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Morre na Alemanha Moniz Bandeira

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

O respeitado historiador e cientista político brasileiro Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira faleceu nesta sexta-feira, aos 81 anos, em Heidelberg, na Alemanha, onde residia há alguns anos e era cônsul honorário do Brasil.

Moniz Bandeira foi um dos mais destacados cientistas políticos brasileiros e colaborava com Diálogos do Sul.
Moniz Bandeira foi um dos mais destacados cientistas políticos brasileiros e colaborava com Diálogos do Sul.

Moniz Bandeira, era baiano, de Salvador e um cientista político e historiador de grande expressão internacional. A causa de sua morte ainda não foi divulgada oficialmente, mas pode estar associada a problemas cardíacos ou pulmonares. Há pouco mais de uma semana ele trocou mensagens, via e mail, com o professor João Augusto Rocha, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em que afirmava não estar bem de saúde, sentia pressões no peito e terríveis dores nas pernas devido à polineuropatia. Dado ao sofrimento que as dores lhe provocavam, Moniz Bandeira chegou a considerar a possibilidade de buscar socorro médico, mas, ao sentir melhoras, voltou ao trabalho.
Em declaração ao Portal Vermelho, João Augusto Rocha, cujo livro sobre a morte de Anísio Teixeira seria prefaciado por Moniz Bandeira, afirmou que “perdemos talvez o mais destacado cientista político brasileiro da atualidade, com projeção internacional, em pleno vigor intelectual, perto dos 82 anos de idade. Seu conhecimento sobre o mundo diplomático destaca-se sobretudo pelo extenso e profundo acompanhamento do processo de reciclagem do imperialismo, particularmente em seus ataques sobre o Brasil”. Rocha considera que pouca gente conseguia, tanto quanto Moniz Bandeira, acesso às fontes atualizadas sobre os temas que abordava. O professor da UFBA informou estavam previstos lançamentos de trabalhos seus em Salvador, cuja preparação estava a cargo do Prof. Alfredo da Matta.
O vice-presidente nacional do PCdoB e da União Brasileira dos Escritores (UBE), Walter Sorrentino também falou ao Portal Vermelho sobre  a morte de Moniz Bandeira. “Foi um dos grandes intelectuais brasileiros e será reconhecido por muito tempo pela característica de haver sempre pensado o lugar do Brasil no mundo, sua inserção no mundo. Foi um grande patriota, um democrata, homem de ideias avançadas, que acompanhou de perto a trajetória da esquerda brasileira e das forças progressistas”, afirmou Sorrentino.


Da poesia à ciência política

Moniz Bandeira era especialista em política exterior do Brasil e suas relações internacionais, principalmente com a Argentina e os Estados Unidos. Foi autor de várias obras, publicadas no Brasil e em outros países, inclusive na China, onde suas obras têm tido expressivas edições nos últimos anos. Atualmente encontrava-se radicado na cidade alemã de Heidelberg, onde era cônsul honorário do Brasil.
Em 2015, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura pela União Brasileira de Escritores (UBE), em reconhecimento pelo seu trabalho como “intelectual que vem repensando o Brasil há mais de 50 anos”, segundo o dirigente da UBE, José Maria Botelho.
Em 2016 foi homenageado na sede da União Brasileira de Escritores (UBE), com o grande seminário “80 anos de Moniz Bandeira”, ocasião em que sua extraordinária e abrangente obra foi destacada por importantes personalidades do meio acadêmico, político e diplomático.
Moniz Bandeira, aos dezenove anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde publicou, em 1956, seu primeiro livro, um livro de poemas, intitulado Verticais. Formado em direito, doutorou-se em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, com a tese O papel do Brasil na Bacia do Prata, posteriormente publicada como livro, com o título A expansão do Brasil e formação dos Estados na Bacia do Prata.
Enquanto estudava Direito no Rio de Janeiro, trabalhou em importantes jornais como o: Correio da Manhã e o Diário de Notícias. Aos 25/26 anos, Moniz Bandeira publicou seus primeiros livros de ensaio político, intitulado O 24 de Agosto de Jânio Quadros (1961), sobre a renúncia do presidente Jânio Quadros, e O Caminho da Revolução Brasileira, no qual defendeu a tese de que o Brasil já era um país com uma economia capitalista madura, pois esta a produzir e exportar mais bens industrializados que produtos primários e previu o golpe militar de 1964.
Recebeu inúmeras comendas e homenagens, por todo o mundo, e é Professor Emérito da Universidade Federal da Bahia.
Dentre suas obras, destacam-se:


