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ToggleA desestruturação dos órgãos de fiscalização e proteção ambiental promovida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), reforçada pela simpatia do presidente da República pelo garimpo, contribui para deixar áreas intocadas da Floresta Amazônica vulneráveis à invasão de garimpeiros. É o que acontece agora com as regiões do baixo e médio rio Juruá, localizadas no sudoeste do Amazonas, próximo à divisa com o Acre. A presença de uma grande draga navegando pela bacia do Juruá deixa em alerta as comunidades indígenas e ribeirinhas por conta dos elevados impactos sociais e ambientais provocados pelo garimpo.
A movimentação dos garimpeiros acontece no momento em que a Amazônia é alvo das investigações das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
No dia 16 de junho, indígenas do povo Katawxi interceptaram uma draga que navegava pelo rio Andirá, afluente do Juruá. Segundo Djavan Katawxi, liderança da aldeia Lago Grande, os integrantes da embarcação não foram hostis à abordagem, não mostrando resistência ao serem informados de que a região onde estavam era uma unidade de proteção federal, composta pela Floresta Nacional (Flona) Tefé e Reserva Extrativista (Resex) Baixo Juruá.
Apesar da presença de aldeias dos povos Katawxi e Madijá (Kulina), a área não dispõe de terras indígenas oficialmente demarcadas. As aldeias estão todas localizadas dentro da Resex Baixo Juruá. Após a notificação, a tripulação da draga interrompeu a viagem rumo à parte alta do rio Andirá. Todavia, relatos obtidos por fontes da Amazônia Real dão conta que a embarcação se encontra nas proximidades, ancorada no rio Juruá, numa localidade chamada Joanico, no município do Juruá (AM).
Essa é uma situação muito preocupante para nós aqui do baixo Juruá. Essa é uma situação [a presença de garimpeiros] que nunca aconteceu em nossa região. Ninguém sabe como eles entraram no rio e quem deu essa autorização. Eles só falaram que tinham sido autorizados, mas não disseram por quem”, disse Djavan Katawxi, em entrevista à reportagem. Os Karawxi são os responsáveis pelos registros das imagens da draga e de um boletim de ocorrência por presença de garimpo em área da União.
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Conforme outra fonte ouvida pela reportagem, que pediu para manter o anonimato, a draga teria recebido aval do prefeito de Juruá, José Maria Rodrigues da Rocha Júnior, o Dr. Júnior (MDB), para subir o rio Andirá. A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Juruá, mas não obteve sucesso. Na imprensa local, o prefeito nega a acusação e diz que ela foi espalhada por um adversário político do município. Conforme o mesmo relato, outras três dragas estariam navegando rumo ao baixo Juruá.
Foto: Paulo Desana/Amazônia Real
Na imagem acima, draga de garimpo sendo construída na orla de Manaus, algumas delas vão parar em áreas como nos rios Juruá e Javari
Atividade garimpeira é motivo de preocupação
A presença da atividade garimpeira para as comunidades indígenas e ribeirinhas é motivo de grande preocupação. O rio Andirá é a única fonte de água e de pesca para essas comunidades. A presença de dragas explorando o leito do manancial e despejando material poluente coloca em risco a segurança alimentar e hídrica destas populações.
“Nós temos três aldeias do povo Katawxi e uma dos Kulina dentro do rio Andirá. A presença da draga nos preocupou muito, por isso fomos agir para que saísse para não matar os peixes nem contaminar a água e nosso povo ficar doente”, afirmou a liderança da aldeia Lago Grande.
“O impacto maior que o garimpo pode provocar aqui é com a nossa alimentação e a nossa água. Os indígenas aqui não têm acesso à água tratada, de poço, como é na cidade. Depende tudo do rio. Bebemos água do rio, tomamos banho no rio. Nosso peixe vem do rio. Então a nossa preocupação é muito grande”, pondera.
“Nós aqui do baixo e médio Juruá nunca vimos essa situação de garimpo em nossa região. Quando o pessoal me ligou dizendo que estava passando uma draga de minério pelo Andirá, isso foi muito preocupante pra gente.”
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Jovem liderança dos moradores da Flona Tefé, Huefeson Falcão foi um dos primeiros a tornar pública a invasão do baixo e médio Juruá pela atividade garimpeira. Outra atitude foi denunciar a situação para os gestores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio. Para Falcão, que é um dos moradores extrativistas da floresta nacional, o fato de a draga ter deixado o rio Andirá, mas permanecido no Juruá, mostra que eles ainda estão dispostos a garimpar pelo baixo Juruá.
“Eu acho que eles estão dando apenas um tempo, esperando esfriar a situação. Estão esperando uma nova oportunidade de subir. Se eles não tivessem interesse pela região, já teriam descido e voltado para onde vieram”, analisa Falcão. Ele afirma não ter sido possível identificar o local de origem da draga.
“Essa é a primeira vez que vemos essa atuação do garimpo na região e esse é o nosso medo. Se esse processo começar, ele não vai mais querer parar. A gente vê que é assim em outras regiões. O Estado vai lá, faz uma operação, retira as dragas, mas depois volta tudo de novo”, afirma o extrativista. “É um negócio que não vai ter como interromper caso se inicie. Lá é uma área muito preservada, se o garimpo começa não há como ter uma reversão.”
Dias antes da chegada da grande draga, os moradores relataram a presença de lanchas de pessoas de fora navegando o Andirá, além de sobrevoos de pequenas aeronaves.
A Amazônia Real entrou em contato com a assessoria de comunicação do ICMBio para saber quais medidas o instituto adotou ou pretende adotar no caso de dragas nas áreas das duas UCs federais.
Até o momento da publicação desta reportagem não houve envio das respostas.
Fabio Pontes é jornalista acreano, há mais de uma década escrevendo, desde a Amazônia, sobre meio ambiente, povos indígenas e comunidades extrativistas.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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