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Mineradores vivem situação análoga à escravidão

Redação Diálogos do Sul

Tradução:

Jorge Neri e Gleerlei Andrade* 

Para Anízio Teixeira, que articula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metabase Carajás, no Pará, complexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia  Para Anízio Teixeira, que articula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metabase Carajás, no Pará, complexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia

“Nos últimos 14 anos, em que se mantém no poder a mesma direção sindical, os benefícios e direitos anteriores foram fragmentados. Muitos direitos foram vendidos”.

Essa é a visão de Anízio Teixeira, que articula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metabase Carajás, no Pará, maior sindicato mineiro do país. Segundo ele, muitos acordos foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta a CLT e a dignidade humana.
Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Anízio Teixeira fala sobre os graves problemas enfrentados pelos trabalhadores na região e sobre os desafios enfrentados pelos operários que se atreveram a fazer oposição ao sindicato. “Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qualquer movimento de oposição foi demitido sumariamente”, afirma. Segundo ele, a expressão “oposição sindical” é tida como uma afronta às políticas da hoje maior empresa de mineração do mundo, a Cia Vale do Rio Doce.
O Metabase Carajás é o maior sindicato mineiro do país. Com aproximadamente 11.500 operários em sua base, dos quais aproximadamente 4 mil filiados, o Metabase vive um momento decisivo de sua história. Segundo Anízio Teixeira, ou o sindicato mantém-se sob os tacões de um pelego implacável que denuncia e persegue trabalhadores, ou aposta na mudança do que alguns chamam dos ventos “da Primavera de Carajás” que se movimentam de dentro para fora das minas, representada pela Chapa 2.
Brasil de Fato – Qual é a situação dos trabalhadores nas minas na Região de Carajás hoje?
Anízio Teixeira – Nos últimos dez anos, temos vivido uma condição de decadência. Os ganhos reais não são “reais” e a cada dia os direitos básicos dos trabalhadores estão sendo reduzidos, como por exemplo as jornadas de trabalho de 44 horas semanais. No caso do complexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia. Um trabalhador sai para o trabalho às 3h30min da manhã e só retorna às 18 horas para o seu lar, quando realmente encerra sua jornada. O ganho com horas in itinere/dia[i] não passa de uma hora, em média, como compensação. Logo, é uma situação análoga à escravidão de acordo com entendimento da própria Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Qual tem sido o papel do sindicato Metabase na região de Carajás em relação a esta situação?
A história de nosso sindicato tem 27 anos, de muitas lutas e conquistas. Mas nos últimos 14 anos em que se mantém no poder a mesma direção, os benéficos e direitos anteriores foram fragmentados. Muitos direitos foram vendidos. Acordos que foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta à CLT e à dignidade humana. Exemplo disso são as horas in itinere que antes existia com valores maiores, que foram reduzidas e retomadas em 2008 após uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Trabalho, que só começou a ser paga em 2010. Pra ter uma ideia, o direito dos trabalhadores nesta ação garantia pagamento de 96 meses retroativos das horas in itinere, e o sindicato negociou para limitar-se a 42 meses. Um perca irreversível e vergonhosa para os trabalhadores.
O Brasil vive um ciclo de crescimento e expansão de exploração mineral que tem trazido grandes impactos para a Amazônia, o que isso tem a ver com a luta sindical?
Antes de implantar qualquer projeto, seria de bom senso que as empresas minerárias chamassem as entidades de classes e as organizações da sociedade civil para a elaboração de um planejamento que implicasse na preparação e capacitação da mão de obra da região, pois se é verdade que pode haver impactos positivos na economia é preciso medir esses impactos na sociedade em seu entorno, no meio ambiente, que no geral são negativos. Então o sindicato deve estar preocupado com a saúde, lazer, segurança, habitação, transporte e demais direitos sociais que dizem respeito à dignidade humana. Porque o trabalhador não mora nas minas, mora na comunidade.
Como está atualmente o processo eleitoral para a direção do Metabase?
Depois de a Comissão Eleitoral (indicada pela atual direção) ter rejeitada a chapa de oposição, entramos na Justiça, que, através de uma Ação Cautelar, garantiu o direito da Chapa 2 concorrer às eleições. Desta feita, a atual direção marcaria a data das novas eleições, o que até o presente momento não aconteceu. Diante dessa situação, a categoria, ansiosa para participar do processo, tem proposto assembleias para a deliberar sobre a data das eleições, o que deve acontecer nos próximos dias.
Por que é tão difícil construí um movimento de oposição no Metabase?
Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qualquer movimento de oposição foi demitido sumariamente. A expressão “oposição sindical” é tida como uma afronta às políticas da Vale. Foi o que tentaram fazer comigo e com outros companheiros da Chapa 2. Alguns foram coagidos a inclusive pedir a retirada de seus nomes da chapa.
Considerando a grande influência que a Vale tem sobre os sindicatos, é possível uma chapa feita pelos trabalhadores ganhar uma eleição como essa?
Acreditamos que sim. Porque os trabalhadores estão dispostos a participar como fiscais do processo. 80% da categoria nunca votou para eleger uma diretoria de seu sindicato. A categoria saberá definir seu lado. A hora é agora. A categoria quer mudança, quer renovação. Então é Chapa 2.
 
* Da Agência Brasil de Fato – de Parauapebas (PA)
[i] As horas que o trabalhador gasta para chegar ao local de trabalho e retornar a seu lar.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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