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O mundo diante da permanente tentativa de “normalizar” o Apartheid na Palestina Ocupada

No começo do mês, mais uma vez, a ONU aprovou “o direito do povo palestino à autodeterminação, incluindo o direito ao seu Estado independente da Palestina”
Bruno Beaklini
Diálogos do Sul Global
Porto Alegre (RS)

Tradução:

No dia 5 de novembro, uma sexta, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (UNGA), no seu terceiro comitê, aprovou por uma resolução reconhecendo o direito ao povo palestino pela autodeterminação. O placar foi elástico, 158 votos a favor, seis contrários (incluindo o voto dos EUA e da entidade colonial sionista) e 10 abstenções. A Assembleia Geral afirma o seguinte: 

 “O direito do povo palestino à autodeterminação, incluindo o direito ao seu Estado independente da Palestina” e “enfatizou a urgência de alcançar sem demora o fim da ocupação israelense”. 

De acordo com o texto aprovado “a Assembleia reafirmaria o direito do povo palestino a um estado independente, exortando todos os países e agências especializadas da ONU a apoiá-los na realização antecipada do direito à autodeterminação”.

Vale ressaltar que a mesma fonte (Press TV) afirmou que a declaração foi respaldada pelo Hamas — a partir da declaração de seu porta-voz Hazem Qasem — e por demais partidos e organizações da resistência palestina, atuando de forma coordenada desde antes da Operação Espada de Jerusalém em defesa de Al Quds sob uma constante ameaça de pogrom e limpeza étnica.

Importante observar a temporalidade da resolução. Uma semana antes, na sexta-feira dia 29 de outubro, o embaixador da entidade sionista na ONU, Gilad Erdan, rasgou o relatório de direitos humanos elaborado pela Organização das Nações Unidas. No vídeo, o diplomata colonial afirma que o Estado de Israel sofre com perseguições “antissemitas e unilaterais”.

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O embaixador da entidade operadora do Apartheid na Palestina Ocupada repete o gesto de seu colega antecessor, Chaim Herzog, quando  em 1975  a ONU estabelece a óbvia conexão entre sionismo e racismo. No vídeo, Gilad Erdan reproduz o conceito farsesco de que são motivações “antissemitas” as que defendem os direitos inalienáveis do povo palestino de todos os credos, os reais donos da terra ocupada pelo Mandato Britânico em 1920, indo ao encontro de um projeto colonial europeu fundado por Theodor Herzl, em 1897, na cidade da Basileia (Suíça). 

Chaim afirma em 18 de novembro de 1975 que a ONU teria atingido seu “nível mais baixo através de uma coalizão entre déspotas e racistas, manifestações antissemitas e anti-judaicas”, e segue afirmando que a resolução das Nações Unidas condenando o sionismo é “ilegal e nem tem valor moral algum”. No vídeo, Herzog rasga aquilo “que não passa de um pedaço de papel” e rasga a declaração em defesa do povo palestino. 

No começo do mês, mais uma vez, a ONU aprovou “o direito do povo palestino à autodeterminação, incluindo o direito ao seu Estado independente da Palestina”

Shahar Azran
O embaixador da entidade sionista na ONU, Gilad Erdan, rasgou o relatório de direitos humanos elaborado pela Organização das Nações Unidas.

É muito interessante observar as alianças e procedências daqueles que para tudo clamam “antissemitismo”, sem sequer ser semitas de fato. Na página do parlamento israelense consta a documentação dos textos de Herzl, incluindo a institucionalização do programa da Basileia implicando em:

“Estabelecer para o povo judeu uma casa garantida pública e legalmente em Eretz Yisrael …” Para atingir esse propósito, os seguintes objetivos foram definidos em movimento: A promoção do assentamento de Eretz Yisrael com agricultores, artesãos e comerciantes judeus; a reunião de todos os judeus em grupos de ação eficazes, locais ou gerais, de acordo com as leis de seus vários países; o fortalecimento do sentimento e da consciência nacional-judaica; dando passos preparatórios para a aceitação do reconhecimento mundial necessário para a realização do propósito sionista. Além disso, foi definido que o movimento sionista funcionará por meio do Congresso que se reunirá uma vez por ano (a partir de 1901 o próprio Congresso se reunirá a cada dois anos). Depois que a Organização Sionista Mundial foi estabelecida, a ela se juntaram 260 grupos de Hovevei Zion da Rússia e do Leste Europeu”.

