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Mesmo priorizando saúde, Fernández avança na negociação da dívida em meio à pandemia

Além das pressões de certos setores e uma Argentina polarizada, o presidente navega por esta tormenta com um rumo claro e o faz com uma equipe de primeira
Maylín Vidal
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

Depois de oito meses de receber um país demolido e em default, o presidente argentino Alberto Fernández está dedicado hoje a reconstruir o tecido social em meio a uma rachadura palpável e uma oposição cada vez mais ameaçadora.

Ele teria que dar duro nesta primeira etapa de sua gestão, pela condições que herdou, e sabia que não seria tarefa fácil. Mas, apesar da batata quente que enfrenta, o que nunca imaginou era que mal entrado na Casa Rosada chegaria algo menos esperado: uma pandemia.

Além das pressões de certos setores e uma Argentina polarizada, Fernández navega por esta tormenta com um rumo claro, não lhe treme o pulso para pôr todos os recursos necessários a serviço das pessoas, priorizando a saúde, e também, com muita paciência, avança pelo espinhoso caminho da negociação da dívida.

Além das pressões de certos setores e uma Argentina polarizada, o presidente navega por esta tormenta com um rumo claro e o faz com uma equipe de primeira

Prensa Presidencia
Depois de oito meses de receber um país demolido e em default, Alberto Fernández está dedicado hoje a reconstruir o tecido social.

E o faz com uma equipe de primeira, acompanhada pela vice-presidenta Cristina Fernández e um gabinete no qual cada quem desempenha um papel fundamental, além da colaboração nestes tempos dos 24 governadores, inclusive opositores, algo que ele tem reconhecido em múltiplas ocasiões. 

Afastado da sombra do neoliberalismo, Fernández luta por levantar a economia, com a prioridade de trazer um pouco de alívio aos setor que mais padeceu pelas políticas da gestão anterior e reverter urgentemente a situação, aumentada por um vírus que deixará profundas sequelas por vários anos.

Aquele que fora o chefe de Gabinete de Néstor Kirchner, com seu peculiar estilo equânime, sua arte para dialogar e buscar consensos, implementou uma bateria de iniciativas e medidas nestes quase seis meses de Covid-19 e já trabalha nas que porá em marcha na pós-pandemia. 

Com um investimento de aproximadamente 5,25% do Produto Interno Bruto da Argentina, seu governo sustenta vários planos e outros nascidos sob sua gestão como um contra a fome, que beneficia, milhões de pessoas através de um cartão para comprar todo tipo de alimento. 

Além de congelar os preços dos medicamentos e das tarifas de luz, água e gás, o Executivo também dá um auxílio monetário a pequenas e médias empresas para manter os salários e impedir que muitas fechem, e um apoio econômico batizado como Renda Familiar de Emergência. 

Este último, nas palavras do mandatário, desnudou um sistema frágil que pôs de manifesto a quantidade de argentinos sem trabalho ou precarizados. A pandemia, disse, revelou uma Argentina tampada, silenciosa, esquecida, que descobrimos com este plano ao qual se inscreveram nove milhões de pessoas, muitas que não estavam registradas pelo Estado. 

Não isento de constantes críticas de uma oposição que tem exacerbado a mais rançosa direita, com aqueles que “batem panelas”, bombardeiam com mensagens e saem em marchas rompendo a quarentena, Fernández trabalha sem pausa, põe em marcha novas obras públicas e chama a construir uma nação mais federal. 

Cada medida gera uma resposta da oposição e exemplo disse foi a decisão de intervir na empresa agroexportadora Vicentin, que entrou no fim do ano passado em moratória, apesar de ter tido acesso a milionários créditos estatais durante a gestão Macri. 

A reação não se fez esperar, sobretudo exaltada pelos monopólios midiáticos que continuam desempenhando um papel fundamental. Qualificativos como ação “perigosa, ilegal e inconstitucional”, até vários “alertas”, gerou a decisão de declarar a Vicentin de utilidade pública. 

“Não estamos expropriando uma empresa que funciona maravilhosamente bem. Estamos expropriando uma empresa que entrou em concordata, causada de uma série de manobras das que não vou emitir um julgamento, porque não seu eu quem deve qualificá-las”, expressou em seu momento Fernández.

Finalmente, o mandatário anulou o decreto que dispôs a intervenção da cerealista, criticou a oposição por instalar a ideia de que os integrantes do Governo som “expropriadores em série” e ressaltou que o que buscava era resgatar uma empresa para que servisse ao Estado. 

O que teria sido da Argentina se estivesse ainda governada por Macri? Essa é uma pergunta recorrente de várias pessoas nesta nação que observa a forma como o ex-presidente, desde a Suíça – para onde viajou por compromissos em seu papel de presidente da Fundação FIFA-, estimula as várias marchas registradas nos últimos dias. 

Para o professor, jornalista e pesquisador Héctor Bernardo o contraste entre o governo de Macri – de raiz neoliberal -e o de Fernández – de caráter nacional e popular – é contundente e se torna evidente nas atuais políticas aplicadas nestes tempos de pandemia.

O docente da Universidade de La Plata apontou a Prensa Latina que desde que assumiu em 2015 até o fim de seu mandato em 2019, Macri buscou reduzir o Estado à sua mínima expressão. Exemplo claro disso foi a degradação da pasta de saúde para Secretaria, o que implicava um orçamento muito menor para essa área. 

Destaca que Fernández, ao assumir, devolveu a pasta ao status de Ministério e se preocupou por cuidar do emprego, enquanto Macri sempre buscou favorecer os setores empresariais e ainda pior, os fundos especulativos que não geram trabalho. 

“A prioridade do governo de Cambiemos foi sempre cumprir com os credores externos, enquanto a do atual governo da Frente de Todos é utilizar os recursos para cuidar dos argentinos. Primeiro o povo e depois os credores”, sublinhou Bernardo.

Para o também escritor é indubitável que para o governo de Fernández a prioridade é cuidar de seu povo, muito distante da prioridade macrista que, diz, sempre foi responder aos interesses dos grandes conglomerados econômicos à custa do bem-estar dos argentinos.

Desde a suposta saída em massa de presos dos cárceres, ressaltada em tempos de pandemia e em informações falsas, há constantes campanhas midiáticas ou qualificativos como “governo autoritário”; Fernández coloca tudo na mochila e continua trabalhando para cumprir sua promessa: pôr a Argentina de pé. 

Há poucos dias surpreendeu ao declarar por decreto presidencial como serviços públicos o acesso à telefonia móvel, à Internet e à televisão paga para garantir o acesso a toda a população e congelou os preços até 31 de dezembro de 2020. 

Outro passo não menos importante conseguido foi um acordo com credores estrangeiros com o qual garante sair do default que punha em xeque a Argentina, obrigada a pagar de 2020 a 2025 cerca de 45 bilhões de dólares. Agora começará a negociar com o Fundo Monetário Internacional para chegar a um arranjo sobre a dívida herdada de seu antecessor. 

Nosso governo tem um objetivo muito claro: recuperar o trabalho, a produção e pôr o esforço maior para ajudar os mais necessitados, disse há alguns dias o governante, que luta por levantar-se com um apelo constante à unidade e à necessidade de desterrar uma brecha social que tem sido “muito daninha e perversa para o país”.

*Correspondente de Prensa Latina na Argentina

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Maylín Vidal

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