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ToggleAs declarações feitas à imprensa pelo chanceler alemão Olaf Scholz em sua viagem ao Brasil foram surpreendentes, se não sombrias. A naturalidade, insolência e oportunismo com que vem à América Latina para ampliar a declaração de guerra à Rússia feita por seu Ministro de Relações Exteriores em pleno parlamento, e forçando alianças bélicas no Chile, Argentina e agora Brasil, traz várias advertências ao mundo.
Quando Annalena Bärbock, do Partido Verde, diz que seu país, junto com outros, está em guerra com a Rússia, desmonta o argumento do mero apoio militar à Ucrânia. Já nem sequer é possível falar de uma guerra de poder. Oficializa-se a guerra dos países da Otan contra a Rússia. Me pergunto se tem um mandato do povo alemão para tanto e porque Scholz não a despediu imediatamente.
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As posições explícitas de Scholz sobre a guerra da Ucrânia estão perfeitamente de acordo com o desejo destrutivo da Otan e a insaciabilidade delirante de Zelensky por mais e mais armas e não conversações de paz.
O alinhamento total de Scholz com a retórica da Otan é inquietante e me levou a perguntar-me se a declaração explícita de guerra de Annalena Bärbock poderia ser realmente negligente de um ponto de vista interno ou estar respaldada por pelo menos uma disposição do governo alemão.
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Scholz disse e repetiu que a Rússia deve admitir a derrota, retirar-se e devolver à Ucrânia os territórios conquistados. Esta declaração é alheia à realidade militar e política no terreno, já que não há qualquer possibilidade de levar qualquer conflito a uma solução diplomática. Portanto, só pode ser entendida como um sinal claro de que a Alemanha não negociará nada e que só aceita uma rendição completa da Rússia, inclusive com a devolução de Donbass. A guerra será eterna enquanto dure.
A declaração de Scholz é terrivelmente irresponsável considerando-se a proximidade geográfica de seu país em relação à Rússia, as relações históricas e as realidades econômicas contemporâneas (a Alemanha agora está usando carvão), e o perigo de uma escalada. A Otan nunca ouviu falar de diplomacia, mas Scholz deveria ao menos ser diplomático em seu vocabulário e retórica pública. Se fosse recortado, poderia ser um discurso de Clinton ou Trump, ou de qualquer porta-voz do Pentágono.
Foto: Adam Schultz/Casa Branca
Scholz foi vexatório em sua arrogância ao ignorar a nova posição de países como o Brasil no mundo
Passado socialista
É medíocre que o filho de dois trabalhadores da indústria têxtil alemã, que ingressou no Partido Social Democrata aos 17 anos e que se definia como um “jovem socialista”, se desvincule de seu passado e do passado de seu partido. O Sozialdemokratische Partei Deutschlands (SPD) desempenhou um papel chave na Revolução Alemã de 1918-1919, que proclamou a república na Alemanha e ajudou a transformar o país em um estado social-democrata que consagrava a luta de classes como uma forma de Expressar, o que faz parte de sua Constituição Federal.
Mas realmente o que extrapolou foi a solicitação de Scholz a Lula para que enviasse munições à Ucrânia. Lula negou pública e claramente; em sua sutileza pediu que se pronuncie mais a palavra “paz” e que fosse criado um grupo negociador que inclua Alemanha, França e “amigos chineses, que podem desempenhar um papel importante”.
Quem é Olaf Scholz, o atual chanceler da Alemanha?
Este pedido de munições ao Brasil para a guerra na Europa é um ato de alienação política ou de má fé de Scholz, considerando que um dos principais pontos da agenda é a luta conjunta contra a ascensão da extrema direita.
Máquina de guerra
Os países que não fazem parte desta guerra, diferentemente da Alemanha, não precisavam alimentar a máquina de propaganda suprimindo instrumentalmente o conhecimento sobre o alcance dos grupos neonazistas na Ucrânia aos que também apontam estas armas. Mas além disso, sabemos que fazem como parte do aparato estatal da Ucrânia. Não mentimos a nós mesmos e somos capazes de assimilar a realidade.
Não é um fato controvertido que a Ucrânia tem milícias neonazistas no governo, que agem e matam civis como parte de seu exército regular, utilizando a tortura como método, aterrorizando as minorias russas durante mais de 8 anos e desencadeando uma guerra civil no Donbass.
Quanto mais você pode se aproximar de 1933? Sem esquecer que os Estados Unidos, vários países europeus e a União Europeia financiaram milícias neonazistas na região. O governo do Reino Unido até as treinou. Um antigo modus operandi, já que são os mais impiedosos para derrotar o inimigo. Se a Rússia tinha o direito de invadir, já é uma outra questão, que não exclui a capacidade de negociar a paz.
Zona de influência
Scholz tampouco parece estar lendo o entorno em que se encontra. Historicamente, o PT e a esquerda latino-americana criticaram a ingerência estadunidense no bloco oriental e sua afirmação de que o bloco oriental é uma “zona de influência estadunidense”.
Está escrito com sangue nas páginas da história comum deste continente e na onda da guerra legal contemporânea na medida em que os Estados Unidos fabricam sua própria lei internacional desconhecendo os acordos bilaterais. Com a Rússia não foi diferente. Desde a segunda administração Bush, todos e cada um dos tratados diplomáticos que garantem o fim da guerra fria foram rescindidos unilateralmente pelos Estados Unidos.
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Aqui estamos muito conscientes de que Zelensky é o produto de um governo formado em uma revolução colorida (golpe de Estado) liderada pelos “neoconservadores” neoliberais dos EUA e que opera como uma ponta de lança dos EUA no bloco do Leste. A esquerda brasileira não esqueceu a participação direta do Departamento de Justiça e do Departamento de Estado dos EUA no golpe parlamentar contra Dilma nem que a detenção de Lula foi um presente da CIA. Não é uma coincidência histórica ou o espírito da época, é a política estatal dos EUA.
Ignorância
Scholz foi vexatório em sua arrogância ao ignorar a nova posição de países como o Brasil no mundo, e a posição menos cômoda da Alemanha e de nações até então fundadas no mito da hegemonia. As novas realidades geopolíticas já não sustentam o culto das ideias hegemônicas do chamado “mundo ocidental” (o ocidente coletivo).
E, ainda que sociedades fundadas sobre os pilares da exploração e sedimentadas nas ideias de superioridade cultural durante séculos insistam em perpetuar este papel e a guerra fria com a Rússia, a realidade já começa a demonstrar que o desconhecimento cultural e a paixão pelo domínio destas nações não tem tanto alento ou influência. Já não são tão senhores e os outros já não são tão escravos. O tabuleiro de xadrez dos velhos poderes veio abaixo.
Neste contexto, o discurso de Lula é brilhante quando naturaliza o multilateralismo como uma realidade, quando declara que a ONU não corresponde à realidade política e está operando anacronicamente como se houvesse uma guerra fria, e que o Brasil e os países africanos querem unir-se ao Conselho de Segurança da ONU. Para este, anuncia novos papéis.
Esta mensagem parece simples, mas, para mim, vai ao coração desta guerra e da nova realidade que estamos construindo. Enterra o final da guerra fria e seus mecanismos internacionais, e anuncia o surgimento de uma nova ordem mundial. Lula desmascarou a esquerda imperialista europeia cooptada pelas ideias neoliberais. Scholz pode aprender com Lula, a oportunidade permanece.
Sara Vivacqua | Resumen Latinoamericano
Tradução: Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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