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EUA e escolas preparatórias para ditadores: quem são Steve Bannon e Olavo de Carvalho?

Algumas das mais importantes lições, que os mais representativos ditadores da história moderna deixaram para a posteridade, foram por Olavo perfeitamente aprendidas
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Na América do Norte proliferam escolas formadoras de ditadores e de seus sequazes, sempre de extrema-direita. Estas escolas assumem ou formas associativas, como a autodenominada “Ação Política Conservadora”, ou são compostas por livre atiradores, como o ex-assessor de Donald Trump, o “coaching” Steve Bannon e o “máster” brasileiro emigrado, Olavo de Carvalho.

Sobre este último, muitos sociólogos, filósofos e cientistas políticos já emitiram opiniões:

“Olavo de Carvalho é um obscurantista, retrógrado, seu discurso é puramente ideológico e não tem sustentação argumentativa, seu pensamento representa uma ameaça para o sistema universitário e para a ciência” (1). “Sua notoriedade advém da quebra dos padrões do politicamente correto e, por consequência, não se compromete com a correção na política e menos ainda no reconhecimento dos direitos, diversidade, diferença sem desigualdade e um país pluriétnico”(2).

“Olavo é um representante do discurso de ódio no Brasil” (3). “Em seus escritos abundam afirmações delirantes, preconceituosas e intolerantes. Nesse processo, foi abandonado pela direita inteligente e assumiu a condição de guru de uma turma desprovida de formação, movida a ódio e ressentimento” (4).

“A obra de Carvalho nunca foi uma referência no ambiente acadêmico e é absolutamente irrelevante do ponto de vista filosófico” (5). “Sua fala se mostra persuasiva e eficaz por abordar os medos e as inseguranças do homem comum apresentando uma explicação simples, mas equivocada, para os problemas atuais: marxistas, feministas e gays teriam provocado a crise da civilização cristã e empurrado a sociedade para o abismo.” (6).

O que a Academia, entretanto, não explicita claramente é que Carvalho é simplesmente embrião de uma escola formadora de ditadores, tendo dentre seus discípulos mais insignes a família Bolsonaro e seus acólitos!

Algumas das mais importantes lições, que os mais representativos ditadores da história moderna deixaram para a posteridade, foram por Olavo perfeitamente aprendidas. Seus princípios são as bases do que ensina.

Algumas das mais importantes lições, que os mais representativos ditadores da história moderna deixaram para a posteridade, foram por Olavo perfeitamente aprendidas

Wikimedia commons
Cena do filme "O Grande Ditador"

Vamos às principais lições:

Primeira lição:

Um verdadeiro candidato a ditador deve desejar o poder pelo poder e toda sua voluptuosidade estará no exercício de mandar. As ideias, as reformas, o dinheiro, as mulheres ou os homens, os carros, o luxo, são para ele instrumentos ou objetos de poder, nunca o contrário. O possuído pela autêntica vocação pelo poder total não sonha senão com o poder. O mando absoluto é sua ideia fixa, sua profissão e família, seu prazer.

Todo o potencial psíquico é absorvido por este único ponto, e o futuro ditador facilmente aparenta ao vulgo ser um indivíduo extraordinário, um Mito, e somente assim torna-se “O Chefe”. A superioridade do chefe ditador sobre seus adversários é essencialmente esta: ele aspira ao poder, só ao poder e nada mais senão ao poder! Os gregos, inventores da democracia, não tinham a menor dúvida sobre o caráter passional da tirania.

Segunda lição:

Um aspirante a ditador jamais deve fazer apelo ao espírito crítico de seus ouvintes! Um chefe fascista, arquétipo do ditador, deve saber arrastar, inflamar, exaltar, inspirando ódio e desprezo para com os intelectuais e para os que com ele se atrevam a discutir ou opor-se. 

Terceira lição:

Um líder jamais deve se permitir ser questionado perante seus crentes. É esta estreita identificação entre chefe e massa que cria a forte coesão administrativa dos partidos totalitários.

Que importa que o chefe diga e faça hoje o contrário do que dizia e fazia ontem e mande matar inocentes como Marielles, apenas para desafiar as instituições democráticas?