O grifo e a tradução na citação original acima são do autor deste artigo, trazendo a seguinte constatação. O sionismo é um fenômeno europeu, travado por europeus, abordando um problema concreto entre europeus e cuja gênese fundacional não traz elementos marcantes do judaísmo árabe mizrahim, e nem mesmo sefaradita. Portanto, é um projeto colonial europeu aliado a um ou mais impérios europeus. O parlamento da entidade sionista assume  que:

“Herzl tentou fazer com que o sionismo ganhasse a simpatia dos estadistas e da opinião pública positiva na Grã-Bretanha. Por esta razão, o Quarto Congresso Sionista foi convocado em 1900 em Londres. Ele negociou com o governo britânico as franquias do assentamento em Chipre, na Península do Sinai e na região próxima a Wadi al-Arish, mas suas tentativas de chegar a um acordo sobre assentamentos judeus nessas áreas foram em vão”.

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As “lealdades” de Herzl e sua diretoria vão oscilando conforme o equilíbrio de forças na Europa. Se por um período a relação com o Triunvirato dos Três Pashás foi vista como “positiva”, incluindo a ascensão de uma liderança oriunda da nata jurídica de Salônica que chegou a tentar carreira política e de altos mandos do Estado Otomano na Era dos Jovens Turcos. Sim, trata-se do polonês David Grün, mais conhecido por seu apelido David Ben-Gurion. Na pugna de influência entre a eminente derrota otomana e a ascensão dos Estados Unidos como poder fático do mundo anglo-saxão, a balança pendeu para a costa leste das 13 colônias. Segundo a mesma fonte do Knesset:  

“Os turcos mostraram hostilidade para com os sionistas em Eretz Yisrael durante a Primeira Guerra Mundial, que foram resgatados de possíveis perigos apenas devido ao envolvimento do embaixador americano e da delegação diplomática da Alemanha em Constantinopla. Acabou sendo Chaim Weizmann quem convenceu o governo britânico de que se beneficiaria com o apoio à causa sionista. Em 2 de novembro de 1917, a Declaração Balfour foi feita, afirmando que: ‘O governo de Sua Majestade vê com favor o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu e envidará todos os esforços para facilitar a realização deste objetivo’ … “.

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Assim, a soma de documentação emitida pelos mesmos invasores da Palestina, não deixa sombra de dúvida. Defender os direitos do povo palestino e do Mundo Árabe implica em se posicionar ao lado dos SEMITAS DE FATO e não de convertidos do ano 1000 AD que se espalharam pela Europa, em especial no leste e centro europeu. A estúpida perseguição a essas pessoas europeias de fé judaica foi instrumentalizada em um projeto colonial, onde desde o início assumem o desejo expansionista do “Eretz Israel”. A aliança com os impérios de turno, sendo estes o Otomano na era dos Jovens Turcos, o Britânico, o Germânico antes da derrota da 1ª Guerra e o ascendente império dos Estados Unidos da América garantiu e garante, em última instância, a permanência deste projeto colonial. Os crimes do nazifascismo na 2ª Guerra Mundial e a absurda perseguição operada sobre os judeus europeus serviram de motivação final para manipular a opinião pública de europeus e seus descendentes, assim como para posicionar a Turquia e a ex-União Soviética ao reconhecimento desta invasão.

A representação diplomática do Apartheid na Palestina Ocupada se julga acima do bem e do mal, talvez por deterem mais de 200 ogivas nucleares ou o reator nuclear em Dimona, ou então pela capacidade de colocar seus interesses acima de qualquer gesto  humanitário. Não por acaso no mesmo ano que Chaim Herzog acusou a ONU de se portar como “racista pela condenação ao sionismo”, seu governo secretamente começou as conversações para vender armas nucleares para a África do Sul do Apartheid. Não surpreende, nem o gesto e menos ainda a identificação entre ambos os projetos coloniais. 

* Publicado Originalmente no Monitor do Oriente Médio

As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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