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O Brasil consciente de suas potencialidades

Guilhermina Coimbra

Tradução:

Profa. Guilhermina Coimbra*

cartazO Brasil – programado para ser o eterno Gigante Adormecido – acordou.

Enquanto adormecido, táticas e estratégias foram concebidas e praticadas, de modo a explorá-lo até a exaustão.
Entre elas, a tática – ou será estratégia? – de ignorar, semear desconfiança, exacerbar competitividades e ridicularizar os vizinhos países Sul Americanos.
Como parte das táticas e estratégias, por longo período, o idioma Espanhol – um dos idiomas que, juntamente com o Inglês e o Francês, fazia parte do currículo do segundo grau de ensino  no Brasil – deixou de ser ensinado nas escolas brasileiras.
Entretanto, a política externa brasileira, sempre se recusou a cortar relações diplomáticas e comerciais que pudessem prejudicar os interesses do Brasil.
Acresce o fato de que o Brasil sempre foi pragmático. Por mais que interesses contrariados tentem mostrar o contrário, a verdade é que – sem ideologias – o Brasil sempre demonstrou e continua demonstrando um pragmatismo admirável.
Ciente do elementar conhecimento de que o interesse maior de toda população (residentes no espaço físico-geográfico chamado país) é o de explorar, em benefício próprio, as respectivas fontes de energia, o Brasil – apesar das fortes e poderosas pressões – não cortou relações comerciais e diplomáticas com a África do Sul, na época, governada por De Klerk.
O entendimento criterioso e inteligente, da diplomacia brasileira foi o de não poder cortar relações com governantes que zelavam pelo patrimônio público de seus respectivos Estados, não permitindo a exploração dos minerais geradores de energia – para agradar interesses alheios aos das respectivas populações que governavam.
Assegurar a exploração dos minerais geradores de energia é a condição sine qua non para suprir todas e quaisquer carências de um Estado.
Convicto, o Brasil – sócio de sócios diversificados – acordou e integrou-se. O Brasil contrariou as propagandas enganosas e contrariou as ordenações para abortar qualquer forma que pudesse resultar em indícios de integração Sul Americana.
Entendam-se como ordenações, as ordens vindas das Metrópoles, a serem cumpridas pelos feitores das Colônias.
Atualmente as ordenações são conhecidas como “o dever de casa” a ser cumprido pelos administradores-feitores dos Estados “independentizados”.

Mas, a integração econômica de uma Região se faz, de acordo com um roteiro pré-estabelecido.

Primeiramente, integram-se economicamente os setores de infra-estrutura dos Estados da Região.
Os setores de infra-estrutura mais importantes que os Estados têm ou exploram fora do continente dizem respeito – fundamentalmente – às fontes de energia: carvão, minérios nucleares, hidrocarbonetos (petróleo, gás): as “commoditties”.
Energia é a mola que movimenta o mundo: uma integração regional tem que começar necessariamente por integrar, através de objetivos comuns, o principal, setor da economia de todo Estado: o setor da energia.
Assegurada a integração regional do setor de infra-estrutura energética, o segundo passo é a integração econômica, através da integração dos diversos setores da economia: indústria e comércio de diversificados produtos – e os serviços (de engenharia, de seguros, de advocacia, serviços técnicos e outros prestados pelos profissionais liberais – com o apoio das instituições).
Os Estados da América do Sul, inteligente e estrategicamente entendem que não são concorrentes entre si e nem podem concorrer entre eles próprios objetivando mercados fora do Continente Sul Americano.
Isto porque, se aparentemente, tais mercados se mostrarem mais convidativos e convenientes – na verdade nada mais são do que armadilhas – táticas e estratégias – para desestruturar os Estados Sul Americanos unidos, potenciais e indesejáveis concorrentes.

A integração dos Estados da América do Sul – apesar da série de empecilhos – é irreversível, tem firmeza de propósitos.

Na América do Sul, a integração começou a ocorrer, quando, toda a América do Sul assinou o Tratado, criando a União das Nações Sul-Americanas – a UNASUL.
Questionamos a nomenclatura, primeiro, porque, nação é povo.
Na América do Sul, os povos Sul-Americanos já estão mais do que integrados, porque, antes de qualquer motivação política ou econômica, os povos Sul Americanos são amigos entre si, independentemente de Tratados.
Países que têm projeto nacional e soberano de desenvolvimento, tendo um vizinho como o Brasil, com grandes reservas de minérios geradores de energia (hidrocarbonetos, minerais nucleares, etc.) esforçam-se para ter um projeto de desenvolvimento associado a ele.
E nem poderia ser de modo diferente, haja vista a proximidade, entre os Estados Sul-Americanos e as fronteiras comuns – através das quais, os brasileiros se comunicam e mantém ótimo relacionamento – com todos os seus vizinhos da América do Sul.

