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O Antagonista: A guerra suja de notícias falsas e bots para impor o capitão Bolsonaro

Stella Calloni, jornalista argentina especializada em política internacional nos mostra o quanto é indispensável estudar a chamada “guerra psicológica” na campanha fraudulenta do presidente eleito
Stella Calloni

Tradução:

O triunfo de Jair Bolsonaro no Brasil em eleições condicionadas, por várias razões, como a prisão ilegal do candidato do Partido dos Trabalhadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em todas as pesquisas aparecia na frente com porcentagem insuperável, assim como o fato de não se terem sido chamados observadores internacionais quando essas eleições transcorreram sob um governo ilícito como o de Michel Temer, depois de um golpe judicial, midiático e parlamentar contra a ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Bolsonaro havia ameaçado não reconhecer uma derrota e mencionado que o exército estava preparado para essa circunstância. De fato, Temer havia envolvido os militares no Rio de Janeiro em segurança interna com presença nas ruas e em ações supostamente antidrogas nas favelas. 

Estes e outros dados de impacto correspondem em realidade ao esquema da contra insurgente Guerra de Baixa Intensidade (GBI) aplicada pelos Estados Unidos para controlar a região que considera seu “quintal” e que tem enormes riquezas e reservas de recursos não renováveis. Brasil é sem dúvida um dos países chaves para o projeto de recolonização e controle da região.

Neste marco é indispensável estudar a chamada guerra psicológica (de Quarta Geração) na qual a arma de destruição em massa (de consciências) é a desinformação. Os meios massivos de comunicação no Brasil, como o monopólio da Rede Globo, foram chaves nesta “guerra suja” e os novos desenhos de redes para uma amplíssima semeadura de notícias falsas, que paralisam, confundem, desarticulam o senso comum, e anulam qualquer possibilidade de pensamento crítico.

Stella Calloni, jornalista argentina especializada em política internacional nos mostra o quanto é indispensável estudar a chamada “guerra psicológica” na campanha fraudulenta do presidente eleito

Youtube / War Games
A utilização desses mecanismos foi fundamental na campanha de Bolsonaro, destacando-se o site O Antagonista, o principal criador de conteúdo

O Antagonista

A utilização desses mecanismos foi fundamental na campanha de Bolsonaro, destacando-se o site O Antagonista, o principal criador de conteúdos inseridos no esquema de Fake News (notícias falsas) que apoiou o candidato ultradireitista. Além disso, os conteúdos foram replicados por bots (robôs) nas redes sociais Twitter, Facebook e Whatsapp.

Desta maneira, O Antagonista se converteu em um dos grandes líderes de difusão de notícias falsas não apenas no Brasil, contra o PT, mas contra Cuba e o programa Mais Médicos, ao qual Bolsonaro atacou de forma direta, ameaçando as missões cubanas que trabalhavam em lugares onde nunca, na história desse país, haviam chegado médicos.

Milhões de brasileiros foram atendidos com responsabilidade, eficiência e humanidade pelos médicos cubanos reconhecidos em todo o mundo, e a saída desses profissionais do Brasil provocou grandes manifestações populares de protesto que, por outra parte, expressaram o respeito e o agradecimento das populações favorecidas em diversos lugares do país.

As campanhas de notícias falsas contra as missões médicas de Cuba no Brasil surgiram das mesmas redes que configuraram as brutais campanhas contra o PT e sua direção.

O site O Antagonista foi criado e manejado pelos jornalistas do O Globo e da Veja, Merval Pereira e Diogo Mainardi, respectivamente. Eles mantinham reuniões com diplomatas da embaixada e consulado dos Estados Unidos, e estiveram diretamente vinculados à Central de Inteligência (CIA) desse país. 

Também forma parte desse grupo, Mário Sabino, considerado como um dos “pais fundadores” de O Antagonista, que foi chefe de redação da revista Veja em sua fase mais obscura, lugar que abandonou para entrar neste site com seu colega Mainardi.

Estas vinculações com os Estados Unidos surgem de uma série de documentos revelados pelo WikiLeaks, que incluem fotos de reuniões de diplomatas estadunidense com  Mainardi e Pereira.

Ambos haviam sido assinalados por analistas brasileiros como tendo servido diretamente às ordens do cônsul dos EUA no Rio de Janeiro, – o qual se vincula diretamente com a CIA – nas eleições de 2010 entregando e divulgando notícias falsas desde então e colaborando com o governo norte-americano nos planos estratégicos para intervir nas eleições deste ano.

Além disso, nos mesmos documentos foi demonstrada a relação de ambos os jornalistas com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

O ultradireitista Diogo Mainardi, durante um almoço privado no dia 2 de janeiro deste ano com o cônsul dos EUA no Rio de Janeiro, falava de como articular políticas e alianças para derrotar o PT. Estava tratando de buscar novas fórmulas políticas para ajudar José Serra, candidato do PSDB, a ganhar do PT.

Sob o título de “Telegrama 10 RIODEJANEIRO 32” citado pelo WikiLeaks, ficou conhecido que o colunista do O Globo, Merval Pereira, também esteve com o cônsul no dia 21 de janeiro de 2010, mencionando que havia falado com  Aécio Neves, então governador de Minas Gerais, e que decidido apoiar Serra, inclusive integrando seu comitê. Esta informação com uma série de dados importantes aportados pelo WikiLeaks evidenciava a estreita relação entre os meios de comunicação do poder brasileiro e o governo dos Estados Unidos.

