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Neoliberal, presidente Piñera é o mais mal avaliado da história latino-americana

Há “um vazio de poder muito grande", ao ponto que “vivemos de fato um parlamentarismo, mas o Parlamento também está deslegitimado", diz analista
Aldo Anfossi
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Sempre pode ser pior: o presidente Sebastián Piñera bateu os recordes de impopularidade aos quais caiu após a explosão social de 18 de outubro no Chile; A prestigiosa pesquisa que realiza o Centro de Estudos Públicos (CEP) revelou que o rechaço à sua presidência alcança 82% da população e que apenas 6% a respalda.

Não há precedentes disso no Chile e desde o retorno à democracia em 1990, jamais um governo esteve tão no chão. A pior marca foi da ex-presidenta Michelle Bachelet, que em seu segundo mandato (2014-18) na mesma pesquisa, em agosto de 2016, marcou 15% de aprovação e 66% de rechaço.

E há mais: nunca um presidente sul-americano foi mais mal avaliado. O peruano Alejandro Toledo (2001/06) e o argentino Fernando de la Rúa (1999/2001) chegaram a cair até 8%. Enquanto o equatoriano Abdalá Bucaram (1996/97) e a brasileira Dilma Rousseff (2011/16) afundaram até 7%.

Há “um vazio de poder muito grande", ao ponto que “vivemos de fato um parlamentarismo, mas o Parlamento também está deslegitimado", diz analista

Reprodução Twittter
Piñera é o presidente mais impopular da historia do Chile

Falta generalizada de legitimidade

A profundidade da ruptura ocorrida no Chile se reflete também em que a falta de legitimidade consome todas as instituições e líderes políticos. A pesquisa mostra que os poderes Legislativo e Judicial, a polícia (Carabineros) e os partidos, particularmente os opositores, são pessimamente avaliados. Ao Parlamento 80%  qualificaram de “mal” ou “muito mal” seu desempenho; a Justiça tem 70% de desaprovação; Carabineros se afundou na confiança de 57% a 17%. 

E os partidos, desacreditados há muito tempo com apenas 6% de confiança em 2017, caem agora a 2%. 

A respeito do processo para redigir uma nova constituição, a maioria dos chilenos – 67% – disse que no plebiscito previsto para 26 de abril votará “aprovo”, 13% “não aprovo” e 20% disse “não saber” ou “não respondeu”. A respeito que quem a redige, 44% favorecem a opinião de uma constituinte integrada só por participantes eleitos; e 37% preferem uma assembleia mista entre parlamentares e delegados eleitos. 

Os analistas

Acerca da viabilidade de que Piñera continue na presidência com o escasso respaldo que tem, Ernesto Águila, analista político e acadêmico da Universidade do Chile, adverte que o nível de aprovação (6%) está quase na margem de erro de uma pesquisa e significa “um vazio de poder muito grande em um regime presidencialista”, ao ponto que “vivemos de fato um parlamentarismo, mas o parlamento também está deslegitimado”.

Quanto ao que virá, Águila faz ver que o Chile se adentrará a partir de março (fim do período estival) em “um cenário muito incerto com autoridade presidencial muito debilitada, mas a rigidez institucional do presidencialismo impede uma saída dentro da própria institucionalidade. Já fracassou uma acusação constitucional e vivemos uma situação de desgoverno evidente. Existem dúvidas de que esta situação resista os dois anos que restam. O tema não é só a saída de Piñera, mas quem o vai suceder, há saudades conservadoras e autoritárias sempre espreitando”. 

Quanto ao descrédito dos partidos políticos e as perspectivas que isso pode significar para o surgimento de novas forças e de setores independentes no processo plebiscitário, Ernesto Águila diz que a profundidade da crise de representação política torna difícil visualizar uma saída, porque “o movimento social é receoso e desconfiado tanto das instituições como das elites e reluta em ser representado. Entende que uma nova constituição é necessária mas desconfia das representações”. 

“É bastante possível que um movimento da magnitude do que vivemos gere um novo sistema de partidos ou uma reestruturação muito profunda deles. Os partidos políticos são hoje a instituição mais mal avaliada no Chile. É difícil pensar em uma saída à crise atual sem uma superação da crise de representação. Crise social e crise de representação vão de mãos dadas hoje no Chile”, afirma. 

Mauricio Morales, cientista político da Universidade de Talca, diz que “o Chile não resiste a uma renúncia presidencial. Apesar da popularidade de Piñera haver chegado a mínimos históricos, o país não está em condições de absorver uma nova crise dessa envergadura. A única saída para o Governo está na agilização da agenda social que está no Congresso”, Também afirme que é necessário um novo gabinete em março, dado que há ministros muito mal avaliados. 

“Piñera deve conduzir o processo Constituinte de maneia ordenada. O único que se pede a ele é restituir a ordem pública como garantia mínima para desenvolver o plebiscito e as eleições de outubro. Programaticamente seu Governo já morreu, mas tem o dever de resguardar o estado de direito”. 

Quanto ao desprestígio da política, Morales diz que “não é novidade e os resultados não são surpreendentes” porque o Chile mostra baixos níveis de identificação partidária desde fins dos 90, embora “as pessoas sejam críticas dos partidos, mas sabem que são necessários para a democracia”. Uma coisa é a imagem dos partidos, e outra muito diferente seu papel indispensável em qualquer democracia, embora devam melhorar seus elencos. 

* Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Aldo Anfossi

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