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Mensagens investigadas pela justiça chilena expõem alterações nos dados da pandemia

Sebastián Piñera, seu ex-ministro de Saúde, Jaime Máñalich e outros dois funcionários são acusados por “quase delito de homicídio e negação de auxílio”
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Uma denúncia criminal apresentada pelo prefeito de um município de Santiago contra o presidente Sebastián Piñera, seu ex-ministro de Saúde, Jaime Máñalich e outros dois funcionários por “quase delito de homicídio, negação de auxílio e abandono de destino”, e que o governo chamou de “querela política”, está se convertendo em pesadelo – outro mais – para a administração na medida em que o Ministério Público aprofunda suas investigações. 

O prefeito de Recoleta, Daniel Jadue, de militância comunista e que nas pesquisas figura como uma dos favoritos para as presidenciais de novembro de 2021, entrou com a acusação em junho pela morte de 62 pessoas em seu município por causa da Covid-19, e em setembro a ampliou para os delitos de “disseminação imprudente de germes patogênicos e falsificação de instrumento público”.

A acusação começou a ser investigada e entre as diligências do Ministério Público foi incluído o pedido de cópia das mensagens relativas à pandemia que trocaram as autoridades até Mañalich perder o cargo em 13 de junho.

Sebastián Piñera, seu ex-ministro de Saúde, Jaime Máñalich e outros dois funcionários são acusados por “quase delito de homicídio e negação de auxílio”

Reprodução: Snl.no
O presidente do Chile Sebastián Piñera.

O governo se negou a entregá-las alegando que se “compromete o acesso e o exame de documento e informação de caráter reservado, cujo conhecimento pode afetar a segurança nacional”, qualificando como “indiscriminada, imprecisa e de um alcance excessivo” a solicitação. Mas o promotor Xavier Armendáriz, que instrui o caso, levou a solicitação à Corte Suprema, onde está sendo debatida. 

Adicionalmente, transcenderam os depoimentos judiciais em que funcionário do Ministério da Saúde (MinSal) dão conta e confirmam que receberam pressões para alterar ou atrasar a atualização das cifras que Máñalich entregava publicamente, o qual previamente cada manhã se reunia com Piñera e que sempre se preocupou em recalcar que todas as decisões eram dadas, tomadas e instruídas pelo presidente.

A presunção é de quantas mensagens podem existir cuja autoria corresponda, envolvam ou compliquem a PIñera em torno ao manejo da crise de saúde.  

Mas os enredos para a administração não ficam por aí, mas somam e se agravam depois da arbitrariedade cometida por um carabineiro na sexta-feira passada, jogando no rio Mapocho, desde uma altura de 7,4 metros um menor de 16 anos que protestava na Praça Dignidade. Essa brutalidade – cujo autor de 22 anos foi expulso da polícia e que enfrenta acusações por tentativa de homicídio de caráter doloso, nas palavras da promotora Ximena Chong, que foi por sua vez ameaçada e assediada por redes e está com proteção -, terminou por fulminar a reputação policial e praticamente ninguém duvida de que o que se impõe é “refundação” e não “reforma”. 

A insistência de Piñera em respaldar os Carabineiros – “junto com lamentar o ocorrido quero expressar nosso profundo respalda à instituição de Carabineiros do Chile que por mandato constitucional tem a função fundamental de proteger a ordem pública e a segurança cidadã”, disse – e sua teimosia em manter no comando o general diretor Mario Rozas, apesar da evidência de sua falta de autoridade e do estado calamitoso institucional, poderiam converter em vítima política o chefe de gabinete e ministro do Interior, Víctor Pérez, que foi acusado constitucionalmente ontem e que, se for aprovada a acusação, perderá o cargo assumido apenas em fins de julho.

Manipulação das cifras

Quanto ao manejo das cifras, sabe-se que existem pelo menos duas testemunhas que apontam para isso. Uma é a epidemiologista Andrea Albagli que trabalhou no MinSal até setembro e que participava da redação dos informe epidemiológicos, a qual declarou que “existiu uma ordem direta do gabinete de Mañalich para manipular a base de dados com o número de personas contagiadas com Covid-19″, além de aportar mensagens nas quais se queixou de forma como se registravam os dados.

A outra é Johanna Acevedo, chefa da Divisão de Planejamento Sanitário, a qual declarou que nos informe epidemiológicos a cifra de contagiado devia “ajustar-se” para encaixar com as comunicadas diariamente pelo ex-ministro Mañalich, cuja equipe fazia uma contagem paralela. 

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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