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De volta à Guerra Fria, G7 insiste em discurso maniqueísta para atingir China e Rússia

"Em tese, tudo aquilo que os países do G7 gostariam é que o mundo voltasse para aquela bipolaridade" entre bonzinhos e malvados, aponta professor da Unesp
Thales Schmidt
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia, reunidos no G7, querem isolar China e Rússia para recriar uma bipolaridade nos moldes da Guerra Fria. A avaliação é do professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcos Cordeiro em entrevista ao Brasil de Fato.

Com os convidados Argentina, Índia, Indonésia, Senegal e África do Sul, os membros do G7 se reuniram entre os dias 26 e 28 de junho em Schloss Elmau, na região da Baviera, na Alemanha. Já no primeiro dia, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participou por videoconferência do evento e foi emitida uma declaração conjunta destacando os planos de continuar com as sanções contra a Rússia e de construir um plano de infraestrutura para contrabalancear a China.

A declaração final do encontro cita 32 vezes a Rússia e 14 vezes a China. O texto de 28 páginas – que pode ser conferido na íntegra, em inglês, neste link – destaca que os países signatários são “democracias abertas” e destaca o desejo de impor “custos econômicos” à Rússia por sua “injustificável guerra de agressão contra a Ucrânia”.

A declaração ainda afirma que os países do G7 aumentaram seus esforços para “combater” os efeitos adversos da guerra, com objetivo de garantir “seguranças energética e alimentar global, bem como estabilizar a economia”.

"Em tese, tudo aquilo que os países do G7 gostariam é que o mundo voltasse para aquela bipolaridade" entre bonzinhos e malvados, aponta professor da Unesp

Comissão Europeia
`Plano, contudo, não deve funcionar já que a economia mundial atual é "muito mais integrada" do que a do século XX, avalia Marcos Cordeiro




Petróleo russo

A União Europeia e Estados Unidos têm planos para abandonar completamente ou diminuir a compra do petróleo e do gás russo. Como a Rússia é um dos maiores produtores do mundo destes itens, esse plano tem enfrentado dificuldades. A disparada no preço da energia tem colaborado para a inflação recorde em diferentes partes do mundo.

A mais recente declaração do G7 destaca que um teto de preço pode ser estabelecido para a compra de petróleo russo, abrindo caminho para possivelmente continuar comprando o petróleo do país em guerra com a Ucrânia, desde que com desconto.

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O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta terça-feira que ainda é cedo para discutir o plano do G7 já que não são conhecidos detalhes dele. Peskov destacou que uma discussão sobre revisão de contratos da Gazprom, empresa mista de energia da Rússia, com o governo como acionista majoritário, deverá ocorrer dentro de uma revisão de contratos e que esse processo não será simples, afirma a agência de notícias Tass.

Marcos Cordeiro destaca que as sanções contra Moscou têm se mostrado “insuficientes” e até mesmo um “tiro no pé”, já que a Rússia tem redirecionado sua produção de petróleo para China e Índia, que compram o combustível com desconto. Com isso, o preço da energia disparou no mercado internacional.

“O que de fato tem ocorrido, e daí a preocupação do G7, é que mesmo que as medidas tirem a Rússia do mercado, ou dificultem as transações de petróleo e gás russo, a China e a Índia têm ocupado esse espaço nas exportações de Moscou”, avalia o professor da Unesp.

O pesquisador também destaca que os países do G7, liderados pelos Estados Unidos, buscam recriar uma configuração de forças da Guerra Fria.

Potências criam mundo mais perigoso do que o existente durante Guerra Fria

“Em tese, tudo aquilo que os países do G7 gostariam é que o mundo voltasse para aquela bipolaridade em que você tem os bonzinhos, você tem os malvados e você coloca todo mundo de um lado contra o pessoal que está do outro lado. Não dá para negar que a intenção dos países do G7, principalmente dos EUA, é de recriar as alianças da Guerra Fria contra a Rússia e contra a China. Esse é o desejo”, diz. 

Esse plano, contudo, não deve funcionar já que a economia mundial atual é “muito mais integrada” do que a do século XX, avalia Marcos Cordeiro.

Thales Schmidt | Brasil de Fato | São Paulo
Edição: Arturo Hartmann


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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