A uma semana da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em Madri, não está claro se a Turquia retirará suas objeções ao ingresso da Finlândia e da Suécia, que na opinião de seu secretário geral, Jens Stoltenberg, se concretizará cedo eu tarde, embora o procedimento de admissão dos dois países escandinavos não se inicie na capital espanhola.
O ex-primeiro ministro norueguês, que está à frente da Aliança do Atlântico Norte, após visitar Finlândia e Suécia há duas semanas, considera que Estocolmo, que recebe mais queixas de Ankara do que Helsinki, está dando “passos importantes” que podem levantar o veto turco; entre outros, “prepara uma reforma de sua legislação contra o terrorismo e se compromete a tornar mais flexível sua política de exportação de armas”, conforme um telegrama da AFP.
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Ao mesmo tempo, Stoltenberg adiantou na segunda-feira passada, em uma entrevista ao londrinense Financial Times, que a OTAN não fixa uma data limite para iniciar o procedimento de admissão de novos membros e reconheceu que a Turquia pôs sobre a mesa “preocupações legítimas que devem ser tomadas em sério”.
O secretário geral destaca que a Turquia é “um membro chave na luta contra o terrorismo, contra organizações como o Estado Islâmico
Para desbloquear o procedimento de admissão, a Turquia – nas negociações que mantém tanto com a Finlândia como com a Suécia, por um lado, e com a OTAN pelo outro, isto é, com quem toma aí as decisões principais, Estados Unidos – apresentou em 25 de maio passado dez exigências para levantar seu veto, que os escandinavos não estão dispostos a satisfazer em sua totalidade.
De acordo com as informações interessadas de Ankara, que emergiram à luz pública através dos principais meios de comunicação turcos, o governo de Recep Tayyip Erdogan, entre outras demandas, quer que os Parlamentos finlandês e sueco “aprovem declarações que expressem apoio a Turquia em sua luta contra o terrorismo”, assim como que proíbam em ambos os países “todas as organizações ligadas com o Partido dos Trabalhadores do Kurdistão (PKK, segundo sua sigla em turco), inclusive fechar todos os seus meios de comunicação e confiscar suas propriedades”.
Notibras
Recep Tayyip Erdogan
Das exigências que mais interessam à Turquia, uma parece factível e outra quase impossível de cumprir. No primeiro caso, é tirar o embargo à venda de armamento e equipamentos militares que a Finlândia e a Suécia estabeleceram em 2019 quando a Turquia ocupou uma faixa do norte da Síria, que pode passar a segundo plano se os Estados Unidos acederem a fornecer o armamento que “congelou” como represália pela aquisição de baterias antiaéreas russas e/ou a incorpora ao projeto de fabricação de um novo caça bombardeiro.
No segundo, nem a Finlândia nem a Suécia estão dispostas a extraditar dirigentes do PKK e seguidores do pregador Fethullah Gullen que obtiveram asilo político, principalmente no segundo país, reclamadas com insistência pela Turquia há muitos anos.
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Hábil como é e para obter quantas concessões possa, Erdogan pressiona cada vez mais Bruxelas, tendo em mente sobretudo Washington. Talvez por isso, há duas semanas, em um encontro com jovens da província de Van, abriu uma nova frente de discrepâncias com a OTAN ao questionar que a aliança, em data recente, tenha acordado com a Grécia abrir quatro bases militares, adicionais às cinco que já tem, em território de seu acérrimo inimigo e, ao mesmo tempo, aliado formal do bloco.
“Quando lhe perguntamos (aos gregos) para que abrem essas bases, nos respondem: ‘É contra a Rússia’. E que fizeram eles para apoiar a Ucrânia contra a Rússia? Suas palavras são puras mentiras. Não podemos confiar na política desse Ocidente”, afirmou o líder turco, de acordo com o portal de notícias TRT da corporação de rádio e televisão turca, dando a entender que a Grécia facilita suas ilhas para instalar bases contra a Turquia.
E uns dias antes, segundo reportou o diário turco Hurriyet, Erdogan disse – em um discurso durante as manobras militares Efes-2022 em Izmir – que a Turquia não vai renunciar aos seus direitos no mar Egeu e não vai se abster de usar faculdades (eufemismos, por empregar as armas) que lhe outorgam os acordos internacionais, quando fizer falta. Não brinco, isto (um conflito armado entre membros da OTAN) pode acabar em catástrofe”.
Rematou o presidente turco com uma dura mensagem à aliança do Atlântico Norte: “Os conflitos e ameaças potenciais em nossa região demonstram que a OTAN necessita como nunca de unidade e solidariedade. Nestes tempos críticos, lamentamos que no mar Egeu, no Mediterrâneo oriental e em Chipre foram adotadas estratégias que põem em perigo os direitos e interesses de nosso país”.
Juan Pablo Duch é correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
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