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Cannabrava: solução para a paz no Oriente Médio e no mundo passa pelos Estados Unidos; urge desmilitarizar a região

A região está coalhada de bases: na Turquia, Síria, Iraque, Iêmen, Líbia, Níger, Somália; Arábia Saudita e Israel, duas potências bélicas, armadas até os dentes, para proteger os interesses dos EUA
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Desde o assassinato de Rafic Hariri, duas vezes primeiro-ministro do Líbano, em fevereiro de 2005, tem-se a impressão de que o Líbano não consegue um governo estável. Hoje está em cena um outro Hariri, o Saad, que recebeu do presidente Michel Aoun a missão de formar um novo gabinete, mas ainda não conseguiu.

Isso foi no dia 13, nesse mesmo dia, o presidente anunciou que, como previsto, em 2022 serão realizadas eleições parlamentares. Serão preenchidas 128 cadeiras e quem tiver a maioria escolhe o primeiro-ministro. 

De um lado, sunitas, cristãos e drusos e de outro lado o Hesbulah (xiita) e cada vez mais fortes, os comunistas. A última eleição foi em 2018.

Eleições internacionalizadas, de um lado Arábia Saudita, EUA e Israel e de outro lado o Irã.  

O Líbano atravessa a mais grave crise econômica de sua história, o que tem levado a população às ruas para protestar. Desemprego, miséria, inflação, falta de gêneros básicos e contra a corrupção que parece endêmica alimentam o descontentamento. 

A libra libanesa desvalorizou mais de 100% incidindo nos preços de tudo quanto é produto e tornando a vida insuportável para 90% da população. Segundo o Banco Mundial, 60% da população caiu ao nível de pobreza extrema.

Na quinta-feira (22) explodiram mísseis do Estado Teocrático de Israel, disparados durante três dias consecutivos sobre Beirute, a capital libanesa. Dizem que os projéteis estavam dirigidos contra a Síria, que vem sendo bombardeada sistematicamente, por abrigar milícias apoiadas pelo Irã. Não houve vítimas, mas formou enorme cratera vizinha a uma área residencial e bens públicos foram destruídos.

Na vizinha cidade síria de Homs, aviões israelenses, utilizando espaço aéreo do Líbano, dispararam saraivada de mísseis, muitos dos quais foram abatidos pela defesa antiaérea, evitando muitas mortes. Assim mesmo os danos materiais têm sido muito graves. Já é o terceiro dia consecutivo de ataques da aviação israelense contra posições que eles dizem ser do Hezbollah.

A área alvejada é vizinha `a zona de Tanef, controlada pelos Estados Unidos no leste da Síria. Essa já é a 18ª incursão armada de Israel contra a Síria no que vai do ano. No ano passado, foram mais de 100 ataques das forças de Israel.

Se não é Israel são os Estados Unidos. Na véspera, a televisão mostrou os estragos feitos por mísseis disparados por helicóptero estadunidense contra imóveis residenciais na localidade de Jamous, no estado de Hassakeh, matando quatro pessoas. Tudo isso para proteger os milicianos das chamadas Forças Democráticas da Síria, organizadas e armadas pelos Estados Unidos. 

Os ianques mantêm pelo menos uma dúzia de bases militares em território sírio sem autorização do governo de Damasco. Bashar al Assad, eleito e reeleito, está em seu quarto mandato, não é aceito pela potência imperialista. Essa foça militar assegura o roubo contínuo de petróleo sírio e incentiva a atividade terrorista. No início de julho roubaram um comboio de caminhões que levavam trigo e petróleo para o Iraque. Roubo de comida para alimentar as tropas invasoras.

Já são dez anos de guerra civil na Síria. Uma década sob ataque terrorista, bombardeios de Israel e dos Estados Unidos. Concentrado em defender-se o país não desenvolve, e o povo resiste a que regrida à condição de colônia.  Por isso lutam. Lutaram contra a invasão em 1976 e outra vez em 1982, continuam lutando.