O Brasil praticamente foi o único país na América do Sul a se industrializar totalmente.

Os sucessivos Governos brasileiros lançaram todas as bases para permitir a industrialização do País (oferta de energia em abundância, modernização dos portos, construção das rodovias, desenvolvimento do sistema de telecomunicações, reforma tributária e financeira, entre outras).
O Brasil saiu da 47ª posição no concerto das nações em 1964 para a 8ª economia mundial na década de 1980.
Além do mais, os Estados da América do Sul são os grandes amigos, clientes-importadores dos produtos fabricados no próprio Continente e, entre eles, a preferência é o Brasil.
Assim, 20% das exportações brasileiras destinam-se à América do Sul o que significa que 93% dos manufaturados brasileiros são importados pela América do Sul. A exportação brasileira para a América do Sul se caracteriza pelo alto percentual de produtos manufaturados em comparação com a exportação realizada para o resto do mundo.
Um dos motivos pelo qual o Brasil trata com tanta deferência a Venezuela, por exemplo, é o de que a Venezuela foi a responsável por 30% do superávit brasileiro respondendo por 30% do saldo comercial do Brasil, em 2012 e o terceiro superávit da balança comercial brasileira. A Venezuela se transformou no país que mais contribuiu para o resultado positivo da balança comercial, com exceção da Holanda (porta de entrada da Europa) e a China. O Brasil vende para a Venezuela carne, aviões – e compra da Venezuela, petróleo e derivados. (in Opera Mundi).
O Brasil tem na Venezuela, se não um aliado, sua primeira linha de defesa na Amazônia. A área Ianomâmi é considerada um verdadeiro “Curdistão” entre o Brasil e a Venezuela.
A área concedida aleatoriamente aos Ianomâmis, somente ainda não se uniu em uma só região autônoma, pela firme recusa do Governo da Venezuela.
O Brasil é um país que aceita e respeita regras, normas e procedimentos de todos os seus vizinhos da América do Sul – aos quais oferece grandes aportes, com destaque para o “know how” brasileiro no setor de infra-estrutura.
O entendimento de que os  Estados Sul-Americanos necessitam aprofundar sua integração produtiva, a partir de uma política industrial regional é uma questão de estratégia. O desejável é que haja integração produtiva.
O desenvolvimento associado aos vizinhos Sul-Americanos é condição fundamental para a continuidade do crescente projeto de inserção internacional.
No comércio Brasil-China, por exemplo, 95% do que o Brasil exporta são produtos primários, enquanto 40% de todo o produto manufaturado que o Brasil exporta vai para a América Latina.
A importância da integração Sul-Americana é um consenso e tem sido entendida como uma necessidade, um desdobramento do MERCOSUL: o Mercado Comum Sul-Americano.

Entretanto, é de se observar, que, face ao exemplo europeu, a integração da América do Sul começou pelo final.

