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O Fim e o Princípio, de Eduardo Coutinho

Cinemateca Diálogos do Sul

Tradução:

coutinho2Fomos hoje surpreendidos com a notícia da trágica morte do companheiro Eduardo Coutinho.

Neste momento de imensa tristeza, registramos nosso pesar e nossa certeza de que o Brasil e, em especial, a cultura e o audiovisual brasileiro, perdeu um combativo, talentoso e generoso documentarista. Mas não é hora de chorar sua morte, mas sim de celebrar sua vida e enaltecer sua extraordinária obra.

Entre os inesquecíveis filmes e documentários que fazem parte de sua obra, nós da Cinemateca Diálogos do Sul, escolhemos brindar nossos leitores com um de seus mais belos e vigorosos documentários: O Fim e o Princípio.

Nesta obra, Eduardo Coutinho vai aos grotões da Paraíba para registrar suas conversas sobre vida e morte com os donos de um saber de raiz. O documentário envereda pelo imaginário do sertanejo. A chegada a esta terra do fim do mundo lembra o uso do Google Earth. Do espaço sideral, Coutinho parece apertar comandos e vai com sua nave, sem lenço e sem documento, aproximando-se aos poucos do alvo. Flutua poucos metros acima das árvores e arbustos retorcidos de São João do Rio Peixe, a 500 quilômetros de João Pessoa, perscrutando o local da aterrissagem. E finalmente aterrissa no Sítio dos Araçás, comunidade rural onde vivem 86 famílias, com idade média acima dos 70 anos. A partir daí o que se vê é Coutinho ir mansamente colocando suas perguntas a torto e a direito, sempre acompanhadas por sua infinita paciência para ouvir.

E diálogo após diálogo, o filme fielmente registra  como pensam, por que e como seus personagens vieram parar nestas terras esquecidas do Nordeste brasileiro, muito além mar. O resultado é um filme forte, com fotografia impactante e revela vidas marcadas pelo catolicismo popular mais próximo do século 15, pela hierarquia, pelo senso familiar e pela honra, além de temperos de profunda superstição. Espinhela caída? Inflamação nas presas? Bamboleio nas pernas? Vento caído? Isso não é problema para uma comunidade onde vive Maria Ambrosina Dantas, 94 anos, conhecedora de todas as curas, das quais não revela nenhuma.

Simplesmente imperdível. Cliquem e assistam!

O Fim e o Princípio
Eduardo Coutinho

O Fim e o Princípio, de Eduardo Coutinho (2005)1Sinopse: Sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar. No município de São João do Rio do Peixe a equipe descobre o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco. Graças à mediação de uma jovem de Araçás, os moradores – na maioria idosos – contam sua vida, marcada pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso de família e de honra. 

Gênero: Documentário
Diretor: Eduardo Coutinho
Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento: 2005
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0796979/

Saiba mais sobre Eduardo Coutinho:

Eduardo de Oliveira Coutinho (São Paulo, 11 de maio de 1933  — Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2014) foi um cineasta brasileiro, considerado um dos mais importantes documentaristas da atualidade 1 .

Seu trabalho caracterizava-se pela sensibilidade e pela capacidade de ouvir o outro, registrando sem sentimentalismos as emoções e aspirações das pessoas comuns, sejam camponeses diante de processos históricos (Cabra Marcado para Morrer), moradores de um enorme condomínio de baixa classe média no Rio de Janeiro (Edifício Master), metalúrgicos que conviveram com o então sindicalista Luis Inácio Lula da Silva (Peões), etc.

Após o sucesso de Cabra marcado para morrer, Coutinho afastou-se do Globo Repórter e passou alguns anos trabalhando com documentários em vídeo para o CECIP (Centro de Criação da Imagem Popular), com temas ligados a cidadania e educação. São dessa época projetos como Santa Marta e Boca de lixo, visões humanistas e pessoais sobre indivíduos e populações marginalizadas. Também escreveu roteiros para séries documentais da TV Manchete, como “90 Anos de Cinema Brasileiro” e “Caminhos da Sobrevivência” (sobre a poluição em São Paulo).

Em 1988, com o centenário da Abolição da Escravatura, foi estimulado pela então Secretária de Cultura do Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, a realizar um documentário sobre a população negra na História do Brasil. O Fio da Memória, centrado na figura do artista popular Gabriel Joaquim dos Santos, só viria a ser concluído três anos mais tarde, com o apoio das emissoras de televisão La Sept (França) e Channel Four (Inglaterra).

Em 2004, a pesquisadora Consuelo Lins publicou, pela editora Zahar, O Documentário de Eduardo Coutinho.

Filmes dirigidos por Eduardo Coutinho5 :

 

 

 

 

 

 

 

 

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Cinemateca Diálogos do Sul

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