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Mulher e independência na América Latina

Atualmente a história das mulheres nas independências se encontra em um momento de reflexão crítica para entender e avançar no reconhecimento da mulher como sujeito histórico múltiplo e diverso
Revista Diálogos do Sul
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Declaração de Lima – Mulher e independência na América Latina

Afirmamos que na América Latina nossa rebelião e resistência à colonização teve início em 1492

No âmbito do Primeiro Congresso Internacional As Mulheres nos Processos de Independência da América Latina, convocado pelo Centro de Estudos A Mulher na História da América Latina, CEMHAL, com auspício da UNESCO e da Faculdade de Ciências da Comunicação, Turismo e Psicologia da Universidade de San Martin de Porres, constatamos:

Em fins do século XX e inícios do XXI, os estudos sobre as mulheres adquiriram transcendência no campo do conhecimento, em razão das transformações econômicas, sociais, políticas e culturais que, produzidas em âmbito mundial e no avanço das lutas, e a conquista dos direitos políticos, sociais, culturais das mulheres. No marco do Bicentenário da luta contra o sistema colonial, tem impulsado o reconhecimento da participação das mulheres nos processos de Independência e obriga a repensar nossa história com vistas ao fortalecimento, transformação e conquista de democracias paritárias e sem desigualdades.

Atualmente a história das mulheres nas independências se encontra em um momento de reflexão crítica para entender, pesquisar, teorizar e avançar no conhecimento e reconhecimento da mulher como sujeito histórico múltiplo e diverso.

É necessário renovar os olhares para o passado independentista com vistas a estabelecer um diálogo entre historiografias regionais e/ou nacionais.

As pesquisas mostram o esforço por fazer das mulheres o centro do comedimento em cada disciplina, bem como o aproximação de métodos e interpretações interdisciplinares e enfoques que diluam as fronteiras entre a história, a crítica literária, a antropologia cultural, a sociologia, a semiótica ou a história da arte, com um enfoque de gênero intercultural e interseccional.

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A historiografia das mulheres nas independências tornou-as visíveis como agentes históricos, o que está contribuindo a transformar de forma consistente o conhecimento dos processos independentistas e da história em geral.

A exclusão de gênero foi se sedimentando ao longo da história, ocultando as ações empreendidas pelas mulheres que significaram em boa medida a humanização da política de Estado.

Encontramos importantes as similitudes entre os países da América Latina, onde se silencia a memória das insurreições indígenas que tiveram início com a conquista. A expressão mais dramática da exclusão concerne às mulheres indígenas e afrodescendentes.

Reafirmamos a Declaração Mundial sobre Educação Superior da UNESCO (1998), que em seu artigo 1, inciso d, aponta os compromissos para compreender, interpretar, preservar, fomentar e difundir as culturas nacionais, regionais e internacionais e históricas num contexto de pluralismo e diversidade cultural.

Ao mesmo tempo, o Consenso de Quito da CEPAL (2007) chama à desenvolver programas integrais de educação pública não sexista, encaminhados a enfrentar estereótipos de gênero, raça e outros ranços culturais contra as mulheres.

Destacamos que um dos Objetivos das Metas do Milênio é alcançar a universidade do ensino primário para 2015, ante um tipo de ensino sexista e patriarcal que persiste nos sistemas educativos.

Afirmando-nos na Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher que em seu artigo 10 assevera que os Estados adotarão todas as medidas necessárias para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na educação em condições de igualdade. A eliminação de conceitos estereotipados dos papeis masculino  e feminino em todos os níveis educativos através do estímulo da educação mista e de outro tipo de educação que contribua a alcançar este objetivo e, em particular, na modificação dos livros e programas escolares.

Propomos:

  1. Que é prioridade conhecer, compreender e volorizar a recuperação das mulheres como sujeitos e agentes históricos;
  2. Transcender as representações das histórias nacionais que se posicionam em um discurso nacionalista que diferencia, distancia e configura alteridades sobre a base de uma suposta identidade nacional;
  3. Difundir os avanços das pesquisas sobre a história das mulheres e de gênero no nível do sistema educativo a fim de incorporar as mulheres como sujeitos nos processos históricos;
  4. Promover a criação de redes de pesquisa que estudem a participação feminina nos processos revolucionários ocorridos no âmbito regional na contemporaneidade;
  5. Capacitar os corpos docentes no conhecimento e métodos de ensino da história das mulheres e das relações de gênero;
  6. Promover a catalogação, conservação e acessibilidade das fontes da historia das mulheres nos Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação;
  7. Modificar o espaço de preservação nas salas de arte, história e antropologia dos museus de América Latina, com o objetivo de visualizar as mulheres que tem contribuído em todos os âmbitos para forjar nossos países;
  8. Desenvolver a história intercultural das mulheres e nossos povos indígenas amazônicos e afrodescendentes;
  9. Comprometer os governos e instituições públicas e privadas na criação de políticas favoráveis à educação, formação e pesquisa sobre a história das mulheres;

10. Utilizar uma linguagem não sexista e inclusiva para tornar visíveis as mulheres em todas suas formas de expressão, elaborando discursos igualitários e justos.

Lima, 23 de agosto, 2013 


Sara Beatriz Guardia – Presidenta Primer Congreso Internacional Las Mujeres en los Procesos de Independencia de América Latina. Lima-Perú.


Pablo Macera – Diretor Fundador do Seminario de Historia Rural Andina. Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Lima-Perú.


Edgar Montiel – UNESCO


Ruth Shady – Chefa da Zona Caral. Ministerio de Cultura del Perú. Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Lima-Perú.


