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Um Fundo Cívico apoiado por um grupo de empresários, liderado por Eduardo Mufarej, sócio da Tarpon Investimentos, certamente não será criado para ensinar educação cívica às crianças do Brasil.
Hari Alexandre Brust*
Este Fundo Cívico proposto por Luciano Huck, divulgado pelo jornal Estado de São Paulo, para apoiar candidatos, com a intenção de eleger de 70 a 100 deputados federais na próxima eleição, é, na verdade, a reedição do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), criado em 1959, com o apoio de empresários e banqueiros nacionais e da Agência Central de Inteligência (CIA) americana, com a finalidade de promover e influenciar nos debates políticos, econômicos e sociais. Para tanto, criou a Ação Democrática Popular (ADEP), com a mesma função do Fundo Cívico do Huck, de financiar candidatos às eleições.
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), criado em 1961, por empresários paulistas e cariocas, sob a direção do general Golbery do Couto e Silva, principal articulador da ditadura militar, razão pela qual a função principal era promover a integração dos movimentos sociais de direita, teve grande influência nas ações que culminaram com o golpe de 1964.
A cúpula do IPES/IBAD, através do financiamento de empresas nacionais e multinacionais, difundia a sua proposta junto dos trabalhadores, estudantes, políticos e todas classes sociais, através de programas radiofônicos, de televisão e jornais.
À época os políticos envolvidos nesse processo eram da UDN e do PSD. Na proposta atual da criação do Fundo Cívico, há a participação de políticos de vários partidos.
O IPES divulgava sua ação na defesa da moral e dos bons costumes da família, do direito à propriedade privada e à livre iniciativa empresarial, além estimular a participação de investidores estrangeiros em nossa economia.
O financiamento estrangeiro e a intensa participação do IBAD/ADEP/IPES nas eleições, provocaram a instalação de uma CPI no Congresso, em 1963, que apurou, inclusive, doações ilegais, através do financiamento de empresas americanas.
Um Fundo Cívico apoiado por um grupo de empresários, liderado por Eduardo Mufarej, sócio da Tarpon Investimentos, certamente não será criado para ensinar educação cívica às crianças do Brasil.
Não estaria o General Mourão, a exemplo do General Golbery, incentivando a criação do Fundo Cívico do Huck? Não é de se descartar, pois esse eventual Fundo Cívico deverá ser administrado por uma ONG e é aí que, através da sua pregação de intervenção militar, o General Mourão teria sua indicação assegurada.
No passado, tanto IBAD como o IPES do general Golbery, foram criados com a finalidade de combater o comunismo, resultando no golpe de 1964 contra o Presidente João Goulart.
A proposta do Huck, de criar o Fundo Cívico, tem certamente o objetivo de combater a corrupção endêmica, que envolve os três poderes.
Como imaginar onde esse movimento poderá desaguar? Em mais democracia, certamente, não será!
*Hari Alexandre Brust é autor do livro “Brizola-Uma Biografia Política”, membro da Executiva do PDT-Bahia. Fez parte da equipe de Leonel Brizola na Prefeitura de Porto Alegre, e mais tarde participou dos embates da Cadeia da Legalidade. Publicado em outubro de 2017