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Eu acreditava que Hillary Clinton ganharia as eleições e escrevi isso assim que confirmaram sua candidatura sem medo de errar. Observando e estudando esse país por décadas, constatei que é um país muito previsível, posto que a população é exageradamente ingênua e manipulada pelos meios de comunicação e o centro do poder dominado por uma oligarquia que há séculos sabe o que quer e o que fazer.
Paulo Cannabrava Filho*
Desde a primeira constituição as instituições se desenvolveram para garantir a continuidade do poder e sua estabilidade. Para chegar a presidência do país, por exemplo, se impunham duas condições: primeiro, ser muito rico; segundo, ser da turma, ou seja, pertencer a um clã oligárquico ou ter sido formado para servir a esse clã.
O Colégio Eleitoral foi criado para assegurar esse critério. Se alguém por acaso conseguir maior número de votos dos eleitores nas eleições e não satisfazer os que realmente mandam, não passa no Colégio Eleitoral.
Se houver algum risco usam até mesmo da fraude para garantir que ganhe aquele que foi ungido pelo sistema. A campanha de George W. Bush, por exemplo, financiada pela Enron, a Exxon Mobil e as indústrias dos irmãos David e Charles Koch, a 2a maior corporação privada dos EUA, um dos fundadores da Sociedade John Birch.
Sendo o escolhido, não podia perder. Mas, quem ganhou a eleição no voto popular foi Al Gore, do Partido Democrata. Então, Jeb Bush, outro filho de Bush, era governador da Flórida, garantiu que o software de controle do sistema eleitoral excluísse 57,7 mil eleitores dos registros, 90% entre eles negros e/ou latinos, eleitores do Partido Democrata. Com isso o caçula dos filhos de Bush teve 573 votos a mais que Al Gore.
Como o Bush pai também fora ungido. Fez carreira na Cia e era vinculado à exploração do petróleo, inclusive em sociedade com a família saudita de Osama Bin Laden. Quando deixou a Casa Branca, assumiu o conselho administrativo da mega mina de ouro do saudita Adman Khashog, um vendedor de armas para os países islâmicos.
Na realidade o comando do país era decidido por instituições como o Conselho de Relações Exteriores, o CRF, liderado pelo clã Rockefeller e várias organizações desse tipo como a Comissão Trilateral, Grupo de Santa Fé, fundações e institutos, os chamados think tank, que desenham as estratégias a ser seguida por cada mandato presidencial.
Desde há muito tempo era o complexo militar industrial energético, comandado pelo clã Rockefeller que representava o poder real nos EUA. Assim, um Al Gore não teve chance de chegar à presidência apesar de ter ganho a eleição do voto popular. Assumiu Bush filho, o ungido.
A partir do Consenso de Washington, ou seja, a partir de 1990, a balança nos centros de decisão começa a pender para o capital financeiro. Expressão disso é a ascensão de Robert Rubin ao Conselho de Relações Exteriores (CRF) e ao Conselho Nacional de Economia (CNE), este criado também no início dos anos 1990. Rubin foi do Goldman Sachs, depois do Citigroup, do FMI e secretário do Tesouro.
No governo de Fernando Henrique Cardoso se dizia, nos EUA, que Rubin era o verdadeiro presidente do Brasil. Eu pensava que era Armínio Fraga, colocado para dirigir a economia do país por George Soros, na época o maior especulador financeiro do planeta.
Já na segunda metade dos anos 1990 foi criada a Move On.org que rapidamente se espalhou por todo o território estadunidense. Um think tank bem diferente dos tradicionais. Não é um partido mas funciona quase que como um partido. Ele se parece bastante com o IPES, criado por Golbery do Couto e Silva em fins da década de 1950 e que teve papel fundamental na articulação do golpe de 1 de abril de 1964.
O MoveOn arregimenta quadros nas universidades, nos meios de comunicação, em instituições e empresas e também nos órgãos de governo. Tem milhões de membros que contribuem individualmente e, claro, uns poucos bilionários que a controlam. O maior controlador: Soros Open Society, ou seja, George Soros.
Essa turma botou muito dinheiro na campanha de Barack Obama e estavam apostando na eleição de Hillary Clinton. Soros deu 1.5 milhão de dólares para a campanha dela. Imagine o exemplo que EUA daria ao mundo: depois de ter um presidente negro elegeu uma mulher para presidir o país!
E todos os meios de comunicação em uníssono entraram na campanha. Não podia ser diferente posto que tanto lá como aqui os meios são porta-vozes do capital financeiro, da ditadura do capital financeiro, ou, como diz Chomsky, do liberalismo totalitário.
Alguns intelectuais estadunidense alertaram que o Trump estava marchando como um trator na maioria dos estados e ganharia no Colégio Eleitoral. Com todos esses antecedentes era aceitável duvidar. Contudo, ganhou o anticandidato. Por que anticandidato? Porque não é da turma, não foi ungido pelos donos do poder, os todo poderosos senhores das guerras. Mas ganhou, inclusive com maioria nas duas casas legislativas.
E agora?
A MoveOn já sinalizou que tratará de tornar a vida insuportável para Trump. Tal como fizeram aqui com a nossa presidente Dilma Rousseff. As grandes manifestações de protesto contra Trump em todo o país, principalmente nas grandes capitais, foram articuladas pela MoveOn. E boa parte da imprensa está apoiando essas manifestações.
Não se sabe, ainda, o que poderia estar por trás de Trump. Visto por outro ângulo, ele provocou o verdadeiro “big one”, o terremoto que deu a maior chacoalhada no cenário político e social dos EUA. A partir daí muita coisa pode acontecer, tanto pro bem como pro mal.
A primeira verdade que se destaca é que Trump derrotou a grande mídia consensual. Ele disse reiteradas vezes durante a campanha, “não estou competindo contra Hillary, estou competindo contra os corruptos meios de comunicação”. A mídia espetáculo. Lá como aqui nunca se viu os meios de comunicação a promover uma campanha tão sórdida, tão mentirosa, tão vazia de ética. Isso pode significar que o povo começa a não se deixar enganar pela mídia, o que seria algo muito positivo.
Outro sintoma positivo, é o sentido de protesto que se vê nos votos a Trump. De uma população que com certeza viu algo de positivo nas críticas do candidato à dominação do capital financeiro, aos efeitos da globalização, às promessas de fazer com que as indústrias retornem ao país, o que significa empregos.
Devem estar muito contentes os religiosos fundamentalistas, sejam católicos romanos, protestantes luteranos, ou adventistas e neopentecostais. Contentes com o compromisso de Trump de “acabar com o atual ataque contra a vida humana, o matrimônio verdadeiro, a família, a liberdade religiosa e as demais instituições que permitem um autêntico florescimento para todo o povo”, segundo a Human Life International.
Os discursos do candidato apontam para um retorno do país às suas fronteiras para cuidar por um tempo de arrumar a casa, que por sinal está bem desarrumada. Dívida impagável, guerras invencíveis e intermináveis, bancos quebrados, 60 mil indústrias a menos, crise energética, falta de dinheiro para manter uma política de imposição da hegemonia.
Então o que está a ocorrer lá é o mesmo que está ocorrendo aqui. Quem disputa a eleição, tanto lá como aqui, são Robert Rubin e George Soros. Eles perderam a eleição lá como perderam a eleição na capital de São Paulo. É uma nova direita em ascensão: o Ovo da Serpente.
ˆJornalista, editor de Diálogos do Sul