, mais uma prova da incompetência: não conseguiram gastar nem 1% dessa verba. Dados oficiais, 0.7%.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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