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New York Times entra no jogo de propaganda e desestabilização política contra Obrador

Jornal publicou matéria sobre suposta relação entre presidente do México e narcotráfico mesmo após governo dos EUA negar ligação
Gerardo Villagrán del Corral
Estratégia.la
Cidade do México

Tradução:

A Casa Branca e o Departamento de Justiça estadunidense asseguraram que não há nenhuma investigação sobre o presidente Andrés Manuel López Obrador (2018-), referindo-se a uma reportagem do jornal The New York Times sobre pesquisas quanto ao suposto financiamento do narcotráfico a colaboradores do mandatário em sua campanha eleitoral de 2018.

The New York Times (NYT) publicou, em 22 de fevereiro, uma peça de propaganda e desestabilização política disfarçada de reportagem. O texto aborda as supostas indagações de agentes estadunidenses sobre a ficção do financiamento eleitoral do crime organizado para as campanhas do presidente Andrés Manuel López Obrador em 2006 e 2018, segundo editorial de La Jornada.

Acresce que a maneira como se encontra estruturado o texto, o momento escolhido para divulgá-lo, a falta de provas ou pelo menos indícios que sustentem as afirmações, a violação dos princípios de ética jornalística e as contradições que o percorrem, deixam claro que o jornal e os autores em nenhum momento buscaram fornecer ao público um trabalho informativo.

Trata-se de semear uma notícia falsa, plantar uma suspeita, que imediatamente é amplificada e viralizada por empresas dedicadas à distorção da democracia, como os trollcenters.

Em sua tentativa de golpear o presidente mexicano, o rotativo é de uma insolência que está fora de lugar no trato com qualquer país e que constitui a enésima amostra da arrogância colonialista e racista com que a grande mídia ocidental se dirige a todo o mundo não branco.

Delata ainda os vínculos e as afinidades entre tais corporações midiáticas e as direitas latino-americanas, tratadas com uma deferência incompreensível se não se leva em conta que para estas empresas a informação não é um fim, e sim um meio para o lucro e a promoção de interesses particulares, não poucas vezes inconfessáveis.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da administração Biden, assegurou “que o Departamento de Justiça, que tem a responsabilidade de rever qualquer acusação, já deixou claro que não há nenhuma investigação sobre o presidente López Obrador”. Acrescentou que a administração de Joe Biden continua trabalhando com o governo mexicano para abordar a migração sem precedentes no hemisfério e a situação da fronteira.

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Jornal publicou matéria sobre suposta relação entre presidente do México e narcotráfico mesmo após governo dos EUA negar ligação

Foto: AMLO
AMLO: “É uma vergonha, não há dúvida de que este tipo de jornalismo está em franca decadência. É um pasquim imundo o New York Times”

Campanha anti Morena

O partido oficialista Morena apresentou uma denúncia ao Instituto Nacional Eleitoral (INE) mexicano para ser investigada ao nível internacional uma “estratégia digital financiada a partir do estrangeiro” com base na qual se pretende associar ao narcotráfico o Presidente López Obrador e seu partido.“ Estão gastando um milhão de dólares por semana só em trols e bots”, como parte de um financiamento ilegal para a disputa em favor de Xóchitl Gálvez, candidata presidencial da oposição.

A imprensa estadunidense trata de desacreditar por todos os meios o governo de López Obrador ante a possibilidade de que a candidata oficialista Claudia Sheinbaum ganhe as eleições presidenciais. Este não é o primeiro ataque sem prova alguma da imprensa estadunidense, tão propensa ao exercício da desinformação e a acompanhar o governo em suas campanhas sujas e ingerência nos assuntos de terceiros países com governos progressistas, para desestabilizá-los.

Um mês atrás foi divulgada outra “reportagem” similar, assinado por Tim Golden – vencedor de dois prêmios Pulitzer -, na mídia ProPublica, que rapidamente caiu em descrédito por sua falta de credibilidade e de fontes. Na oportunidade, López Obrador acusou o jornalista de ser um mercenário a serviço da DEA (a Agência Antidrogas estadunidense): “Deveriam dar-lhe um prêmio à calúnia. Como vai caluniar impunemente? Como vai fazer uma reportagem sem apresentar provas?”, indagou.