O processo de integração Sul-Americano deveria seguir e, certamente, aos poucos seguirá, as etapas integrativas, exatamente, como a Europa:
– primeiro, integrando o setor de infra-estrutura de base (petróleo, gás, hidrocarbonetos, minérios nucleares e outros todos minerais esgotáveis, de uma só safra.);
– segundo, integrando o setor econômico (empresários sul-americanos de diversificadas atividades econômicas, industriais, comerciais; serviços de profissionais liberais de diversas áreas do conhecimento científico e outros.);
– e, finalmente, integrando as Nações – há muito tempo bem integradas, por vontade própria – em uma Confederação de Estados.
A integração Sul Americana se transformará em  uma Confederação de Estados Sul Americanos por questão de sobrevivência – exatamente como na União Européia, na qual:
– cada um dos Estados-Membros da Região tem soberania (o poder de dizer e fazer valer a sua Constituição Federal, ou, Nacional, dentro do seu território);
– cada um dos Estados-Membros da Região tem autonomia (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário independentes, dentro de cada um de seus respectivos territórios);
– e tem a união de todos os Estados regionais, na defesa da infra-estrutura, da economia da Região – e na defesa bélica dos interesses de segurança das populações dos Estados no Continente Sul-Americano.
Dentro da integração, tanto a UNIÃO EUROPÉIA quanto a UNASUL já têm, atuando no escalão oficial e com grande visibilidade os Poderes: Executivo (a cada dois anos se elege um Presidente para Presidir o grupo de Estados integrados) Legislativo  (Parlamento Europeu e Parlamento Sul Americano) e Judiciário (Somente na União Européia existe a Corte Européia de Justiça, para julgar casos atinentes à CEE) entre outros órgãos auxiliares.
O exemplo de integração de pleno de êxito – que seguiu, exatamente, o roteiro acima – ocorreu, após a 2a. Guerra Mundial.
A  Alemanha procurou a França e propôs formarem a CECA – Comunidade Econômica do Carvão e do Aço – para não ficarem à mercê dos EUA e do Japão de pós-guerra, no fornecimento daquele mineral.
E pois questão de inteligência seguir o exemplo da Alemanha e da França, na época, arquiinimigas, mas que se uniram pela inteligência inteligente da necessidade de trabalharem juntas como uma defesa contra um pequenino Estado da Ásia aliado a um grande Estado Norte-Americano. (EUA e Japão).
Foi deste entendimento inteligente que resultou a primeira comunidade econômica européia: a Comunidade do Carvão e do Aço/CECA, a primeira de uma série (Europa Atômica/EURATOM, Comunidade Econômica Européia/CEE e outras) que culminaram na União Européia: uma Confederação de Estados soberanos, unido por motivos econômicos e bélicos.
Através do EURATOM, os europeus integraram: – os “pools’ de mineradoras de minérios nucleares, de além-mar; – a indústria de alta tecnologia de ponta nuclear; os consórcios distribuidores da matéria-prima nuclear; os “pools” de seguradoras e distribuidoras da energia nuclear no Continente Europeu, da qual a infra-estrutura do Continente Europeu depende.

Depois, os europeus criaram o MERCADO COMUM EUROPEU – MCE.

Finalmente, criaram a COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPÉIA e através da CEE – os europeus integraram: as indústrias, o comércio, os serviços – e como uma verdadeira integração não pode prescindir de uma política de concorrência – respeitaram o direito de concorrência entre eles, inadmitida a concorrência predatória entre uns e outros.
Assim, de integração em integração os europeus conseguiram integrar os Estados da Europa em uma Confederação de Estados: a União Européia-UE.
Na UE, cada um dos Estados tem autonomia (Poderes) e soberania (o poder de dizer o direito vigente em cada um deles através de sua própria Constituição (Federal ou Nacional, dependendo do tamanho do Território).
Mas os europeus não harmonizaram, nem unificaram o Direito e nem se tornaram uma Federação de Estados: eis que, em plebiscito, disseram não à Constituição Única Européia.
Desse modo inteligente, a Europa integrou os seus Estados, através da UE, por motivos econômicos (para não entregar, na época, os seus mercados ao Japão e ao EUA) e bélicos (para não ser massa de manobra de interesses alheios ao Continente Europeu).
Há que se lembrar sempre o segundo escalão de poder – formado pelo grande empresariado, pela Classe Média e por dever constitucional, as Corporações Militares de cada um dos Estados Membros da UNASUL – que devem estar bem informados sobre a necessidade da integração para sobrevivência.
A população brasileira assistiu perplexa  a participação e a perda de vidas preciosas de soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial – sem o reconhecimento de seus méritos por parte dos aliados.
E assim, tem continuado a mandar tropas para ajudar os amigos etc., etc. – os quais, na hora do intercâmbio comercial, não reconhecem a participação brasileira: Estados não têm amigos, Estados têm interesses, já foi dito por quem entendia de guerras.
O mesmo se aplica ao Continente Sul Americano: a América do Sul não tem amigos. A América do Sul enfrenta interesses poderosamente contrários aos interesses Sul Americanos, razão mais do que suficiente para estar unida, bem informada e preparada.
Disto decorre a importância de se viabilizar, cada vez mais fortemente – o MERCADO COMUM SUL AMERICANO, o MERCOSUL.
O MERCOSUL – Mercado Comum Sul-Americano – agrega atualmente 11 Estados: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai (Estados fundadores) Bolívia, Chile, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela (Estados associados) e México (Estado observador). O MERCOSUL tem 400 milhões de consumidores, residentes em 13 milhões de quilômetros quadrados.
Os Governantes dos Estados-Membros do MERCOSUL já estão entendendo que têm que caminhar para uma integração urgentemente necessária. A união sempre foi a força, a união sempre foi poder.
As empresas brasileiras e Sul Americanas, focadas na internacionalização, têm no MERCOSUL um fator poderoso de diversificação de mercados e de incremento das exportações.
A União Européia tem alicerçado bases para futuro acordo de diálogo político, de cooperação e livre comércio com o MERCOSUL.
O Brasil é país de sócios diversificados e a Venezuela no MERCOSUL certamente acrescentará muito ao leque de clientes importadores e exportadores do Brasil e do MERCOSUL.
Haja vista que, a Venezuela se integrou ao MERCOSUL, UNASUR, CELAC, ALBA, PETROCARIBE, compõe como sócia na TELESUR e no  BANSUR, além de levar a Venezuela a se articular economicamente com Rússia, China, Irã e Bielorússia e se aproximar politicamente de todos os países  progressistas da América Latina, Ásia e África.
As Pequenas e Médias Empresas Exportadoras estabelecidas nos Estados Sul Americanos, entre eles o Brasil, ao planejarem a internacionalização de seus produtos, não podem ignorar nem desconsiderar que o MERCOSUL é um mercado imenso de potencial inigualável.

