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Apesar de proliferação do coronavírus, disputa entre Sanders e Biden continua nos EUA

O Partido Democrata anunciou que não haverá público no debate programado para o próximo domingo em Phoenix entre os dois candidatos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Os dois competidores para a nomeação democrata, Bernie Sanders com sua proposta para uma mudança progressista, e Joe Biden com seu convite a um retorno à “normalidade” pré-trumpiana, batalharam nas primárias em seus estados realizadas em meio a crescente alarme e caos econômico provocado pelo coronavírus – de fato ambos cancelaram seus eventos esta noite por causa da praga que agora contagia a pugna eleitoral.

Fato que pôs em xeque a campanha de Sanders, foi o triunfo de Biden em Michigan, o prêmio maior do dia por seus 125 delegados, segundo as projeções. O ex-vice-presidente também ganhou em Mississippi, Missouri e Idaho.

Sanders havia investido a maior a atenção e recursos para ganhar em Michigan – estado no qual surpreendeu Hillary Clinton em 2016 – mas apesar de um esmagador apoio como sempre entre os jovens e setores progressistas, isso não foi suficiente. Agora alguns analistas especulam que sua derrota aí poderia marcar o princípio do fim da campanha do senador democrático socialista.

Para os democratas, Michigan é chave, pois foi um de três estados – com Pennsylvania e Wisconsin- que selaram o triunfo eleitoral de Donald Trump em 2016 por uma margem de menos de 80 mil votos.

O estado de Washington era o segundo mais importante desta rodada (89 delegados), onde Sanders também ganhou em 2016 e onde esta noite estava ganhando na contagem parcial, como também em Dakota do Norte.  

Para Sanders foi uma noite decepcionante e anunciou que não faria comentários – pela primeira vez em uma noite eleitoral – ao concluir a jornada depois de conhecer os resultados em Michigan.  Com seus triunfos de hoje, Biden consolidou ainda mais sua vantagem sobre Sanders e com isso se intensificou a pressão sobre Sanders para pensar em ceder seu lugar na nominação. 

No entanto, mais da metade de todos os estados ainda não votaram nas primárias, e nenhum candidato acumulou nem a metade dos 1.991 delegados necessários para ser nominado. A próxima rodada de primárias está programada para a próxima terça-feira na Flórida, Arizona, Illinois e Ohio. Os dois candidatos também têm seu primeiro debate só entre os dois no próximo domingo. 

A disputa pela futuro do partido – e talvez do país – agora está definido pelos dois candidatos que restam do elenco original de mais de 20. 

Sanders reitera que “não se pode mudar um sistema corrupto aceitando seu dinheiro. Nossa campanha é orgulhosamente pela classe trabalhadora e eu serei um presidente para a classe trabalhadora”. Insiste em que não se poderá derrotar Trump com um candidato que deseja retornar ao passado já que Biden propõe “regressar ao normal… O normal significa empresas petroleiras destruindo o planeta. O normal significa os ricos ficando mais ricos enquanto os pobres são mais pobres. Não podemos retornar ao normal. Necessitamos uma mudança real”.

Biden insiste em que representa a melhor opção para derrotar Trump já que tem experiência como vice-presidente de Barack Obama (talvez a maior razão pela qual continua captando o voto afro-estadunidense), e argumentando que o eleitorado geral não busca “uma revolução”, mas sim uma “evolução”, prometendo um retorno à “normalidade” e civilidade política interrompida por Trump. E ainda mais, ele e seus promotores conseguiram se apresentar como a opção mais efetiva para derrotar Trump. 

E a cúpula do partido, desde pouco antes da super terça na semana passada, consolidou-se em torno de seu candidato resgatando sua campanha então moribunda para frear o candidato insurgente, Sanders.

“O 1% fechou com ele. É o que faz a classe governante”, comentou RoseAnn DeMoro, ex-presidenta do sindicato de enfermeiras e agora promotora da campanha de Sanders.

Às vezes parece que a cúpula do partido se dedicou mais à tarefa de descarrilar Sanders do que enfrentar Trump – até com alguns de seus representantes admitindo que estariam dispostos a tomar medidas antidemocráticas dentro do processo de nominação para evitar que Sanders seja o nominado.  

Um observador comentou em um tuíte algo assim como “nunca teria pensando que tantos cristãos estariam tão alterados por um judeu que vai deambulando de um lugar a outro chamando a cuidar e curar os enfermos e dar assistência aos pobres”. 

O Partido Democrata anunciou que não haverá público no debate programado para o próximo domingo em Phoenix entre os dois candidatos

Facebook Bernie Sanders / Reprodução
Disputa entre democratas segue acirrada

Coronavírus político

Enquanto isso, uma praga que às vezes parece ser de proporções bíblicas, infectou o processo eleitoral pela primeira vez, com Biden e Sanders cancelando seus eventos de campanha programados para esta noite em Cleveland, Ohio, como precaução diante do coronavírus. E mensagens oficiais do Partido Democrata anunciaram que não haverá público no próximo debate entre os dois candidatos programados para o próximo domingo em Phoenix.

O número de casos continua crescendo, superando hoje já mil casos em 37 dos 50 estados com 31 mortes, com os estados mais afetados Washington, Califórnia e Nova York. Neste último, o governador Mario Cuomo, ordenou a primeira “área de contenção” em torno do subúrbio de New Rochelle ao norte da cidade, para onde enviará elementos da Guarda Nacional e proibiu eventos grandes em igrejas, sinagogas e outros espaços. 

Em outras partes, o festival de música e arte Coachella na Califórnia foi adiado para outubro, sendo o segundo evento cultural massivo suspenso (o primeiro foi o Festival Sul x Sudeste no Texas), e se espera que esta lista se multiplique.

Outras duas universidades, a enorme Universidade Estatal de Ohio e Harvard, se somaram à crescente lista de instituições acadêmicas que suspenderam aulas, em alguns casos realizando aulas e seminários pela internet. Estas incluem algumas das mais proeminentes desde Stanford à Universidade de Nova York, Princeton, a Universidade da Califórnia em Berkeley e o MIT.

Por sua vez, Trump reiterou sua mensagem de que ele tem tudo sob controle e que está fazendo tudo certo. Hoje ele retuitou uma mensagem de um simpatizante sobre a urgência de controlar as fronteiras, incluindo muros diante de fenômenos como o coronavírus para proteger os estadunidenses, e o presidente acrescentou: “Está sendo construído rapidamente. Precisamos do muro mais do que nunca!”

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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