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Efemérides: Na data que marca o fim da 1ª Guerra Mundial, muito pouco que comemorar

Após o fim dos sangrentos combates, a humanidade descobriu a amplitude das tragédias e feridas que o ardor combatente havia ocultado
Jorge Rendón

Tradução:

Nota da Redação:

Sim, não se podia deixar que passassem despercebidas as comemorações transcorridas na Europa pelo fim da 1ª Guerra Mundial. Nós questionamos se o Tratado de País foi um término ou se foi um armistício de uma guerra que nunca se acaba.

Essa guerra teria sido terminada se os países confrontantes tivessem sido desarmados material e espiritualmente. Mas o que houve foi uma corrida armamentista e o fortalecimento de uma Alemanha raivosa, com sede para vingar a humilhação sofrida.

Não demorou nem 20 anos para o que o fogo fosse aceso de novo e multiplicasse quase por quatro o número de vítimas a ser sepultadas. O que foi firmado em Yalta, em 1945, teria sido nada mais do que um cessar fogo temporário?  Passado um século da 1ª guerra e mais de 60 anos da 2ª, a Europa é um conjunto de nações ocupadas militarmente.

Que paz é essa? A paz da sepultura dos que se rebelam contra o status quo. Quantas guerras houve desde 1945 até hoje? Coréia, Vietnã, Kosovo, Afeganistão, Iraque, Líbia… e por acaso não é guerra o que ocorre na Síria ou no Iêmen? Assim que, para nós, é uma grande hipocrisia comemorar uma paz que o mundo nunca conheceu.

Após o fim dos sangrentos combates, a humanidade descobriu a amplitude das tragédias e feridas que o ardor combatente havia ocultado

Portal Varada
Soldados alemães marcham sobre Chalons em Champagne, leste da França, em setembro de 1915

No domingo, 11 de novembro, em toda a França: nas cidades e nos povoados, quase toda a população esteve nas ruas para recordar outro 11 de novembro, de há cem anos, quando em um vagão de trem, estacionado em Amiens, ao norte de Paris, foi firmado o armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, depois de quatro anos de uma atroz carnificina que deixou uns 17 milhões de mortos.

Em Paris, às 10 da manhã, mais de 70 chefes de Estado se reuniram em frente ao Arco do Triunfo, convocados pelo presidente Emmanuel Macron, que pronunciou um discurso cujos primeiros parágrafos, que traduzo, foram os seguintes:

Dois soldados, lado a lado, prestam continência a Macron, que está em frente.

“No dia 7 de novembro de 1918, quando o cabo corneteiro Pierre Sellier tocou o primeiro anúncio de cessar fogo, lá pelas 10 de manhã, muitos homens não podiam acreditar; saíram lentamente de suas posições, enquanto, ao longe, nas linhas de combate, outros clarins repetiam essa ordem, fazendo com que até os mortos escutassem suas notas, antes que os sinos difundissem a notícia em todo o país. 

No dia 11 de novembro de 1918, às 11 de manhã, há cem anos, dia por dia, hora por hora, em Paris e em todo o resto da França, os clarins soaram, bem como os sinos de todas as igrejas.

Era o armistício. O fim de quatro longos e terríveis anos de combates.  O armistício não era, no entanto, a paz, y no Leste continuou a espantosa guerra durante muitos anos.

Aqui, neste mesmo dia, os franceses e seus aliados celebraram a vitória. Tinham lutado por sua pátria e pela liberdade. Haviam feito para isso todos os sacrifícios e sofrimentos, haviam conhecido um inferno que ninguém pode imaginar.

[…]

O mundo descobriu a amplitude das feridas que o ardor combatente havia ocultado.  Às lágrimas do que agonizavam sucederam as dos sobreviventes, já que no solo da França o mundo inteiro tinha vindo combater; jovens de todas as províncias e de ultramar, da África, do Pacífico, das Américas e da Ásia vieram morrer em povoados de que não conheciam nem o nome.

[…]”.

Macron terminou seu discurso, exortando seus convidados, entre os quais estavam Donald Trump e Vladimir Putin, a não ceder ante as sereias do nacionalismo e privilegiar a cooperação multilateral, seja no seio da União Europeia ou nas Nações Unidas. 

“Somemos nossas esperanças – disse – em lugar de enfrentar nossos temores”. 

Nas paredes de todas as prefeituras da França, das universidades e de outras instituições se encontram gravados os nomes dos homens que morreram pela França nessa guerra, que não foi “la drôle de guerre”.

Aos meus queridos amigos franceses que tiveram a amabilidade de me enviar este discurso, eu lhes respondi: 

“Essa morte galopante, com dezessete milhões de sepulturas cavadas em toda a Europa à sua passagem, foi desencadeada por alguns, como o que fizeram depois Hitler e seu bando. É lamentável que a alegria da paz recordada oficialmente não tenha deixado um instante para dizer e recordar também os que se opuseram a ela.  O que acontece com Putin e os seus que se lançaram a outra corrida de rearmamento nuclear, diante de um Trump que ameaça romper o tratado de não proliferação de armas nucleares, subscrito entre seus países no início dos anos oitenta do século passado? 

Compartilhamos vossa alegria, um pouco tristes na realidade, neste centenário. 

Obrigado por ter-nos dado a conhecer essa mensagem.”

*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru

**Tradução: Beatriz Cannabrava

***Revisão e Edição: João Baptista Pimentel Neto


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Jorge Rendón Doutor em Direito pela Universidade Nacional Mayor de San Marcos e doutor em lei pela Université de Paris I (Sorbonne)

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