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Reforma migratória geraria US$ 3 trilhões ao PIB dos EUA e México em 10 anos, diz pesquisa

Controle do fluxo migratório é o tema bilateral de prioridade no prazo imediato para o novo governo de Biden em suas relações com o México
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Uma reforma migratória integral nos Estados Unidos poderia brindar trilhões de dólares adicionais ao PIB dos Estados Unidos e do México, segundo uma nova pesquisa, mas no curto prazo e tema bilateral de maior urgência para o novo governo de Joe Biden é o apoio do México para controlar os fluxos migratórios que poderiam detonar outra crise na fronteira e um pesadelo político para a Casa Branca. 

Se a reforma migratória integral proposta por Biden em seu primeiro dia na Casa Branca e agora submetida ao Congresso – o projeto de Lei de Cidadania dos Estados Unidos de 2021 – for aprovada e implementada gerará enormes benefícios econômicos tanto para os Estados Unidos como para o México. 

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A análise elaborada pelo North American Integration and Development Center (NAID) da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) conclui que a proposta Lei de Cidadania geraria mais de 3 trilhões de dólares em PIB adicional ao longo de 10 anos como resultado de um incremento em produtividade e ingresso brindados pela legalização e naturalização da população imigrante indocumentada (uns 11 milhões) e mais novos fluxos migratórios legais.

O doutor Raúl Hinojosa-Ojeda, diretor do NAID, disse em entrevista a La Jornada que o relatório preliminar (o final será apresentado no Senado em Washington em um par de semanas) indica que só com a legalização e cidadania dos denominados “trabalhadores essenciais” indocumentados seria gerado 1,5 trilhão em PIB adicional ao longo de 10 anos. Do total dos 7,8 milhões de trabalhadores indocumentados, 77% são definidos oficialmente como “trabalhadores essenciais”. 

Ao mesmo tempo, agregou Hinojosa, a pesquisa calculou que as remessas ao México e aos três países do chamado Triângulo do Norte da América Central (Guatemala, El Salvador e Honduras) como resultado os ingressos superiores dos beneficiados com a reforma, que inclui a legalização como novos imigrantes legais, poderia alcançar um total de mais de um trilhão de dólares ao longo de uma década.  

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Se forem utilizados com programas de inclusão financeira em programas de poupança e investimento poderia gerar uns 100 bilhões de dólares de investimento em comunidades que enviam migrantes. 

Controle do fluxo migratório é o tema bilateral de prioridade no prazo imediato para o novo governo de Biden em suas relações com o México

Twitter / Reprodução
Biden está impulsionando seu programa para reunificar as famílias separadas sob ordens de Trump

Controle dos fluxos migratórios é tema prioritário

Mas a prioridade na conjuntura atual para o governo de Biden na relação bilateral é o controle dos fluxos migratórios indocumentados. Embora se tenha abordado a migração na reunião bilateral entre os presidentes Andrés Manuel López Obrador e Joe Biden na segunda-feira, não foram oferecidos maiores detalhes sobre o que se discutiu neste (como outros) tema além dessa palavra tão repetida que já não se sabe o que significa: a “cooperação”. 

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Fontes do governo em Washington e especialistas sublinharam que a grande preocupação imediata de Biden é evitar novas crises migratórias na fronteira, as quais serviram de pretexto para o governo de Donald Trump para promover suas políticas antimigrantes que o novo governo está tentando desmantelar.

Registra-se um incremento dramático de migrantes detidos na fronteira – segundo dados oficiais da agência de Aduanas e Proteção Fronteiriça – chegando aos níveis mais altos em uma década, uns 78 mil em janeiro. Desses, 80 por cento foram expulsos.  

O governo de Biden esta desmantelado o chamado programa Fique no México para solicitantes de asilo, cancelou a construção do muro e busca reduzir o número de deportações

Embora o governo de Biden esteja desmantelado o chamado programa Fique no México para solicitantes de asilo, cancelou a construção do muro, busca reduzir o número de deportações do interior do país e está impulsionando seu programa para reunificar as famílias separadas sob ordens de Trump, ainda está usando a medida imposta pelo governo anterior que permite expulsar quase de imediato a todos os migrantes indocumentados interceptados ao cruzar a fronteiro sob o pretexto do controle da pandemia.

Mudanças até agora são apenas superficiais

No entanto, diferentemente do governo anterior, não está usando essa medida para expulsar imigrantes menores de idade não acompanhados. Mas isso está gerando outro problema sobre o que fazer com o aumento dramático no número de menores de idade não acompanhados que estão cruzando a fronteira – centenas a cada dia – e são esperados milhares mais, a maioria chegando da América Central. De fato, se reporta que o governo está contemplando que se requer espaço para mais 20 mil menores, reportou Axios.

Mas ao reabrir algumas instalações para alojar os menores de idade, o governo de Biden enfrentou um coro de críticas por usar de novo os velhos centros de detenção, embora agora não se chamem assim e aparentemente foram melhorados.

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O governo de Biden tem insistido em que está fazendo o melhor possível sob as condições que herdou, enquanto tenta desmantelar as velhas políticas “cruéis” de Trump e reitera que tudo isto levará tempo e portanto pede “paciência”. 

No entanto, para frear ou pelo menos diminuir esses fluxos, sobretudo os provenientes da América Central, Biden necessita que o México continue com algumas das políticas de controle fronteiriço que se viu obrigado a implementar sob a pressão de Trump, incluindo o envio de tropas da Guarda Nacional às fronteiras.

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Ambos os governos apontaram na segunda-feira que para abordar estas questões, é preciso mais “cooperação”. Ainda não se anuncia exatamente o que isso significa.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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