Ninguém duvida que seja a DEA a fonte das “fakenews” divulgadas, já que não escondeu seu mal-estar com um governo que defende a soberania de seu país, retira dele a patente de corso com a qual costumava operar e exige dele o cumprimento das leis em sua atuação dentro das fronteiras mexicanas.

“Como vamos estar sentados à mesa falando do combate às drogas, se eles, ou uma instituição deles, está filtrando informação e me prejudicando… não a mim, o que eu represento!”, exclamou o mandatário em conferência de imprensa, após criticar as filtrações informativas “de que eu estou metido no narcotráfico, sem apresentar provas”.

La Jornada mostra que ao tornar-se porta-voz oficioso dos poderes fáticos que pressionam de maneira ilegal o Executivo federal, o NYT confirma sua vocação propagandística e o predomínio das considerações mercantis sobre as periodísticas em sua tomada de decisões.

O pseudojornalista lança a “fake news” insinuando que as investigações foram encerradas porque o governo estadunidense não queria criar fricções com sua contrapartida mexicana, embora reconheça que a informação reunida provem de informantes cujos testemunhos podem ser difíceis de confirmar e às vezes podem ser incorretos, e que não está claro se uma única das asseverações pôde ser corroborada. Ou seja, existe má-fé.

O formato é conhecido: nunca nada corroborado ou corroborável, como a série de especulações sem sustentação documental ou material e fontes não identificáveis: um informante, investigadores estadunidenses, pessoas que se acreditava que eram operadores do cartel, uma pessoa próxima do Presidente… A má-fé é evidente porque qualquer editor jornalístico teria exigido especificar datas, pelo menos.

O NYT assegura que para Washington é algo complexo e inusual fazer acusações penais contra altos funcionários estrangeiros, asseveração que se dá em um momento em que o ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández (2014-2022), se encontra preso nos Estados Unidos, onde é julgado por narcotráfico.

Os mexicanos recordam que em 1989 as forças armadas estadunidenses invadiram o Panamá, depuseram seu governo, sequestraram o presidente acusando-o de narcotráfico e impuseram um governo títere no mais puro estilo colonial em uma base militar dos EUA.

La Jornada mostra que como bem sabem os habitantes dos 70 países que sofreram agressões militares da superpotência, a única coisa inusual e complexa para os EUA é respeitar a soberania alheia e o direito internacional.

“Pasquim imundo”

López Obrador chamou de “pasquim imundo” o The New York Times por “denunciar” supostos pagamentos do narcotráfico para sua campanha eleitoral de 2018. “É uma vergonha, não há dúvida de que este tipo de jornalismo está em franca decadência. É um pasquim imundo o New York Times”.

O governante mexicano exibiu uma carta da correspondente do jornal no México, Natalie Kitroeff, que inclui seu número telefônico e um questionário sobre a investigação dos supostos subornos do Cartel de Sinaloa e do Cartel dos Zetas.

Segundo o texto de Kitroeff, o NYT teve acesso a documentos e entrevistas em que um informante contou que “um dos confidentes mais próximos ao presidente” reuniu-se com Ismael Zambada, um dos líderes do Cartel de Sinaloa antes das eleições de 2018.

A jornalista afirmou que Washington encerrou a investigação porque “poderia provocar um conflito diplomático com o México”, em particular depois do problema do Governo de López Obrador com o de Donald Trump (2017-2021) pela prisão em outubro de 2020 do ex-chefe do Exército mexicano, Salvador Cienfuegos, acusado de narcotráfico.

Corolário: O Instituto Nacional de Transparência, Acesso à Informação e Proteção de Dados Pessoais (INAI) informou que iniciará uma investigação de ofício contra o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pela divulgação do número telefônico de uma jornalista de The New York Times.

Gerardo Villagrán del Corral | Antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la)
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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