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Na música boliviana, um clamor pelo mar que foi roubado

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Foto: Hugo Aseff/ ABI

O mês de março nos traz a lembrança do mar, fervente de história, heroísmo civil e consciência coletiva. Este mês será memorável porque se espera a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haya, sobre a eterna reivindicação de por fim ao bloqueio de Chile imposto já completando 139 anos.

Por Jorge Mansilla Torres*

Em Cochabamba, juntamos três compositores, um letrista e um promotor de arte e revolução para materializar num disco o clamor boliviano por ter de novo o mar, e também para apoiar os nossos representantes da CIJ, Marco Lavayén, Rolando Malpartida e Júlio A. Mercado, usaram seu talento musical para vestir alguns de meus versos. Trabalharam desde janeiro e estamos prontos para gravar este cancioneiro que terás vozes, instrumentos e coral de uns 50 artistas dos nossos, os melhores.

Porém isso custa dinheiro. O jornalista Gastón Núñez saiu na frente de uma árdua campanha para arrecadar fundos entre personalidades e instituições públicas e privadas do país que avaliem nossa iniciativa artístico-cidadã e se disponham a investir no empreendimento que batizamos como Clamor pela volta do mar.

Certamente ninguém tem um orçamento que preveja apoio a esse tipo de projeto, fortuito mas importante como este, porém estamos encontrando autoridades que acreditam e estão dispostas a nos ajudar com os gastos de gravação, edição e difusão do projeto sonoro.

Neste CD afirmamos que, em 1879 não houve guerra, mas sim uma invasão, que não padecemos de mediterraneidade, como é o caso do Paraguai, mas de um brutal bloqueio imposto pelo La Moneda que, além disso, desde o século passado saqueia as águas do manancial Silala e do rio Lauca.

No que me toca, tenho história de êxitos com os três cantautores. Com Lavayén (Savia Sur) e Mercado (Canto popular, Aysana) fizemos duas cantatas para Cochabamba (2010 e 2012) e nove cantos folclóricos. Com Rolando, ex-Kjarka, compomos tincos, kaluyos, morenadas, kantus e a célebre Cueca de dos siglos para a cidade do vale.

É pra já, pois aparecemos com os sons do mar e para o mar. Em um deles dizemos: “A fé na vida começa cada dia ao despertar, quando o boliviano reza: Pai nosso Litoral”. Em outro: “Há três verbos em Bolívia que conjugam com o mar, orações da vida: reclamar, clamar, amar”. Um “bailecito”: “Cansados da OEA, riscamos nossas raias, fomos para Haia, a continuar a lutar”. Um “huayño”: “No Chile, não há liberdade, se mantém prisioneiro o mar”. E um tincu: “A boliviana chegou à praia muito contente e quis nadar, veio a onda, disse a ela, olá, seja bem-vinda ao velho mar…,”

Serão dez canções ou mais, se nessa onda reivindicatória se somarem, como prometem, dez cantoras tarijenhas, Las Mochas Copleras, que em canções com erke e cajá cantam, por exemplo, “Vou navegar de frente, se o mar me for devolvido, porque é coisa diferente… navegar pela internet”.

Estão também outros dois versos, dos 1970 que compõem o clamor: “Llantofagasta querida, prometo não chorar, contigo não há despedida se sei como retornar / Ah mare nostroum saudade de impossível realidade, sem você nascemos sem mãe, mas com identidade”.

Ouça a música Mar para Bolívia do grupo Kala Marka:

https://www.youtube.com/watch?v=UKn4pXkqaKQ

*Colaborador de Diálogos do Sul, de La Paz.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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