  • 2016 – A Desordem Mundial. O Espectro da Total Dominação. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 644 pp.
  • 2013 – A Segunda Guerra Fria. Geopolítica e Dimensão Estratégica dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 714 pp.
  • 2009 – Poética. Rio de Janeiro, Editora Record, 144 pp.
  • 2005 – Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 854 pp. Obra traduzida e publicada na China e na Argentina.
  • 2004 – As Relações Perigosas: Brasil-Estados Unidos (De Collor de Mello a Lula). Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 417 pp.
  • 2003 – Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da Tríplice Aliança ao MERCOSUL). Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 920 pp. Obra traduzida e publicada na Argentina.
  • 2000 – O Feudo – A Casa da Torre de Garcia d’Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 601 pp.
  • 1999 – Brasil – Estados Unidos no Contexto da Globalização, vol. II (2ª. revista, aumentada e atualizada de Brasil-Estados Unidos: A Rivalidade Emergente. São Paulo, Editora SENAC, 224 pp.
  • 1998 – De Martí a Fidel – A Revolução Cubana e a América Latina. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 687 pp.
  • ______ Brasil – Estados Unidos no Contexto da Globalização, vol. I (Terceira edição revista de Presença dos Estados Unidos no Brasil – Dois Século de História e Brasil. São Paulo, Editora SENAC, 391 pp.
  • 1995 – Brasil e Alemanha: A Construção do Futuro. Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais / Fundação Alexandre de Gusmão, 697 pp.
  • 1994 – O “Milagre Alemão” e o Desenvolvimento do Brasil – As Relações da Alemanha com o Brasil e a América Latina (1949-1994). São Paulo, Editora Ensaio, 246 pp. Obra traduzida para o alemão: Das Deutsche Wirtschaftswunder und die Brasilien Entwicklung, Frankfurt, Vervuert Verlag, 1995.
  • 1993 – Estado Nacional e Política Internacional na América Latina – O Continente nas Relações Argentina – Brasil. São Paulo, Editora Ensaio, 304 pp; 2ª. ed., 1995, 336 pp. 1995.
  • 1992 – A Reunificação da Alemanha – Do Ideal Socialista ao Socialismo Real – São Paulo, Editora Ensaio, 182 pp. 2ª. ed. revista, aumentada e atualizada, 2001, Editora Global/Editora da Universidade de Brasília, 256 pp.
  • 1989 – Brasil – Estados Unidos : A Rivalidade Emergente – 1955-1980 – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 328 pp; 2ª. ed., São Paulo, Editora SENAC, 1999, 224 pp.
  • 1987 – O Eixo Argentina-Brasil (O Processo de Integração da América Latina) – Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 118 pp.
  • 1985 – O Expansionismo Brasileiro (A Formação dos Estados na Bacia do Prata – Argentina, Uruguai e Paraguai – Da Colonização ao Império) – Rio de Janeiro, Editora Philobiblion, 291 pp. – 2ª . ed., 1995, Editora Ensaio /Editora da Universidade de Brasília, São Paulo, 246 pp. 3ª ed., 1998, Editora Revan/Editora da Universidade de Brasília, Rio de Janeiro, 254.pp.
  • _____ Trabalhismo e Socialismo no Brasil – A Internacional Socialista e a América Latina – São Paulo, Editora Global, 56 pp;
  • 1979 – Brizola e o Trabalhismo – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1ª e 2ª edições, 204 pp.
  • _____ A Renúncia de Jânio Quadros e a Crise Pré-64 – São Paulo, Editora Brasiliense, 180 pp.
  • 1975 – Cartéis e Desnacionalização (A Experiência Brasileira – 1964-1974) – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 207 pp.; 2ª ,1975; 3ª ed., 1979
  • 1977 O Governo João Goulart – As Lutas Sociais no Brasil (1961-1964) – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 186 pp.; 2ª ed. dezembro de 1977, 3ª, 4ª e 5ª ediçõe 1978; 6ª ed. 1983; 7ª ed. revista e aumentada, 320 pp. 2001.
  • 1973 – Presença dos Estados Unidos no Brasil (Dois Séculos de História) – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 470 pp. 2ª ed., 1979; 3ª ed. São Paulo, Editora SENAC 1998, 391 pp.
  • 1967 – O Ano Vermelho – A Revolução Russa e seus Reflexos no Brasil – Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 418 pp.; 2ª ed., Editora Brasiliense, 1980.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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