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Quem é Antony Blinken, secretário de Estado de Biden considerado “intervencionista liberal”

Declarações e decisões revelam Blinken como um firme crente na doutrina dos Estados Unidos como poder “indispensável” no mundo
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“América está de regresso” foi a consigna do presidente eleito Joe Biden ao apresentar sua equipe de política exterior, anunciando assim o que chamam de “liderança” estadunidense no mundo depois de quatro anos de políticas de isolamento e unilateralismo promovido pelo governo de Donald Trump.

Biden declarou, ao apresentar pessoalmente sua equipe de política exterior e segurança nacional, que eles “restaurarão globalmente a América, sua liderança global e sua liderança moral. É uma equipe que reflete o fato de que a América regressou, pronta para liderar o mundo, não se retirar dele”. 

Encabeçando essa missão está Antony Blinken, designado como próximo secretário de Estado, com uma ampla experiência em política exterior após desempenhar diversos postos de alto nível no Departamento de Estado, na Casa Branca e no Senado, e um dos conselheiros mais próximos de Biden durante mais de 20 anos. Além do mais é roqueiro.

Essa longa experiência está repleta de declarações e decisões que revelam Blinken como um firme crente na doutrina dos Estados Unidos como poder “indispensável” no mundo.

Blinken e seus aliados acreditam que a Rússia e a China são os principais adversários geopolíticos e que se requer uma mescla de “diplomacia ativa” e “dissuasão militar” para uma política exterior efetiva, segundo escreveu junto com Robert Kagan, um intelectual neoconservador, para Brookings Institution no início de 2019. Blinken e Kagan escreveram que o presidente que ganhar em 2020 “enfrentará um mundo cada vez mais perigoso que se parece mais aos anos 30… com populistas, nacionalistas e demagogos surgindo, poderes autocráticos fortalecidos e cada vez mais agressivos… e a democracia sitiada e vulnerável à manipulação estrangeira”.  

“O mundo não se governa a si mesmo. Se os Estados Unidos abdicarem de seu papel de liderança em dar forma às regras e instituições – e mobilizar a outros a defendê-los – uma de duas coisas sucederão: algum outro poder ou poderes entrarão e moverão o mundo de maneira que avancem seus interesses e valores, não os nossos. Ou, mais provável, o mundo descenderá ao caos e conflito e a selva nos abrumará, tal como foi nos trinta”.

Declarações e decisões revelam Blinken como um firme crente na doutrina dos Estados Unidos como poder “indispensável” no mundo

Bloomberg
Presidente eleito dos Estados Unidos e Antony Blinken, designado como próximo secretário de Estado do país.

Blinken disse recentemente que “há uma divisão no mundo entre as tecno democracias e as tecno autocracias”, e que a disputa es chave para a direção do mundo.  

No passado, Blinken não se enfocou particularmente em assuntos latino-americanos, e durante sua estância no governo de Barak Obama defendeu a política oficial do uso de sanções contra o governo de Nicolás Maduro e a promoção de uma solução “pacífica” na Venezuela através de um “diálogo significativo” e finalmente eleições “livres”. 

No caso de Cuba, se supõe que apoiará a posição de seu chefe de voltar ao degelo da relação bilateral sob Obama, e continuar expressando “preocupação” com a “repressão” nesse país. Não tem sido um ator público na relação bilateral com o México, embora tenha visitado a Cidade do México como subsecretário de Estado em abril de 2015, onde participou de reuniões com contrapartes no governo federal, agrupamentos civis e estudantes. 

Blinken é considerado por críticos, como o analista e jornalista Robert Wright, um editor do The New Republic e fundador de @Nonzeronews, como um “intervencionista liberal”, recordando que assessorou Biden quando este emitiu seu voto a favor da guerra contra o Iraque, algo que não reconheceu como uma invasão ilegal e favoreceu a política desastrosa com a Síria, queixando-se de que não foram enviadas ainda mais forças militares. “Blinken apoia aplicar o direito internacional a adversários, mas tem pouco tempo para limites legais quando poderiam restringir o comportamento estadunidense”, sustenta Wright. Como exemplo, aponta que Blinken considerou a invasão do Panamá e a extradição do presidente Manuel Noriega como “um uso razoável de força” sem reconhecer que foi uma violação do direito internacional. 

Vale assinalar que Blinken, a nova chefa de inteligência Avril Haines, o novo assessor de Segurança Nacional Jake Sullivan, e é claro John Kerry, agora nomeado como enviado especial para mudança climática e ex-secretário de Estado, como outros mais que estão para ser nomeados, estavam no governo de Obama e apoiaram suas estratégias bélicas. 

Estas incluíram os assassinatos de precisão com o uso de drones em vários países, como também os bombardeios e outras operações militares em pelo menos sete países muçulmanos- em 2016, o bombardeio estadunidense desses países chegou a uma média de 72 bombas por dia, segundo um informe do Conselho de Relações Exteriores.

Enquanto esperava a oportunidade para regressar ao governo com os democratas, Blinken e outros colegas, incluindo a ex-subsecretária de Defesa para Política Michele Flournoy que agora está na lista de favoritos para ser nomeada como próxima secretária de Defesa, cofundaram uma consultoria privada chamada WestExec cujo negócio era ajudar empresas de alta tecnologia do Silicon Valley a navegar em Washington para obter contratos militares do Pentágono e para assessorar empresas sobre “riscos geopolíticos”. Segundo explicou Flournoy a The Intercept em 2018, o objetivo era “juntar a segurança nacional e as empresas de ciber-segurança”.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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