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Morte de jovem mãe na Costa Rica gera debate sobre alto índice de feminicídio no país

O homicídio de Eva coincidiu com o início da campanha do Inamu #Sou Luz Laranja, que convida à luta contra a violência às mulheres no país
Alejandro Gómez
Prensa Latina
San José

Tradução:

O feminicídio de Eva Morera em 1º de novembro, o mês que o mundo comemora o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, acendeu os alarmes na Costa Rica, empenhada em acabar com as causas que provocam esses lamentáveis fatos. 

Eva, de apenas 19 anos era mãe de um menor de três anos, morreu nas mãos de seu companheiro e é a décima primeira vítima de feminicídio neste ano, uma cifra que embora seja menor que os 26 casos do ano passado, continua preocupando as autoridades, que divulgam campanhas para acabar com a violência contra as mulheres. 

Ao matá-la com um tiro pelas costas, em frente do filho de ambos, seu assassino converteu a criança no 16º órfão deste ano como consequência de um feminicídio. No ano anterior, 19 das assassinadas eram mães e deixaram 34 órfãos. 

O caso de Eva ganhou notoriedade neste país, porque são múltiplas as ações oficiais desenvolvidas principalmente pelo Instituto Nacional das Mulheres (Inamu) e pelo Ministério da Condição da Mulher para visibilizar as condutas que levam os esposos, companheiros e ex-companheiros a acabar com a vida de uma pessoa à qual está vinculado, ou esteve, por laços sentimentais. 

As campanhas visam alertar sobre a necessidade de que tanto as vítimas como as pessoas do seu círculo próximo denunciem a situação de violência que vivem essas pessoas para evitar um desenlace fatal que às vezes, como no caso da jovem de 19 anos, nem sequer se pode evitar. 

A esse respeito, o pai de Eva, Oscar Morera, reconheceu que “durante estes anos, toda a família tinha muito presente que isso ia acontecer, tínhamos pavor de que tivesse esse desenlace. Não é que estivéssemos preparados, mas estávamos conscientes do problema e buscamos a ajuda adequada…, mas o medo que tínhamos se materializou”.

O homicídio de Eva coincidiu com o início da campanha do Inamu #Sou Luz Laranja, que convida à luta contra a violência às mulheres no país

Prensa Latina
Eva, de apenas 19 anos e mãe de um menor de três anos, morreu nas mãos de seu companheiro

 #Sou Luz Laranja

Diante deste lamentável fato, a ministra da Condição da Mulher e presidenta executiva do Inamu, Patricia Mora, apelou à união de esforços para conseguir acabar com as condutas que podem conduzir alguns homens a acabar com a vida de uma mulher. 

“É porque queremos todas vivas e plenas que comprometemos todo o nosso trabalho e todas as nossas energias nessa luta”, declarou. 

O feminicídio de Eva coincidiu com o início da campanha do Inamu #Sou Luz Laranja, que convida as pessoas a se somarem à luta contra a violência às mulheres e meninas na Costa Rica, a propósito do Dia Nacional e Internacional da eliminação da violência contra as mulheres, que se celebra em 25 de novembro. 

Mora afirmou que com esta campanha pretendem trabalhar durante todo o mês de novembro o tema da violência contra mulheres e meninas e a forma de erradicá-la. 

“O chamado à ação desta iniciativa é o conceito: 'Sou Luz Laranja', que significa ser um agente de mudanças, ser uma pessoa que participa na construção de uma vida livre de violência para as mulheres e meninas”. Para o Inamu, a erradicação da violência contra as mulheres e meninas não é só um dever das mulheres. O compromisso deve ser assumido pelos homens, pelo Estado, pelas organizações, pelas empresas e por toda a sociedade. 

A campanha aproveita a cor laranja, cor oficial do 25 de novembro no nível nacional e internacional, para representar o futuro brilhante e livre de violência contra mulheres e meninas. 

Tal foi a repercussão deste feminicídio que a campeã mundial de boxe profissional Yokasta Valle, da Costa Rica, lutou com a venezuelana Yenifer León no passado dia 9, nesta capital, com o nome de Eva em seu cinturão e em declarações posteriores ao seu triunfo declarou que com isso quis transmitir uma forte mensagem. 

“Quando vi a notícia da morte da Eva isso me afetou bastante. Como pode ser que uma jovem de 19 anos, com todo o futuro pela frente, com um filho, tão linda, sofra isso”, contou a boxeadora ao informativo digital crhoy.com.

“Nem uma a mais!”

“Não foi só Eva que sofreu isso, são muitas mulheres mais que estão sofrendo”. Com a frase “nem uma a mais!” Yokasta quer ser representante de todas as mulheres costarriquenhas para que não sofram essa dor. 

“Foi uma mensagem que dei com o coração, Me parece injusto que uma mulher com toda uma vida pela frente tenha terminado dessa maneira”, assegurou e apelou para todas as mulheres da Costa Rica “que não suportem os maus tratos, a violência, e que denunciem”. 

Por outra parte, várias entidades da Costa Rica uniram esforços este mês em uma estratégia itinerante para levar os serviços de atendimento especializado a mulheres vítimas de violência que vivem em distritos e comunidades de difícil acesso. 

As entidades participantes são o Inamu, em conjunto com o Poder Judicial, Instituto Misto de Ajuda Social, Patronato Nacional da Infância, Caixa Costarriquenha do Seguro Social e Conselho Nacional de Pessoas com Incapacidades. 

Consultada a esse respeito, a presidenta executiva do Inamu sustentou que o objetivo da estratégia é ampliar territorialmente a cobertura e tornar acessíveis os serviços da entidade e das demais instituições às mulheres de lugares afastados. 

“Para o Inamu o primordial são as mulheres vítimas de qualquer forma de violência por sua condição de gênero e especialmente aquelas que se encontrem em um risco severo de feminicídio, nessas zonas de difícil acesso onde os serviços são limitados”, explicou  Mora.

A ação cumpre com o decreto executivo de 14 de agosto de 2018 que declara a violência contra as mulheres como um grave problema em todas as suas formas e solicita a efetiva intervenção do Estado por meio das instituições da Administração Central, e forma parte da Política Nacional para o Atendimento e a Prevenção da Violência contra as Mulheres de todas as idades 2017-2032.

A ministra assegurou que “em cada visita estamos brindando um atendimento integral procurando não tornar a vitimizar, resolvendo as consultas em uma primeira instância sempre que possível e dando seguimentos aos casos que estão sendo atendidos”. 

As autoridades esperam com todas essas ações eliminar, ou pelo menos reduzir, o número de feminicídios na Costa Rica, algo que foi conseguido este ano, mas que para sua erradicação – coincidem autoridades e especialistas – se requer muito mais, desde a educação nas casas, eliminando o machismo, até leis mais severas contra aqueles que atentam contra a vida das mulheres. 

Por isso, muitos consideram aqui que Eva não devia ter sido uma a mais. 


*Alejandro Gómez, correspondente de Prensa Latina na Costa Rica.

**Tradução: Beatriz Cannabrava

***Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Alejandro Gómez

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