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Finlândia renuncia a autonomia e soberania por entrada na Otan, avalia especialista

Para Héctor Luis Saint-Pierre, país obedece a pressão muito forte dos EUA e também a uma debilidade política dos europeus nesse momento
Thales Schmidt
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

Rompendo uma tradição de neutralidade mantida durante toda a Guerra Fria, a Finlândia declarou nesta quinta-feira (12) que irá formalizar seu pedido de entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Com mais de 1.300 quilômetros de fronteira com a Rússia, a entrada dos finlandeses marcaria mais uma expansão da aliança militar na direção de Moscou.

“Como membro da Otan, a Finlândia fortaleceria toda a defesa da Aliança. A Finlândia deve solicitar a adesão à Otan sem demora. Esperamos que as medidas nacionais ainda necessárias para tomar tal decisão sejam tomadas rapidamente nos próximos dias”, afirmaram o presidente, Sauli Niinistö, e a primeira-ministra do país, Sanna Marin, em nota conjunta. O texto também destaca que o governo manteve contatos próximos nesse sentido com a Aliança Militar e a Suécia, país vizinho e também de longa tradição de neutralidade.

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O Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a Finlândia seria “calorosamente recebida” e que o processo de entrada seria “suave e rápido”. Para que um novo país entre na Aliança, ele precisa ser aprovado por todos os 30 membros.

Pesquisador de segurança internacional e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Héctor Luis Saint-Pierre avalia que a possível entrada dos países nórdicos na aliança significaria “uma mudança na arquitetura da segurança internacional muito importante”.

“Do ponto de vista estratégico, acho que tanto Finlândia como Suécia perdem um valor inestimável, já que os dois países se mantiveram incólumes durante toda a Guerra Fria, mantendo um certo nível de autonomia estratégica e soberania no concerto das nações. Com essa mudança, eles ingressam em um desenho estratégico que não é nacional, mas sim o desenho da Otan, que por sua vez é basicamente uma visão dos norte-americanos para a região”, diz Saint-Pierre ao Brasil de Fato.

Para Héctor Luis Saint-Pierre, país obedece a pressão muito forte dos EUA e também a uma debilidade política dos europeus nesse momento

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Entrada de Finlândia e Suécia na aliança militar liderada pelos EUA pode significar reconfiguração da Europa

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que uma nova expansão da Otan não traria segurança para a Europa e representaria uma ameaça para Moscou. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia também criticou a medida e afirmou por meio de nota que o país seria “forçado a tomar medidas de retaliação”.

“A adesão da Finlândia à Otan prejudicará seriamente as relações bilaterais russo-finlandesas e a manutenção da estabilidade e segurança na região norte da Europa. A Rússia será forçada a tomar medidas de retaliação, tanto de natureza militar-técnica quanto de outra natureza, a fim de interromper as ameaças à sua segurança nacional que surgem como resultado”, enfatizou o comunicado da chancelaria russa divulgado pela TASS

Héctor Luis Saint-Pierre afirma que o mundo “nunca esteve em um nível tão baixo, político e diplomático”, e que os diplomatas deveriam estar trabalhando para evitar conflitos. O atual cenário, no entanto, é de um preparo bélico substancial.

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Com os finlandeses na Otan, a Aliança Militar poderia instalar mísseis de médio e longo alcance nas proximidades de São Petersburgo, a segunda cidade mais populosa da Rússia, além de fornecer a possibilidade de controlar o Mar Báltico e possíveis entregas de material bélico pela região, ressalta o pesquisador.

O professor da Unesp ainda lembra que a entrada de Finlândia e Suécia na Otan foi ventilada nas primeiras semanas após a Rússia invadir a Ucrânia. Na ocasião, o presidente da Rússia Vladimir Putin acionou protocolos de prontidão das armas nucleares do país.

“A retomada da conversação para incorporação ao Tratado da Aliança obedece a uma pressão muito forte dos Estados Unidos sobre Suécia e Finlândia e também a uma debilidade política dos europeus nesse momento”, avalia o pesquisador. “Cada vez se torna mais plausível o emprego de armamento tático nuclear.”

Thales Schmidt | Brasil de Fato
Edição: Arturo Hartmann


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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