Ora, o elo mais forte que liga o chefe a seus cordeiros não é ideológico, programático ou ético, “se meu chefe age daquela maneira é porque tem razões para fazer”.

Os mais fiéis crentes seguidores do ditador são pessoas que nunca tiveram êxito na vida, embora creiam que o hajam merecido; seus fracassos eles os debitam exclusivamente à falta de sorte ou escrúpulos. Acabam mesmo ficando orgulhosos por seu chefe ser tão esperto e forte, e saiba exterminar adversários, considerados como inimigos, implacavelmente. 

Estes vencidos da vida, gente para quem a existência já não tem sentido e nem valor, são os recrutas ideais dos empresários do terror. A política totalitária é para eles um estupefaciente. O dinheiro não perde nenhum de seus atrativos, mas sua audácia na internet e nas lutas de rua depende de algo mais. 

Quanta lição:

Os candidatos a ditadores fascistas sempre devem se abster de apresentar qualquer programa reconstrutivo; em vez disto propagam uma ideologia representada por símbolos racistas, xenófobos, homofóbicos e de nação. O próprio atentado sofrido por Bolsonaro em 2018 foi-lhe de extrema utilidade: não necessitou participar de qualquer debate, apresentar qualquer programa de governo!

Os candidatos devem enveredar pela política de desacreditar todo o sistema tradicional dos partidos políticos, tornando-os responsáveis por todos os males da nação; nesse sentido, buscam erguer contra as instituições democráticas o ódio das massas. 

Mesmo a aparente civilização das classes médias é um verniz que se desfaz em situações de estresse social. Em todos os degraus da escala social dormitam resíduos de mentalidade primitiva, pré-lógicos e alógicos. 

O fascismo forma-se, pois, fora de toda e qualquer discussão; contra a razão da política, o fascismo faz apelo aos instintos atávicos, à voz do sangue, à tradição, à mística dos rebanhos de ovelhas, à necessidade da massa em crer num chefe, num messias, à salvação corporal e espiritual baseada na obediência de ordens. A tudo o que quiserem, mas nunca à razão!

Quinta lição:

O chefe não é normalmente um grande orador no sentido tradicional; lembra, sim, um propagandista de guerra, que incita os soldados antes de um ataque e, outras vezes, um improvisado chefe de soldados amotinados. 

De todo modo, ele é um ator e como tal sabe que representa um jogo. E esse modo veemente, inculto de falar e de se portar, serve para se aproximar ainda mais da massa que acaba por ouvir nele sua própria voz. 

Sexta lição:

A fala fascista é falsa e artificial, repleta da violência. Como de tão comum a mentira tornou-se vulgar, os movimentos totalitários são obrigados a levar as mistificações ao extremo. 

O destino do candidato a futuro ditador é o tudo ou o nada! A coragem de um aspirante mostra-se principalmente na fria calma com que ele sabe expor seus sequazes e seus adversários ao perigo, mantendo-se a si mesmo a salvo, sem que o pareça, evidentemente.

Sétima lição:

Ao contrário dos partidos políticos cujo duelo é verbal e de papel, com as eleições, os fascistas são normalmente homens da violência, veteranos de guerra ou policiais, milicianos ativos. Para eles, a política é a continuação da guerra por outros meios.

A desordem é o húmus do fascismo. Somente ela sistematicamente paralisa a vida da nação e faz brotar a revolta contra as instituições nos homens da rua. Nenhuma vez se viu uma tirania se implantar agitando outra bandeira que não a da “verdadeira liberdade.”

Acontece que então, setores cada vez mais numerosos do exército, da polícia, da magistratura e da burocracia estatal começam primeiro em segredo e, depois, abertamente a apoiar o partido fascista.

Oitava lição:

O fascismo como qualquer outro governo totalitário não surge para corrigir os defeitos da democracia, mas para levar ao paroxismo seus defeitos. Dentre as qualidades a abolir o tirano e seus sequazes terão a pluralidade de partidos, a liberdade de imprensa, a liberdade de ensino, a liberdade religiosa, a organização independente dos trabalhadores, a pluralidade de opiniões, a razão científica, a ausência de discriminação racial, religiosa, de gênero. Não se trata de pouca coisa, mas de todas as conquistas civilizatórias!