O MERCOSUL é, portanto, alternativa válida, bastante atraente e lucrativa para o investimento.

O mercado exportador sul americano é enorme relativamente aos tradicionais mercados de destino.
Apesar de no MERCOSUL coexistirem contextos e realidades diversificadas, a proximidade geográfica entre os seus Estados-membros é  um fator mais do que favorável.
Os empresários da América do Sul inteligentemente devem saber utilizar, tanto a proximidade cultural, aproveitando a fácil comunicação, através do idioma (português e espanhol bastante similar) quanto os novos fatores de competitividade, design, tecnologia, qualidade e preço.

Inteligentemente devem entender que a competitividade aconselha a partilha e as parcerias, para facilitar a abordagem aos demais mercados.

Importante entender bem que o inimigo comum das empresas brasileiras, argentinas e sul-americanas que fazem ou pretendem fazer bons negócios não são as empresas argentinas nem as brasileiras e nem as empresas vizinhas estabelecidas nos territórios dos Estados-Membros do MERCOSUL.
As demais tentativas de livre comércio (NAFTA) certamente são difíceis e, mesmo, impossíveis de se concretizarem – haja vista as discrepâncias e disparates de objetivos no que se refere à reciprocidade de comércio livre entre as partes.
Apesar de tanto no Brasil quanto na América do Sul existir maiores oportunidades para as empresas sul americanas fora da América do Sul, o objetivo maior dos sul-americanos tem que ser, inteligente e necessariamente, o de fortalecer o comércio entre eles, quer seja via MERCOSUL como um todo, quer seja de forma integrada entre os Sul-Americanos – de modo que possam vir a negociar a reciprocidade, fora do Continente Sul-Americano.
As empresas estabelecidas nos territórios dos Estados-Membros do MERCOSUL são as grandes e importantes aliadas e como tais têm que ser vistas, admiradas e respeitadas.
Não faria sentido empresas brasileiras, argentinas, paraguaias ou outras empresas Sul Americanas competirem entre si.  Seria um contra-senso, uma ausência de saber por falta de informação e ridículo por demais.

Fora de cogitação competir com as empresas estabelecidas, na área abrangida pelo MERCOSUL.

Por uma questão de lógica – ausente o menor sentimento de discriminação, porque, tradicionalmente, Brasil e os Estados do Continente Sul Americano são amigos e inclusivos – os interessados em minarem as boas parcerias entre as empresas sul americanas e do MERCOSUL são e serão, sempre, as empresas estabelecidas fora da América do Sul, em outros Continentes.
Assim, deve ficar fora de cogitação desrespeitar atitudes tomadas por governos sul-americanos em beneficio de suas respectivas empresas, quando estas atitudes, apesar de contrárias à integração, ocorrerem. A autonomia dos Governos Sul-Americanos tem que ser compreendida e respeitada.
Fora de cogitação, também, não entender que o direito da concorrência é inerente à integração e tem que ser respeitado. Inadmissível a concorrência predatória entre empresas de Estados-Membros da UNASUL e do MERCOSUL.
É momento de estreitar laços e parcerias, nas relações empresariais Sul Americanas e no MERCOSUL, neste momento sensível, tanto na economia desses países quanto no ambiente internacional.
 
*Colabora com Diálogos do Sul – Curriculum Lattes; Pesquisadora, 1994/CNPq/FAPERJ.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Guilhermina Coimbra

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