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Muito além de Trump: nos EUA, supremacia branca é promovida em escolas e times de futebol

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Instituições religiosas, educacionais, governamentais, econômicas e até times esportivos têm grande colaboração para o fortalecimento dos ideais racistas, diz historiador

Por Amanda Sthephanie Silva e Délis Pessoa (*)
A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, após o primeiro homem negro ter ocupado o posto, motivou diversas manifestações dos chamados supremacistas brancos, como integrantes da KKK (Ku-Kux-Klan) e da Alt-right — a extrema-direita estadunidense.
Joel Plummer, professor de história com ênfase em estudos africanos na Escola de Artes e Ciência da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, considera que “a relutância do presidente Donald Trump de criticar instituições nacionalistas brancas fortalece os grupos supremacistas”. Ele pontua, no entanto, que isso é “irrelevante quando comparado com o resto”, referindo-se às estruturas do país. E complementa: “o que realmente preocupa são as instituições do governo que possuem ideais supremacistas, e disso ninguém reclama”.
Entre tais instituições, estariam as escolas que, na avaliação de Plummer, seriam uma extensão da supremacia branca. Ele explica que estudantes negros, latinos e asiáticos não aprendem a história de seus povos, mas exclusivamente a história de pessoas brancas e, quando as minorias são citadas, são recorrentemente estereotipadas. “Isso é infinitamente mais perigoso que qualquer coisa que o presidente Donald Trump tenha dito ou feito”, opina o historiador.
Racismo institucional
Plummer aponta que instituições religiosas, educacionais, governamentais, econômicas e até times esportivos têm grande colaboração para o fortalecimento dos ideais racistas. “Todos recompensam pessoas de cor por não desafiarem a estrutura de poder branca e punem quem a desafia”, diz.
Como exemplo, ele lembra o caso da partida de futebol americano entre os times Jacksonville Jaguars e Baltimore Ravens, em 24 de setembro. Na ocasião, em protesto contra as polêmicas raciais envolvendo grupos supremacistas brancos, os jogadores negros do Baltimore Ravens se ajoelharam durante o hino nacional. Entre os atletas, estava a ex-estrela do time Ray Lewis, que atuou durante 17 temporadas pelo clube e se aposentou em 2012.
Veja:

Desde 2014 há uma estátua de bronze em homenagem à passagem do jogador pelo clube em frente ao M&T Bank Stadium, casa do Baltimore Ravens, em Maryland. Por causa do protesto durante o hino nacional, a CNN News apurou que mais de 30 mil pessoas assinaram uma petição favorável à remoção da escultura.
O presidente dos Estados Unidos também criticou o protesto e chegou a pedir à liga de futebol americano a demissão dos jogadores envolvidos. ”Se os fãs da NFL não fossem aos jogos até os jogadores pararem de desrespeitar a nossa bandeira e o nosso país, você veria a mudança rapidamente. Demita ou suspenda”, ordenou Donald Trump em sua conta no Twitter.

Para Plummer, é necessário maior envolvimento da população como um todo para combater o crescimento das ideologias que disseminam ódio. “O mal começa a ser propagado quando as pessoas decidem que é função do outro ser a voz da resistência. Todos precisam se ver como os heróis de suas próprias histórias para que possa haver combate às pessoas e, principalmente, às instituições que promovem a supremacia branca”.
O papel das pessoas brancas
A professora do departamento de Sociologia da Universidade Colorado Springs, em Colorado, Abby Ferber, em seu livro “White Man Falling: Race, Gender, and White Supremacy” (A Derrocada do Homem Branco: Raça, Gênero e a Supremacia Branca, em tradução livre), destaca a importância do comprometimento de pessoas brancas com a questão racial.
“Desde que o conceito de raça foi difundido como algo que molda a vida de pessoas de cor, brancos frequentemente falham no reconhecimento das formas que suas próprias vidas são moldadas pela raça”, escreveu.
Plummer concorda com a visão da autora: “Pessoas brancas precisam se posicionar contra os racistas e os privilégios de sua etnia. Essa luta não pode ser só de quem é negro, judeu ou latino”. Ele ressalta que “em algum momento, os brancos precisam se engajar em algum movimento para acabar com a crença de que ter menos melanina em sua pele automaticamente te torna uma pessoa melhor”.
Edição: Vanessa Martina Silva
(*) Produzido para o Diálogos do Sul em parceria por alunos da U. P. Mackenzie. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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