Conteúdo da página
ToggleA chancelaria argentina demandou ontem ao seu correspondente do Paraguai o esclarecimento e a identificação dos responsáveis pela morte de duas meninas argentinas de onze anos em um suposto “enfrentamento das Forças de Tarefas Conjuntas desse país (FTC) com o chamado Exército do Povo Paraguaio (EPP), ao serem consideradas integrantes deste último”.
Isto aconteceu a 500 quilômetros ao noroeste, em Yby Yahú no estado de Concepción, próximo à fronteira com o Brasil. De acordo com o atestado médico uma das meninas tinha seis impactos de bala e a outra, dois. Foram enterradas rapidamente sem que se conhecesse sua identidade. Parece que colocaram armas com elas para simular um enfrentamento, informaram meios paraguaios.
A chancelaria argentina rechaçou “da maneira mais enérgica as expressões injustificadas do General Héctor Grau como Comandante da FTC”, que acusou a Argentina de se converter em uma “creche de soldados do Exército do Povo Paraguaio”.
O chanceler argentino, Felipe Solá, exigiu o esclarecimento das mortes das meninas cujos nomes eram Lilian Mariana Villalba e María del Carmen Villalba.
O comunicado do governo paraguaio registrou que: “Em um enfrentamento da FTC se teria constatado que foram abatidas duas menores de idade do sexo feminino, e se deixou constância na reclamação que a Promotoria Antissequestros paraguaia lhes atribuiu idades de adolescentes: 15 e 17 anos”.
Por sua vez, um comunicado argentino refutou: “Não é possível aceitar que não tenham advertido, aqueles que foram testemunhas dos fatos sucedidos, a escassa idade das meninas”, além de tachar de “absurdas” as acusações do Paraguai.
Também se fez constar que as autoridades paraguaias solicitaram a cooperação argentina diante da impossibilidade de identificar as vítimas e que, com base em informação recebida desse país, corpos forenses argentinos puderam verificar ao ser consultado o Registro Nacional das Pessoas, que as meninas eram efetivamente argentinas.
Facebook | Reprodução
"As meninas foram agarradas vivas e torturadas", disse a mãe de uma das vítimas
Ocultação de cadáveres
A advogada Daysi Irala, representante das mães das pequenas, que viviam na província argentina de Missiones, fronteiriça com o Paraguai, denunciou que uma juíza paraguaia não permitiu que ela, nem os familiares, nem o cônsul argentino participassem do exame dos cadáveres.
“Uma vez mais estão negando a possibilidade de que os familiares vejam o corpo, porque estão ocultando a barbaridade que cometeram, por isso não nos deixam ver o corpo” e advertiu que “têm medo de que vejam o que fizeram os militares com as meninas, porque inclusive recebemos informação de que foram torturadas selvagemente e que teriam marcas de queimaduras no corpo”, revelou Irala.
Para as autoridades paraguaias o EPP é uma organização terrorista que sequestra com fins extorsivos, mata e semeia o terror usando todos os meios, inclusive o recrutamento de crianças.
Suspeitas de ação dos EUA
Os dirigentes políticos da esquerda paraguaia e jornalistas investigativos nesse país consultados por La Jornada, têm “sérias suspeitas sobre as origens do EPP, como uma criação contra insurgente que foi treinada pelas tropas especiais dos Estados Unidos, que permanecem no Paraguai desde 2005, e que têm imunidade.
O presidente paraguaio, Abdo Benítez, ao expressar sua dor por esta situação, afirmou que as meninas foram expostas “de maneira covarde e irresponsável” pelo EPP.
A Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) assinalou que o ocorrido tem as características de um crime de Estado, e questionou a pressa por enterrar os corpos.
Stella Calloni colaboradora da Diálogos do Sul desde Buenos Aires
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Veja também