Para o Ministério das Relações Exteriores da Síria, o objetivo dos grupos apoiados pelos Estados Unidos é promover a separação da região norte-oriental. De fato, a auto denominada Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria e sua formação armada Forças Democrática Sírias, enviaram comunicado à ONU pedindo reconhecimento de sua autonomia da região de Al Jazira.

O Conselho de Segurança da ONU se mantém indiferente, pois é controlado pelos Estados Unidos, tal como a OTAN. Mas a comunidade das nações não devia ser indiferente a essa permanente violação aos direitos humanos e ao direito internacional. São agressões ilegais sobre qualquer ponto de vista.

Situação difícil, só será resolvida se os Estados Unidos desmantelarem todas as bases militares que mantêm no mundo, causa de insegurança para toda a humanidade. 

A região está coalhada de bases: na Turquia, Síria, Iraque, Iêmen, Líbia, Níger, Somália; Arábia Saudita e Israel, duas potências bélicas, armadas até os dentes, para proteger os interesses dos Estados Unidos.

O dilema Palestina

Espremida e sufocado no meio disso tudo está a Palestina. Os EUA estão financiando a instalação e a ampliação de colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. 

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E tem os milhões de dólares que o governo dos EUA dá todos os anos a título de ajuda militar a Israel.

As agressões são tão desumanas que a ONU não teve outro jeito e mandou investigar as 254 mortes provocadas por uma das últimas incursões do Estado Sionista sobre a Faixa de Gaza. Isso foi em abril, começou no dia 13 e durou onze dias.

No dia 23 de julho, o governo palestino recebeu com júbilo um grupo de trabalho do Conselho de Direitos Humanos da ONU e garantiu que dará toda informação necessária. Já o governo de Israel disse que não pode e não vai cooperar.

Os palestinos protestam e são violentamente reprimidos. Presos políticos são assassinados nos cárceres. Abdo Yousef al Khatib al Tamini, um cidadão de 43 anos, foi detido no domingo (18) por uma infração de trânsito, levou tantos golpes que acabou morrendo no cárcere. 

A política de segurança de Israel permite prender habitantes da Faixa de Gaza e da Cisjordânia sem processo nem julgamento e manter preso, de acordo com a vontade do repressor, sem tempo determinado.

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Segundo dados oficiais, as tropas israelenses que ocupam a Palestina, somente no primeiro semestre deste ano (2021) prenderam mais de 5 mil e 400 palestinos, entre os quais, 854 menores e 107 mulheres. Hoje, 4 mil 850 palestinos estão atrás das grades, dos quais 225 são menores.

Em protesto contra os maus-tratos já são treze palestinos em greve de fome.

Não vivemos uma situação normal, nem temos um Estado independente. Inclusive a nossa soberania está nas mãos de Israel no que tange à terra, à água e as fronteiras, disse o ministro de Assuntos Civis, da Autoridade Palestina, Hussein al Sheikh em entrevista.

“Nosso objetivo é construir um país estável, democrático, livre, que coexista com Israel. O povo palestino tem o direito de viver em um estado independente. Nossos filhos e netos têm o direito de viver livremente e também o de decidir seu futuro.”

Para o ministro al Sheikh, Benjamin Netanyahu, que governou Israel por 12 anos, nunca quis a paz, nunca acreditou nos acordos de paz firmado em 1994 em Oslo, ao contrário, sempre tratou de sepultá-lo

O que espera esse provo para o futuro? 

É triste viver num país ocupado. São mais de 150 organizações nos EUA que sob pretextos diversos arrecadam dinheiro para enviar às colônias que Israel está implantando ilegalmente em território palestino. Seis dessas organizações “beneficentes”, entre 1999 e 2020 enviaram US$ 392 milhões para os colonos israelenses. Isso sem contar os bilhões de dólares que a título de ajuda militar os EUA mandam todos os anos para Israel. 

Como negar que Israel seja uma extensão do militarismo ianque no Oriente do Mediterrâneo? Solução para o permanente conflito no Oriente Médio, reside nos Estados Unidos. Basta  retirar suas tropas de ocupação. Fechar as 800 bases militares é a única solução para a paz mundial.

* Paulo Cannabrava Filho, editor da Diálogos do Sul


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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