Humberto Mata – Diretor Biblioteca Ayacucho. Venezuela.


Raúl Fornet -Betancourt – Universidade de Bremen, Alemanha.


Claudia Rosas Lauro – Pontifícia Universidade Católica do Perú. Lima-Perú.


Edda O. Samudio A – Universidad de los Andes, Venezuela.


Lucia Provencio – Universidad de Murcia. España.


Berta Wexler – Universidad Nacional Rosario. Argentina


Diana Miloslavich – Centro Flora Tristán. Lima-Perú.


Mirla Alcibíades. – Caracas, Venezuela.


Lia Faria. – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.


Losandro Antonio Tedeschi – Universidade Federal da Grande Dourados. Brasil.


Lucía Lionetti – Universidad Nacional de Centro. Argentina.


Natividad Gutiérrez Chong – Universidad Autónoma de México. México.


Carmen Simón Palmer – Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), España.


Mary G. Berg – Brandeis University, Waltham, MA, Estados Unidos.


Dina Picotti – Universidad Sarmiento. Buenos Aires, Argentina.


Ana García Chichester – Universidad de Mary Washington. Estados Unidos.


Fanny Arango-Keeth – Mansfield University of Pennsylvania. Estados Unidos.


Marta Raquel Zabaleta – Professora Visitante de Middlesex University, Londres, UK.


Adelia Miglievich Ferreira – Universidad Federal do Espirito Santo, Brasil.


Rocío Ferreira – De Paul  University, Chicago. Estados Unidos.


Teodoro Hampe Martínez – Instituto Panamericano de Geografía e Historia. Perú 


Suely Reis Pinheiro – Universidade Federal Fluminense, Río de Janeiro. Brasil. Revista Hispanista. Brasil.


Claudia Luna – Universidade Federal de Río de Janeiro (UFRJ), Brasil.


Adriana Sáenz Valadez – Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo. México.


María Ramírez Delgado – Biblioteca Ayacucho. Venezuela.


Ana Silvia Monzón – Maestría en Estudios de Género y Feminismos FLACSO-sede Guatemala.


Patrícia Martínez i Àlvarez – Universitat de Barcelona, España.


Susanna Regazzoni – Universidad Ca´Foscari Venezia, Italia.


Nanda Leonardini – Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Lima – Perú.


Esther Aillón Soria – Universidad Mayor San Andrés. La Paz – Bolivia.


Catherine Davies – Universidade de Nottingham. UK.


Patricia Sánchez – Universidad Nacional de San Juan, Argentina.


Lady Rojas Benavente – Concordia University. Canadá.


Liliana Fort Chávez – Universidad Autónoma Metropolitana, México.


Adriana Micale – Universidad de Congreso. Mendoza. Argentina.


Vanesa Miseres – University of Notre Dame, Estados Unidos.


Rosa Mª Gutiérrez García – Universidad Autónoma Nuevo León, México.


Vittorio Lo Bianco = Universidade do Estado de Rio de Janeiro, Brasil.


Leonardo Nolasco Silva – Universidade do Estado de Rio de Janeiro. Brasil.


Carlos Hurtado – Universidad Nacional de Trujillo, Perú.


Marlene Montes de Sommer – Universidade de Kassel, Alemania.


Anarella Vélez – Universidade Autónoma de Honduras. Honduras.


Ana María Agudelo Ochoa – Universidad de Antioquia, Colombia.


Cintia Inés de Agosti – Macquarie University, Sydney, Australia.


Gabriela Gresores – Universidad Nacional de Salta / Universidad de Buenos Aires. Argentina.


Beatriz Bruce – Universidad Nacional de Jujuy. Argentina.


Marcela Vilela – Universidad de Buenos Aires. Argentina.


Sônia Maria da Silva Araújo – Universidade Federal do Pará (UFPA). Brasil


Adriane Raquel Santana de Lima – Universidade Federal do Pará (UFPA). Brasil.


João Colares da Mota Neto – Universidade do Estado do Pará. Brasil.


Ana Paula Medicci – Universidad Federal de Bahía. Brasil.


Cristina Monteiro de Luna Andrade – Universidade do Estado de Bahia. Brasil.


Rocío del Aguila – University of Calgary, Canadá.


Ana Serrano Galvis – El Colegio de México. México.


Cecilia Inostroza Delgado – Universidad de Concepción, Chile.


Regina Simon da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil.


Guadalupe Chávez González – Universidade Autónoma de Nuevo León. México.


Joyce Andrea Contreras – Pontificia Universidad Católica de Valparaíso. Chile.


Damaris Elizabeth Landeros – Pontificia Universidad Católica de Valparaíso. Chile.


Nora Deveaux Cabrera – Universidad Nacional Autónoma de México. México.


Jacqueline Sarmiento – Universidad Nacional de La Plata. Argentina.


Ludivina Cantú Ortiz – Universidad Autónoma Nuevo León, México.


Ebert Cardoza Sáez – Universidad de Los Andes. Venezuela.


Juliana Wülfing – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Brasil.


Romina Soledad Coronello – Universidad Nacional de Mar de Plata. Argentina.


Eliana Ramos Ferreira – Universidade Federal do Pará, Brasil.


Carmen Gloria Soto Gutiérrez – Universidad de Chile. Chile.


Priscila Primo Nascimento – Laboratorio Educação e República LER/UERJ, Brasil


Fernando Baez Lira – Universidad Autónoma de Puebla. México.


Ángela Pérez-Villa – Universidad de Michigan, Ann Arbor. Estados Unidos.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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