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Mulheres: Cada coisa com seu nome

Carolina Vásquez Araya

Tradução:

Um dos maiores obstáculos para o combate da violência contra meninas, adolescentes e mulheres adultas é um vazio conceitual cuja dimensão supera em muito qualquer esforço por desenvolver uma sociedade igualitária. A contraofensiva ante as denúncias de violência de gênero se apoiam em argumentos como “os homens também sofrem violência”, equivalente a comparar duas realidades opostas, uma das quais se sustenta em um poder da masculinidade estabelecido através dos tempos e perpetuado quase intacto nas sociedades modernas.

Carolina Vázquez Araya*
carolina-vasquez-arayaMas é preciso colocar isso em termos muito mais simples, se desejamos permear essa resistência à aceitação do fenômeno. Em primeiro lugar, explicar por que os homens não sofrem violência de gênero. A definição desse tipo de violência deveria ser suficiente para esclarecer o conceito, mas é melhor detalhar e obter um panorama mais amplo, remetendo-nos à própria geração do tratamento diferenciado entre homens e mulheres. Isto é, o exato momento em que se marca a escala de valor: a perspectiva do sexo do não nascido.
160311_violencia2Em todas as civilizações antigas e modernas ante o nascimento de um novo membro da família, tende-se a favorecer o gênero dominante, ou seja, o masculino.  Durante o processo de criação no núcleo familiar, os meninos são inscritos em um status superior de autoridade e privilégios em comparação com suas irmãs, o que reflete como um espelho as relações do casal. O homem deve ser provedor, protetor e independente. A mulher deve ser obediente (mandato dado desde a cerimônia nupcial) e dependente da autoridade masculina. Seu papel é limitado a servir e dedicar-se à criação de seus filhos.
É aí, nesse preciso instante, que se plasma o modelo de violência e discriminação que perdurará durante o crescimento e o desenvolvimento da personalidade. É a convicção da superioridade impressa em um gênero, contrastada com a inferioridade do outro. A mulher dócil, submissa e obediente será o protótipo do feminino, enquanto o homem forte, agressivo e dominante será a contra parte masculina em um modelo supostamente ideal.
Esta maneira de marcar papéis não apenas constitui uma limitação evidente no desenvolvimento das meninas; também encerra os meninos numa camisa de força muitas vezes contrária à sua natural evolução, transformando ambos em seres incompletos e frustrados.
A violência, então, termina por ser uma forma quase inevitável de expressão induzida pela visão limitada estabelecida por estereótipos sociais e culturais de como devem ser e manifestar-se as relações entre ambos os sexos, assim como a maneira “correta” de definir suas características. Então, o domínio de um gênero sobre outro se manifesta sem mais limites que os impostos pela forma de criação, pela educação e pelo autocontrole. As leis, geralmente, têm sido tão permissivas ante a violência de gênero como a sociedade na qual se desenvolvem essas relações.
A única maneira de reduzir a violência de gênero, portanto, reside em um esforço legal e educativo enfocado neste fenômeno cuja dimensão, precisamente por ser natural à cultura imperante, passa inadvertido para a maioria. A igualdade de direitos é muito mais do que uma parte do discurso correto. É uma mudança de mentalidade e um compromisso incondicional de respeitá-la em todos os aspectos da vida. É compreendê-la em toda a sua enorme complexidade.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, da Cidade da Guatemala


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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