Desde então o site O Antagonista foi crescendo e em 2018 cumpriu com seus objetivos de inundar o país com falsas notícias para desacreditar, destruir moralmente, de maneira criminosa, os líderes do PT de acordo com as indicações de diplomatas estadunidenses como revela o WikiLeaks.

Mainardi, como informante da CIA, cujos agentes trabalham também sob essa fachada no consulado dos EUA em São Paulo, mantém estreitas relações com eles e também aparece ligado a temas candentes no Brasil como é o caso da Odebrecht.

Em algum momento, advogados da defesa de Marcelo Odebrecht, “o arrependido” e poderoso homem dessa empresa, protestaram porque em uma das apresentações secretas de seu defendido descobriram que O Antagonista estava “transmitindo em tempo real” tudo o que acontecia na sala de audiência. 

O jornalista Eduardo Guimarães do “Blog da Cidadania” mencionou a difusão ilegal de informação referente à operação Lava Jato, no marco de uma ofensiva judicial. Haviam-se filtrado declarações secretas do delator “arrependido” Marcelo Odebrecht ao juiz Sergio Moro que havia decretado a confidencialidade sobre todo o processo de investigação das listas de doações (propinas) realizadas pelo grupo Odebrecht, que figuravam nas planilhas apreendidas pela Polícia Federal e que afetavam mais de 200 políticos de diversos partidos políticos do país.

Mas o fato de que O Antagonista tivera acesso ao segredo e acabara com o protocolo de confidencialidade permitiu que isso ficasse conhecido mediante vídeos, e também que as informações fossem utilizadas e manipuladas. 

É importante estabelecer que como “arrependido” para se salvar, Odebrecht se prestou e se presta para revelar meias verdades, mas também mentiras absolutas que o poder hegemônico necessita para utilizar a justiça como método de perseguição política contra os dirigentes da região que os Estados Unidos consideram seus “inimigos”.

Quem está por trás do portal  O Antagonista

Em uma nota de André Pasti e Luciano Gallas no Le Monde Diplomatique do Brasil sob o título de “Os meios antipetistas: quem está por trás do portal  O Antagonista”,  dizem que esse site divulgou de forma exclusiva os resultados de interrogatórios de Sergio Moro e os publicou em uma quantidade surpreendente de matérias (manipuladas) com duros ataques ao PT.

Além disso, O Antagonista agindo como assessoria de imprensa para a extrema direita brasileira e como um portal antipetista, converteu-se em referência dos meios pró Bolsonaro.

Já nas eleições de 2018, O Antagonista se destacou trabalhando como “serviço de assessoria de imprensa” informal da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República.

Ante esta situação, analistas brasileiros consideraram que era pertinente investigar o papel do portal no crescimento da extrema direita do país, assim como os interesses que motivaram a empresa a defender a candidatura de Bolsonaro e a construção de um imaginário anti-PT no Brasil. 

No caso da Odebrecht, Mainardi aparece implicando o ex-senador e candidato presidencial Aécio Neves, em temas de corrupção, embora até agora ele tenha escapado das investigações por causa de suas relações com o judiciário. 

A mão que balança o berço

Investigando quem está por trás desse site, chegou-se a empresas dos Estados Unidos, ligadas a delitos financeiros, mas também se aponta o senador estadunidense Marco Rubio, de origem cubana, convertido em assessor  do presidente Donald Trump sobre América Latina, como um dos principais financistas, e de outras firmas vinculadas com o negócio das Fake News (notícias falsas) durante a campanha presidencial de Bolsonaro.

Rubio teria enviado dinheiro por meio de assessores do agora presidente eleito do Brasil e por essa razão, ele e outro senador republicano, Ted Cruz – também da mesma origem cubana – que se distinguem por agir contra todos os governos progressistas da região e especialmente contra Cuba, estariam pressionando diretores e companhias de Whatsapp, Twitter e Facebook  para impedir que seja revelada a montagem das Fake News e os montantes de dinheiro utilizados por Bolsonaro e pelo site O Antagonista para esta “guerra suja” contra o PT.

Desta maneira O Antagonista apareceu como um dos mais importantes sites de internet do Brasil, cuja temível escola conseguiu se impor em muitos lugares. Claudio Dantas é o editor encarregado deste site financiado por Empres Empiriws Research (50 por cento), Mainardi (30 por cento) e Mario Sabino (20 por cento); neste caso o dinheiro de ambos os jornalistas também viria de fora. 

Empres Empiriws Research é uma companhia de notícias e publicidade que pertence a The Agora, empresa radicada em Baltimore, implicada no esquema Kake News, (cadeia de televisão) agindo contra o candidato presidencial pelo PT, Fernando Haddad, em uma brutal propaganda de guerra psicológica, apoiada pelas poderosas cadeias pentecostais, que teceram suas teias no Brasil. Também é importante entender quem esteve fomentando a campanha contra os médicos cubanos e entender porque foram contra eles os primeiros anúncios ameaçadores de Bolsonaro.

Da mesma maneira é importante saber quem esteve por trás da construção de um candidato como Jair Bolsonaro que é considerado um “fascista primitivo” e entender por que Temer, informante do Comando Sul dos Estados Unidos governou o Brasil depois do golpe de Estado de novo formato contra Dilma Rousseff, todo um modelo da guerra contra insurgente dos Estados Unidos  para o século XXI contra a América Latina e o Caribe.

*Colaboradora de Diálogos do Sul, desde Buenos Aires, Argentina

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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