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No epicentro da pandemia, Donald Trump despreza ONU, corta recursos e ataca OMS

Além disso várias nações acusam o atual governo dos EUA de não cumprir suas obrigações como país sede, negando vistos a altos dignitários e diplomatas
Ibis Frade
Prensa Latina
Havana

Tradução:

Desde o início da pandemia da Covid-19 no mundo, as autoridades da ONU começaram os apelos à solidariedade global e a coordenar ações para enfrentar a crise, guiadas pelas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Essa entidade das Nações Unidas se encarrega de coordenar a resposta a esta emergência global, e também envia equipes de assessoramento e equipamentos médicos às nações mais necessitadas.

Justo quando os Estados Unidos apareceram como o epicentro da pandemia, com alarmantes cifras de mortes e contágios, o presidente Donald Trump decidiu suspender os recursos para a OMS fazendo duras declarações contra este organismo.

O atual chefe da Casa Branca acusou a OMS de equivocar-se em suas recomendações e não alertar a tempo sobre a expansão da Covid-19.

“Quero dizer, equivocaram-se muito, também reduziram ao mínimo a ameaça com muita força e não foram bons”, afirmou o chefe de Estado, que tentará minimizar a pandemia durante semanas.

Segundo o The New York Times, Trump continua enfurecido com as críticas que recebe acerca de sua resposta à emergência, e busca obter crédito por seu desempenho.

O anúncio do mandatário provocou de imediato mal-estar na comunidade de saúde do país, inclusive na Associação Médica Estadunidense, a qual emitiu uma declaração qualificando a medida como um “passo perigoso na direção equivocada” e instou o presidente norte-americano a reconsiderá-la.

Também a mídia estadunidense critica o chefe da Casa Branca por buscar tirar proveito político do novo coronavírus, frente às eleições de novembro próximo.

Desde sua chegada ao poder, o atual mandatário estadunidense não cessa de atacar a ONU e suas agências; de fato, cortou abruptamente o financiamento de várias delas e, também, abandonou entidades do organismo multilateral. Em 2018, os Estados Unidos saíram do Conselho de Direitos Humanos e, no começo de 2019, com Israel, retiraram-se da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Trump cortou o financiamento de seu país para o Fundo de População das Nações Unidas, e para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, além de atrasar cada ano os pagamentos à ONU.

Também decidiu a retirada da nação do norte do Acordo de Paris sobre mudança climática, do Pacto mundial sobre migração, e do acordo nuclear com o Irã, assinado com a França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China, e apoiado pelas Nações Unidas.

Embora os Estados Unidos acolham o edifício central da ONU e devam facilitar o trabalho do organismo, vários Estados-membros acusam o atual Governo de não cumprir suas obrigações como país sede, negando vistas a altos dignitários e diplomatas, e restringindo o movimento de representantes de nações acreditadas ante as Nações Unidas.

Além disso várias nações acusam o atual governo dos EUA de não cumprir suas obrigações como país sede, negando vistos a altos dignitários e diplomatas

Prensa Latina
O presidente Donald Trump decidiu suspender os recursos para a OMS fazendo duras declarações contra este organismo

Qual a postura da ONU e da OMS?

Depois de se inteirar do anúncio de Trump, o secretário geral da ONU, António Guterres, afirmou que este não é o momento de cortar recursos da Organização Mundial da Saúde.

A OMS deve receber apoio porque é absolutamente essencial para ganhar a guerra contra a Covid-19, disse o titular das Nações Unidas em um comunicado.

Guterres prometeu que, uma vez superada a pandemia, haverá oportunidade de olhar para atrás e as “lições aprendidas serão essenciais para abordar eficazmente desafios similares que possam surgir no futuro”.

Agora é momento de unidade e de que a comunidade internacional trabalhe solidariamente a fim de deter a expansão do novo coronavírus e suas devastadoras consequências.

O diretor de emergências da OMS, Mike Ryan, destacou que essa entidade alertou o mundo, já em 5 de janeiro, sobre os perigos da propagação mundial da Covid-19.

Os primeiros informes emitidos falam de “pneumonia atípica”, porque havia apenas 41 casos em Wuhan, na China. Mas desde as primeiras informações, os países foram advertidos sobre o potencial de transmissão pessoa a pessoa, disse.

Enquanto isso, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apelou para que a crise gerada pela pandemia não seja politizada e pediu solidariedade em nível global para enfrentar a situação.

“Nosso compromisso com a saúde pública, a ciência e com servir as pessoas sem medo e sem favoritismos segue sendo total. Nossa missão e mandato é trabalhar com todas as nações equitativamente, sem importar o tamanho de sua população ou sua economia”, garantiu.

O titular da OMS lamentou a decisão dos Estados Unidos de congelar o financiamento para a agência encarregada da saúde mundial.

A OMS está avaliando o impacto financeiro dessa decisão de Trump e trabalha com outros Estados-membros da ONU para assegurar que continuem sem interrupções os trabalhos para enfrentar o novo coronavírus e outras muitas enfermidades.

Ghebreyesus explicou que será feita uma avaliação por parte dos observadores independentes e dos Estados-membros, seguindo o processo habitual.

Não há dúvida de que serão identificadas áreas a melhorar e que haverá lições a aprender, destacou, mas agora a prioridade é frear o novo coronavírus e salvar vidas.

Ibis Frade, Correspondente de Prensa Latina nas Nações Unidas.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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