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CIA espionou comunicações no Brasil e em mais de 120 países do mundo

Governos estrangeiros pagavam a empresa suiça Crypto AG pelo privilégio de ter suas comunicações mais secretas monitoradas pelas agências de inteligência
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Durante meio século até 2018, mais de 120 governos ao redor do mundo, incluindo o México, confiavam em uma única empresa suíça para manter secretas as comunicações com seus espiões, militares, diplomatas e outros governos, mas nenhum sabia que os donos reais dessa empresa eram a CIA e sua contraparte alemã BND, revelou o Washington Post.

A empresa, Crypto AG, se converteu no principal fabricante de máquinas de cifrado, e ganhou milhões de dólares vendendo o equipamento a governos na Europa, nas Américas, na Ásia e na África. O Vaticano e a Organização das Nações Unidas também eram clientes.

“Mas o que nenhum de seus clientes jamais soube é que a Crypto AG era secretamente propriedade da CIA” e sua sócia a inteligência da Alemanha ocidental, revelou o Post em uma reportagem exclusiva em colaboração com ZDF, um meio alemão, os quais tiveram acesso a uma história classificada da CIA e informes alemães sobre a operação, bem como entrevistas com alguns dos participantes.


“Foi o logro de inteligência do século”, conclui o informe da CIA, agregando que “governos estrangeiros pagavam um bom dinheiro aos Estados Unidos e à Alemanha Ocidental pelo privilégio de ter suas comunicações mais secretas lidas por pelo menos dois (e possivelmente até cinco ou seis) países estrangeiros”, reporta o Post.

Governos estrangeiros pagavam a empresa suiça Crypto AG pelo privilégio de ter suas comunicações mais secretas monitoradas pelas agências de inteligência

Cripto AG
O que nenhum de seus clientes jamais soube é que a Crypto AG era secretamente propriedade da CIA

Desde 1970 até 2018, a CIA e a Agência de Segurança Nacional (NSA), controlaram todas as operações da Crypto, sem o conhecimento de seus clientes, e de quase todos os seus funcionários. 

A evolução dos produtos e a adaptação de novas tecnologias, estavam desenhadas para trair seus compradores. A empresa começou a funcionar durante a Segunda Guerra Mundial sob o comando de seu fundador na Suíça, o qual colaborou com a inteligência estadunidense e europeia, mas foi em 1970 que foi comprada pela CIA e sua contraparte alemã. Algumas empresas, como Siemens e Motorola participaram para melhorar os produtos.

Com isso, a CIA e a NSA estavam monitorando comunicações de Anwar El Sadat em 1978, dos iranianos em 1979, como de outros desde a Arábia Saudita à Coreia do Sul, desde a Argentina, à Venezuela, Colômbia, México e Brasil.

A reportagem aborda a forma como foi manejada a empresa para evitar que seus funcionários ficassem sabendo da relação com as agências de inteligência, das disputas burocráticas entre e dentro dos Estados Unidos e Alemanha, como o tipo de informação que se conseguiu obter. Leia esta reportagem clicando AQUI.

O National Security Archive, centro de investigações de relações exteriores e documentação oficial secreta, disse hoje que a reportagem do Post confirma que entre os países que empregaram as máquinas da Crypto para suas comunicações secretas estão os regimes militares da Operação Condor encabeçada pelo Chile, Argentina e Uruguai quando “realizavam atos de repressão e terrorismo regionais e internacionais contra figuras da oposição”. 

Com o uso dos instrumentos da Crypto, a CIA e a NSA tinham a capacidade de monitorar operações golpistas e de repressão dentro do Cone Sul, até atos terroristas como o assassinato de Orlando Letelier em Washington ou a derrubada do avião da Cubana de Aviación em 1976. Portanto, afirma o Arquivo, a reportagem gera novas interrogantes sobre quando e o que sabia o governo estadunidense sobre essas operações na América Latina. 

O arquivo observa que documentos desclassificados pelo centro revelaram anteriormente que, na começo formal da Operação Condor, por seus cinco regimes, em 1975, se chegou a um acordo para se estabelecer um sistema de criptografia que foi batizado como Condortel. O equipamento para essa rede de comunicação veio da Crypto AG.

Para acessar outros documentos clique AQUI.

*David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York, EUA.

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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