Pela primeira vez desde que foi expulso pelo eleitorado e saiu em desgraça da Casa Branca em 20 de janeiro de 2021, sem participar da posse de seu sucessor, Donald Trump regressou a Washington nesta terça-feira (26). Supõe-se que isso seja parte dos preparativos para lançar sua campanha eleitoral presidencial de 2024 e apresentar-se como o retorno de um conquistador, e não de um delinquente.
Em seu discurso diante da chamada Primeira Cúpula Política da América – convocada por ex-colaboradores de seu governo – Trump, obcecado por sua intolerável derrota eleitoral em 2020, atacou as investigações “falsas” contra ele e repetiu sua mentira de que ganhou a eleição de 2020.
Deixou claro, sem anúncio explícito, sua aparente intenção de lançar-se de novo à presidência e ao abordar as investigações em torno dele e acusou, sobre os legisladores do “establishment corrupto”: “querem me prejudicar para que não possamos regressar a trabalhar por vocês”. A fala foi feita diante de aproximadamente 800 participantes – entre eles legisladores republicanos como Ted Cruz e Lindsey Graham e ex-funcionários – que disseram em coro “outros quatro anos” (em alusão ao próximo período presidencial).
“Nunca se esqueçam de que tudo o que este establishment corrupto está fazendo tem a ver com preservar seu poder e controle sobre o povo estadunidense”, advertiu. Falou ainda de um país em decomposição, e receitou mais poder à polícia, ação penal severa contra imigrantes, ampliar seu muro fronteiriço e a expulsão dos sem teto para longe das cidades. Advertiu que “nosso país está indo para o inferno…” inferindo que só ele pode resgatá-lo.
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Mas a capital ainda não superou as feridas da tentativa de golpe de Estado e outras manobras para descarrilar o processo democrático e a primeira vez na história em que foi interrompida a transição pacífica do poder. Na mesma terça-feira em que Trump chegou, um de seus fanáticos foi condenado a mais de cinco anos de prisão por atacar a três policiais do Capitólio durante o assalto à sede legislativa em 6 de janeiro, um de mais de 850 que foram processados penalmente por atender o convite do ex-mandatário para subverter a eleição presidencial.
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Trump está no centro da investigação do comitê seleto da Câmara baixa que detalhou em oito audiências públicas como o então mandatário tentou subverter a eleição, culminando com a convocação de fanáticos a tomar por assalto o Capitólio para frear a certificação do voto.
Em grande medida pela ampla documentação, múltiplas testemunhas da própria Casa Branca e outras evidências apresentadas pelo comitê seleto, há cada vez mais pressão sobre o Departamento de Justiça para anunciar o início de um processo penal contra Trump.
Controle de Trump sob seu partido deteriorou um pouco, embora grande maioria dos republicanos continue desacreditando resultado da eleição
O procurador-geral da nação – e chefe do Departamento de Justiça – Merrick Garland, sublinhou na semana passada, ante perguntas sobre se procederá ou não contra o ex-mandatário, que “ninguém está acima de lei” neste país. Nesta terça-feira, assegurou que “promoverá a justiça sem temor ou favor”, ao avaliar se apresentará acusações formais.
Garland agregou, em entrevista à NBC News nesta terça-feira: “temos a intenção de fazer prestar contas qualquer pessoa que seja criminalmente responsável pelos eventos ao redor do 6 de janeiro, ou qualquer tentativa para interferir com a transferência legal do poder de uma administração a outra”.
Por certo, na noite de terça-feira, o Washington Post reportou que o Departamento de Justiça já está investigando Trump como parte de seu depoimento criminal mais amplo sobre os esforços para subverter os resultados da eleição de 2020. Algumas de suas fontes comentaram que o enfoque poderia ser em conspiração sediciosa e possível fraude. Vale recordar que nenhum ex-presidente foi acusado formalmente de um crime na história do país.
Ao mesmo tempo, Trump e seus cúmplices enfrentam possíveis acusações criminais na Georgia por suas tentativas de reverter o resultado eleitoral presidencial nesse estado.
E um de seus principais cúmplices, Steve Bannon foi condenado por desacato criminal ao Congresso na sexta-feira passada (22) e está à espera de uma condenação à prisão. No entanto, igual a seu ex-chefe, Bannon continua recusando acusações e justificando suas ações com a mentira repetida de que seus opositores são os criminosos. “Vamos destruir este regime ilegítimo”, declarou na segunda-feira (25).
Enquanto isso, o controle de Trump sob seu partido deteriorou um pouco, embora grande maioria dos republicanos – apesar de toda evidência de sua tentativa de golpe de Estado e suas mentiras sobre a eleição que foram difundidas desde que deixou a Casa Branca – continue acreditando que a eleição não foi legítima e o segue apoiando.
Mas outros líderes, incluindo seu ex-vice-presidente Mike Pence e o governador da Flórida, Ron DeSantis, já estão competindo contra o ex-presidente. Uma enquete recente do New York Times registrou que quase a metade dos eleitores republicanos desejam apoiar alguém que não seja Trump.
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Ao mesmo tempo, continuam as advertências sobre como Trump e seus aliados continuam representando uma ameaça à democracia estadunidense – tema constante durante as audiências sobre a tentativa de golpe de Estado. Por exemplo, três almirantes e três generais – publicaram um artigo de opinião no New York Times na semana passada, afirmando que durante o ataque contra o Capitólio de 6 de janeiro “o presidente e comandante-chefe, Donald Trump, abdicou de seu dever de preservar, proteger e defender a Constituição” e também pôs em risco um fundamento desta democracia, o controle civil das forças armadas. Concluíram que “a negligência no cumprimento do dever pelo presidente… pôs em perigo vidas estadunidenses e nossa democracia”.
Alguns analistas sugerem que Trump pode concorrer à presidência apenas para evitar possíveis consequências criminais por suas tentativas de subverter a ordem democrática de seu país.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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