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ToggleFaleceu, nesta quarta-feira (27), abatido pela Covid-19, Juan Carlos Pinto Quintanilla (Juanca), renomado sociólogo, escritor, intelectual e ex-líder guerrilheiro da Bolívia.
No último período, Quintanilla vinha apoiando o governo do Movimento Ao Socialismo (MAS), priorizando a defesa de um projeto nacional de industrialização, com ênfase no lítio, e por meio do aprofundamento da luta política-ideológica e da democratização dos meios de comunicação.
“Estamos perplexos pela perda irreparável deste irmão, expressou o presidente Luis Arce Catacora, para quem Juan Carlos Quintanilla foi “um lutador implacável pela justiça social em favor das grandes maiorias na Bolívia”. “Sua partida deixa um grande legado na trincheira revolucionária. Nossas sentidas condolências à sua família”, destacou.
O ex-presidente Evo Morales disse que recebeu com tristeza a notícia do falecimento de Quintanilla, “um intelectual revolucionário que dedicou sua vida e seu compromisso com o povo”. “Nosso profundo pesar à sua família e à militância que o choram”, acrescentou.
Igualmente solidário, o secretário-geral da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) e ex-embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, Sacha Llorenti, reiterou que Quintanilla foi “um verdadeiro revolucionário que dedicou a vida à construção de uma sociedade mais justa, um intelectual comprometido com o povo, uma pessoa amável e carinhosa”.
Leonardo Wexell Severo
Quintanilla foi diretor-geral de Fortalecimento Cidadão da Vice-Presidência do Estado Plurinacional até 2019
Para o ministro de Governo, Eduardo del Castillo, Quintanilla foi, “um homem que predicou com o exemplo, um revolucionário que sabia que os seres humanos não estão neste mundo para contemplá-lo, mas para transformá-lo”. “Força e serenidade à sua família nestes momentos”, ressaltou.
A ex-ministra da Saúde, Gabriela Montaño, disse não ter palavras neste momento de dor, porque “Juanca Pinto foi um companheiro que sempre pensou no mundo a partir dos homens e mulheres descalços, um lutador social com todas as letras”.
A Defensora do Povo interina, Nadia Cruz, destacou que comunicava a partida do “querido Juanca” com profunda dor em seu coração. “Com sua luta consequente, inabalável e terna, ele nos aponta um caminho a seguir, a construir e não desistir”, enfatizou.
Para o pesquisador e cientista social Porfirio Cochi, “a partida prematura de Quintanilla é uma perda irreparável, pois foi um ser humano sempre solidário, comprometido com as grandes maiorias e consequente com os seus princípios”. Cochi recordou que “neste último golpe de Estado, o de Jeanine Áñez, ele não hesitou em nenhum instante em estar ao lado do povo, combatendo os entreguistas e o servilismo ao imperialismo”.
Trajetória militante
Formado pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Quintanilla retornou à Bolívia em 1985, onde se somou ao Exército Guerrilheiro Tupac Katari (EGTK) junto a Álvaro Garcia Linera, com quem havia estudado os primeiros anos de sua vida em Cochabamba e, posteriormente, convivido no exterior. Por sua militância guerrilheira esteve preso no cárcere de San Pedro durante cinco anos (1992-1997).
Ao concluir seus estudos de sociologia, sua tese sobre o sistema penal intitulada “O cárcere de São Pedro” se esgotou no primeiro mês de publicação. Ao sair da prisão, em 1997, assessorou e coordenou a Pastoral Penitenciária Nacional até 2004, tendo escrito outros quatro livros sobre esta dura realidade, “Cárceres e Família”, “Reforma penal”, “Os cárceres em Bolívia” e “Reflexões livres de um encarcerado”.
Em 2005, foi integrado como responsável de capacitação e difusão da Representação Presidencial para a Assembleia Constituinte (REPAC), ligada à Vice-presidência, quando realizou trabalho de acompanhamento e formação de parlamentares.
Entre 2009 e 2010 coordenou a elaboração da Enciclopédia Histórica Documental do Processo Constituinte boliviano, obra composta por oito volumes que reúne a documentação produzida durante o processo de debate e elaboração da Constituição convertida em referência doutrinária à disposição de juízes, fiscais, investigadores, professores e dos cidadãos.
De março de 2011 até fevereiro de 2015 foi diretor do Serviço Intercultural de Fortalecimento Democrático (SIFDE), ligado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde realizou importantes aportes no âmbito da democracia intercultural.
Infatigável, atuou como diretor-geral de Fortalecimento Cidadão da Vice-Presidência do Estado Plurinacional até o golpe de Estado de 2019.
Contribuição coletiva
Mais do que tudo, Quintanilla era um homem extremamente confiante na força da Humanidade, tendo apontado na pujança do plural o caminho a seguir.
Em entrevista que realizamos pouco antes das eleições de outubro de 2020, o sociólogo reafirmou este compromisso. “Necessitamos que as pessoas entendam que estamos construindo a mudança rumo ao bem-estar familiar e pessoal. Como perspectiva política coletiva. A industrialização dos nossos recursos naturais fundamentais básicos é um objetivo central que defendo, que deve estar à frente no combate da superação de crise que vive não só o país, mas todo o mundo, e o nosso continente em particular. Então, é preciso que as pessoas entendam que não poderemos sair da crise sós. Porque o próprio povo pode nos derrubar se não se sentir envolvido, com todos juntos. E nesse processo coletivo já começa a repolitização, que acompanhe as mudanças e que as pessoas sejam protagonistas”.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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