Na última segunda-feira (6) festejou-se o Dia do Trabalho nos Estados Unidos e não é acidental que este país não se some ao resto do mundo para celebrar seus trabalhadores no Primeiro de Maio.
Isso apesar de o Primeiro de Maio ter nascido nos Estados Unidos, na luta pela jornada de trabalho de oito horas que teve seu epicentro em Chicago, em 1886. O presidente Grover Cleveland proclamou a primeira segunda-feira de setembro como Dia do Trabalho, em 1894, para separá-lo da história radical vinculada pelo primeiro de maio — movimento encabeçado por anarquistas, socialistas e imigrantes radicais com ideias muito perigosas.
Este fim de semana se acaba de marcar o centenário da chamada Batalha de Blair Mountain, em que entre 7 mil e 10 mil mineiros sindicalizados na West Virginia tomaram as armas para confrontar as empresas que controlavam sua vida da região.
Uns 2 mil oficiais e guardas privados armados pelas empresas responderam, e até bombardearam a partir de aviões o sindicato mineiro, e ao final outras duas mil tropas federais chegaram para ajudar a reprimir o que se considera o maior levante de trabalhadores na história dos Estados Unidos.
Essa e outras partes da história da luta operária continuam, em grande medida, ausentes da narrativa oficial e da consciência coletiva deste país.
As lutas pela dignidade, pelo direito de associação, pela jornada de oito horas, salário-mínimo e outras foram realizadas por movimentos de massa ao redor deste país, muitas por meio de ações radicais incluindo greves e enfrentamentos violentos com autoridades, e com forças repressivas privadas, e suas conquistas têm ecos hoje em dia em novos esforços em defesa dos trabalhadores — muitas, como sempre, encabeçadas por imigrantes.
O movimento trabalhista elevou a taxa de sindicalização de 11% em 1933 a 29% em 1939; em 1953 se conseguiu chegar ao ponto mais alto de sindicalização com mais de um de cada três trabalhadores sindicalizados. Essas conquistas incluem férias, seguros saúde, pensões e outros benefícios. Mas talvez o efeito mais importante tenha sido a redução da desigualdade econômica que prevaleceu até os anos setenta.
Mas, atualmente, a taxa de sindicalização é de 10,8% e o país — graças a quatro décadas de neoliberalismo — tem o nível de desigualdade e concentração de renda mais extremo desde pouco antes da Grande Depressão de 1929.
O salário-mínimo federal de 1968 era 46% maior que o de 2021 em termos reais. Isso é resultado do ataque feroz contra os trabalhadores, seus sindicatos e seus direitos que começou com o arranque da era neoliberal sob Ronald Reagan (a qual declarou a guerra contra os sindicatos ao despedir 13 mil controladores aéreos em greve).
Reprodução
Primeiro de Maio nasceu nos Estados Unidos, na luta pela jornada de trabalho de 8 horas que teve seu epicentro em Chicago em 1886.
Atualmente, a taxa de sindicalização nos Estados Unidos está entre as mais baixas dos países que integram a OCDE, inclusive inferior à do México (por exemplo, aqui não há regulamentos para proteger trabalhadores não sindicalizados de serem despedidos, nem seguro saúde, férias e outras prestações), e de fato não há proteção dos direitos à livre associação e a negociação de contratos coletivos.
20% dos organizadores em esforços de sindicalização são despedidos pelas empresas — são milhares a cada ano — enquanto continuam as represálias de todo tipo contra os que se atrevem a promover os sindicatos neste país.
Sob a lei, milhões de boias-frias, trabalhadoras domésticas e outros não têm direitos protegidos para sindicalizar-se. A luta pelos direitos civis neste país sempre foi entrelaçada com uma luta por direitos dos trabalhadores.
Falou-se muito da reforma trabalhista no México e da necessidade de assegurar sua implementação e cumprimento de suas normas e dos direitos trabalhistas, incluindo monitores estadunidenses para isso. Mas é também urgente que o México e outros países deem apoio para apoiar a luta pelos direitos trabalhistas nos Estados Unidos a partir deste Dia do Trabalho. A solidariedade é uma rua de dois sentidos.
* La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
** Tradução: Beatriz Cannabrava
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