Hitler, Mussolini e Stalin, déspotas diferentes, mas exemplares do século XX 

Boris Suvarine, dirigente do Partido Comunista Francês e da III Internacional, foi um dos primeiros a descrever com perspicácia o dirigente soviético Joseph Stalin, ainda 1924!

Para Suvarine, causava espanto a desproporção entre a vontade e a inteligência daquele que seria o continuador de Lênin, quando de sua morte: “Jamais foi um intelectual, tão pouco brilhante em nada. Mas paciente, meticuloso, sóbrio em ilusões e palavras, e, sobretudo, seguro do seu desprezo pelos indivíduos, dentro de uma falta absoluta de princípios e de escrúpulos”.

Stalin deve, na verdade, seu êxito político aos seus adversários, mais que a ele próprio: “Não teria conseguido impor-se sem fino faro, sem faculdades naturais de intriga e uma liga eficaz de sangue-frio e energia.” 

Stalin era hábil em demorar soluções desfavoráveis, em dividir seus inimigos, em rodear obstáculos, não recuando perante nada que tivesse possibilidade de apressar-se, de ferir, de expulsar.

Stalin, homem desconfiado e fechado, confidenciou a Kamenev, enquanto este lhe convinha como aliado: “não há nada tão delicioso quanto tramar minuciosamente uma armadilha em que se saiba que o adversário cairá inevitavelmente, e ir para cama, dormir”.

Hitler, em Mein Kampf, descreve uma passagem alegre dentro de um livro absolutamente lúgubre: um comício durante o qual os seus S.A. espancaram os adversários até todos fazem sangue! Diverte-se com o assassinato de dois jovens, um deles judeu, comprovada pela observação de sua circuncisão! 

Goebbels, em uma frase definiu a necessidade de um ditador: “A massa é um fraco, preguiçoso e vil aglomerado de homens. A massa é matéria amorfa, só por obra de um homem de estado pode tornar-se povo e o povo, nação”.

Foi a preocupação de aproximar-se das massas operárias que levou Hitler a inventar o nome do seu partido: Nacional-Socialista. Mussolini primeiramente batizou seu partido de “Partido Fascista do Trabalho.” Mas o Trabalho pulou fora do nome quando ele chegou ao Poder.

Antes da tomada do poder político, em 1920, o discípulo anarquista Mussolini disse: “Abaixo o Estado em todas as suas formas e qualquer que seja sua encarnação. O Estado de ontem, de hoje, de amanhã, o Estado tradicional burguês e o socialismo. Nada mais resta a nós, últimos sobreviventes do individualismo, a religião sempre consoladora do anarquismo.” 

Quando após dois anos, em 1922, o fascismo tinha possibilidade de chegar ao poder, o futuro ditador disse: “O século da democracia terminou, um século aristocrático como o nosso, pertence ao passado. As novas gerações proíbem que a democracia impeça as novas vidas do futuro.”

Para as milícias fascistas chegarem ao poder, em 1923, bastava que o Exército Italiano se mantivesse “neutro”, frente a um país desarmado, e o Exército assim o fez. Mussolini foi nomeado primeiro-ministro pelo rei e deu-se o título de “Duci”. O ditador “Duci” Mussolini escreveu, então: “Para o fascismo, o Estado é o absoluto, ante o qual os indivíduos e os grupos não são mais que relativos.”

Eis o ciclo que guia o ensino, no século XXI, do canhestro Olavo de Carvalho e do “coaching” de ditadores, Steve Bannon!!!!

Referências: 

1. Daniel Tourinho Peres, da Universidade Federal da Bahia.

2. Bruno Lima Rocha, doutor em ciência políticas.

3. Liriam Sponholz, da Alpen-Adria-Universität em Klagenfurth, e Rogério Christofoletti, Universidade Federal de Santa Catarina. 

4. Flávio Moura, doutor em Sociologia.

5. José Arthur Giannotti, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

6. Álvaro Bianchi, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.

7. Semprum, Jorge. Escola de Ditadores.

8. Silano, Ignazio. Escola de Ditadores.

9. Dobson, W.L. Escola de Ditadores.

Carlos Russo Jr, da equipe de colabores da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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