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Moeda comum proposta por Lula ao Brics é chave para nova ordem internacional

Iniciativa do presidente brasileiro "é louvável no sentido dos objetivos para os quais o BRICS está orientado", observa professor da UERJ
Lucas Baldez
Sputnik Brasil
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

Em entrevista ao diretor-geral do grupo midiático Rossiya Segodnya, Dmitry Kiselev, nesta quinta-feira (2), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, falou sobre as tensões geopolíticas atuais, o conflito ucraniano e até mesmo as relações da Rússia com o Brasil e a América Latina.

Segundo ele, a eventual criação de uma moeda latino-americana, ventilada a partir da reaproximação entre Brasil e Argentina, teria uma dimensão global. Lavrov comentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive, já propôs discutir a possibilidade no âmbito do BRICS.

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“Os presidentes do Brasil e da Argentina já assuntaram a possiblidade de criação de uma moeda bilateral própria. Depois eles foram além e propuseram uma moeda para todos os países da América Latina e da bacia do Caribe. O mesmo propôs Lula da Silva, discutir no contexto do BRICS. Isso não será uma medida regional, mas sim global”, afirmou Lavrov.

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Para o especialista em relações internacionais Williams Gonçalves, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a discussão sobre uma moeda única latino-americana “é uma questão fundamental” para abrir portas para a criação de uma nova ordem internacional.

Ele lembra que, após a Segunda Guerra Mundial, os acordos de Bretton Woods estabeleceram regras para o sistema monetário internacional que favoreceram os Estados Unidos, ao tornar o dólar a moeda forte e referência do setor financeiro global.

“O uso da moeda é um instrumento fundamental e básico para o exercício da hegemonia”, diz o especialista.

De acordo com Gonçalves, a contestação da ordem internacional atual, sob a hegemonia dos Estados Unidos e de seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), “é um passo importante não só para a região, mas para o mundo se libertar da hegemonia estadunidense”.

“A iniciativa do presidente Lula é louvável no sentido dos objetivos para os quais o BRICS está orientado. Evidentemente essa não é uma questão que se resolva da noite para o dia, mas em algum momento há que se dar o primeiro passo”, aponta o especialista.

Iniciativa do presidente brasileiro "é louvável no sentido dos objetivos para os quais o BRICS está orientado", observa professor da UERJ

Montagem
Putin e Lula

No que diz respeito especificamente à Rússia, o especialista avalia que o governo Lula deverá conduzir as relações com bastante cautela em um primeiro momento, em função do conflito na Ucrânia.

Ele afirma que, mesmo com a diplomacia brasileira tendo consciência da responsabilidade do Ocidente na eclosão da crise, o país deve manter a neutralidade, para resguardar sua posição histórica.

“A diplomacia brasileira terá muita cautela. Em primeiro lugar, apoio à Ucrânia é uma questão fora de cogitação. Naturalmente, isso não passa pela cabeça de ninguém que dirige a diplomacia brasileira hoje. E o que o presidente Lula deverá fazer é aquilo que já anunciou, de sugerir a formação de um grupo para discutir essa questão multilateralmente, fora do âmbito da OTAN”, indica Gonçalves.

Ele aponta a necessidade de construir um grupo de países com representatividade internacional verdadeiramente interessados em promover a paz.

“Esse deverá ser o papel desempenhado pelo presidente Lula. Ele já deu os passos iniciais nesse sentido e já anunciou essa ideia. Se terá êxito, ninguém pode saber, mas é uma ideia bastante promissora em virtude do impasse em que nós nos encontramos hoje”, diz.

A pesquisadora Isabela Gama, especialista em teoria das relações internacionais e BRICS, acredita que as relações entre Brasil e Rússia vão se manter normalizadas no governo Lula.

Segundo ela, é típico da política externa brasileira não se envolver em conflitos, mantendo as relações estratégicas necessárias. Ela diz que o Brasil separa o conflito de relacionamentos em outros âmbitos, como cooperação econômica.

“Não vejo um rompimento ou algo inesperado. Acredito que a política externa do governo Lula vai estar bastante previsível”, afirma a pesquisadora, pós-doutoranda pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).

Segundo ela, é provável que haja uma perspectiva de engajamento cada vez maior no relacionamento entre as duas nações.

“A Rússia precisa de parceiros de peso, afinal está tentando se contrapor ao Ocidente, que tenta definhar a Rússia e também a China como uma grande potência”, disse.

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Gama avalia que este é um momento de “ressurgimento” do Brasil no cenário internacional. Com Lula, ela acredita em um Brasil voltado “à cooperação Sul-Sul, multilateral e ao BRICS”.

“É possível que o peso do Brasil seja bastante significativo, o que não foi nos últimos anos para o BRICS. Teve um relacionamento bastante morno, digamos. Tivemos uma política externa um pouco errática durante o governo [de Jair] Bolsonaro. Com o retorno do Lula como presidente, acredito na tentativa de fortalecimento dos órgãos multilaterais”, aponta.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Lucas Baldez

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