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Em meio à pandemia, saiba quem são os heróis essenciais que lutam nas trincheiras dos EUA

É notável que nessa lista de não estejam os banqueiros, os executivos nem seus advogados empresariais, nem os lobistas e analistas econômicos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Foi pouco a pouco e de repente que explodiu essa crise de saúde, econômica, social, policial. No país mais assustado do mundo, onde tudo é “ameaça”, e a tudo se declara guerra – sejam outros países, pobreza, drogas, terrorismo e agora doenças – o regime de Trump foi efetivamente colaborador e cúmplice do “inimigo”, ao declarar que tudo estava “sob controle”. Agora o país está invadido e é demasiado tarde para tudo, menos deixar que os médicos, enfermeiras, assistentes, equipes de ambulância e outros nas “trincheiras” da frente façam todo o possível para resgatar o país – e isso sem o pleno apoio do governo federal. 

Quase toda a cúpula política colaborou de fato com o “inimigo” ao não responder desde o início. Quase todos sabiam das possíveis consequências. Como em todas as guerras, as consequências são padecidas pelos mais vulneráveis. 

Mas, atrás e debaixo do cenário, como sempre, começa a brotar o que é a verdadeira “resistência” ao desastre e que com o heroísmo dos trabalhadores “essenciais” terá que resgatar o país.  

É notável que nessa lista de não estejam os banqueiros, os executivos nem seus advogados empresariais, nem os lobistas e analistas econômicos

Livemint
Começa a brotar o que é a verdadeira “resistência” ao desastre e que com o heroísmo dos trabalhadores “essenciais” terá que resgatar o país

Ao serem implementadas as quarentenas nos Estados Unidos, por ora parciais, as autoridades elaboraram listas dos isentos das restrições, que chamam de “essenciais”. Não é surpreendente que essa lista inclua todo o pessoal médico e outros trabalhadores da saúde, assim como os trabalhadores nos transportes públicos, em farmácias e no setor de distribuição e venda de alimentos, e em alguns lugares, os jornalistas. 

Mas ainda é mais notável quem não está nessa lista de “essenciais”: não estão os banqueiros, os executivos nem seus advogados empresariais, nem os lobistas, nem as ONGs de todo tipo (menos as que estão no setor de saúde) nem os grandes analistas – ou seja, todos os que em “tempos normais” são apresentados como os “mestres do universo”, que são considerados imprescindíveis, esses aparentemente não são “essenciais” quando o futuro da civilização está em jogo.

Além dos incluídos nessa lista, aparecem outro tipo de dedicados a resgates. Entre esses há redes de voluntários impulsionadas primeiro por estudantes, mas que depois começam a funcionar como organizações de “assistência mútua” de tipo anarquista (sem a etiqueta) para atender as necessidades imediatas de diversas comunidades.

Por outro lado, há iniciativas autônomas para apoiar economicamente certos setores vulneráveis, sobretudo imigrantes (trabalhadores em restaurantes, empregadas domésticas, taxistas) como para compartilhar informação vital inclusive em línguas indígenas

O famoso chef espanhol José Andrés fechou seus restaurantes em Washington para convertê-los em “cozinhas comunitárias”, entre outros exemplos.

É igualmente essencial a resposta cultural no seu sentido mais amplo. Ofertas musicais de solidariedade e acompanhamento aos milhões em quarentena por muitos artistas na mesma situação, desde o grande violoncelista Yo-Yo Ma a Paul Simon 

 e toda uma gama de artistas musicais, a ópera do Metropolitan, a funções de cômicos e programas pré-gravados do Kennedy Center.

Algumas instituições culturais como o Museu Guggenheim oferece visitas virtuais, vários novos projetos oferecem grupos de leitura conjuntos, editoras oferecem livros grátis e outros oferecimentos literários como os da Biblioteca Pública de Nova York.

São resgates, é buscar como estar perto e juntos quando nos ordenam “distanciamento” e “isolamento”, é buscar uma maneira de reunir-nos, de convidar-nos a formar parte do coro para cantar juntos, tudo para recordar, isso sim, o essencial. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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