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O Grande curral da Paulista

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

Foto: Glória Fluguel Foto: Glória Fluguel

Paulo Cannabrava Filho*
Nosso colaborador, jornalista Amaro Dornelles, esteve na Avenida Paulista na tarde deste domingo 13 de março e mandou-nos suas observações. Para ele, gaúcho que é, parecia “um curral de gente”.

“Um mar de gente, tal qual formigas a caminho do lar, se espremem tentando avançar alguns passos. Senhoras de idade e principalmente obesos sofrem para se locomover, expressões de pânico de todo lado e são apenas 15h. Os gritos, assim como choro e pedidos de licença ‘pelo amor de Deus’ são abafados pela voz ensurdecedora que sai dos alto-falantes.  A manifestação foi previamente promovida pelos meios de comunicação, fundamentalmente pelas emissoras de televisão. O governo de São Paulo incentivou a população, liberando o metro. O secretário da Segurança do Estado – Alexandre de Moraes – assumiu a responsabilidade de ter organizado a grande festa cívica. Nas adjacências dos palanques armados – como o da esquina com Alameda Campinas – bloqueios impediam que os manifestantes saíssem da avenida Paulista. Algumas garotas, solidárias, subiam em árvores para avisar aos desesperados que não dava para sair da avenida por ali. Tudo fora transformado em um grande curral, para mostrar o que se vê hoje nos jornais e na cobertura televisiva.

Não é pra tanto

A direita, eufórica, exultante, mas, não é pra tanto. Os manifestantes estavam contra tudo e contra todos. Claro que havia os “fora Dilma” e  “morra Lula”. Porém, os tucanos Aécio Neves, José Serra, senadores, e o próprio governador, Geraldo Alckmin, foram hostilizados pelos manifestantes. Marta Suplicy, que deixou o PT para disputar a prefeitura paulistana pelo PMDB, enxovalhada, teve que sair sob proteção policial da avenida. O herói da hora é o juiz de primeira instância, paladino da luta contra a corrupção. Será ele capaz de nos governar? Superar a crise que ele ajudou a implantar?
Pelos cálculos da Polícia Militar de São Paulo, obediente ao governador, eram 1,4 milhão de pessoas. Porém, segundo o Data Folha, instituto especializado, eram 500 mil. Até o vetusto Estadão teve que admitir que na Avenida Paulista, com seus 116 mil metros quadrados, não cabem mais que 580 mil pessoas.
De toda maneira, havia muita gente e é fato que houve grandes manifestações no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e nas principais capitais e cidades de todo o país, e aí sim, a soma pode chegar a um milhão, que sejam dois milhões. Nada diante dos (141.824.607) milhões de eleitores que votaram nas últimas eleições,  dos quais mais da metade elegeu a presidenta que deveria ter paz para governar o país.
O triste, porém, é o vazio nas cabeças de muitos desses manifestantes. Claro que a minoria branca e rica sabia porque estava ali, mas a maioria, parecia realmente que fora motivada pela propaganda. Um protesto sem proposta, contra tudo e contra todos. Ruim para os políticos e para as instituições republicanas, que se vêem desacreditados.
Em defesa do governo estão sendo convocadas manifestações para o dia 20. Mas também do lado governista grassa o desânimo, o descrédito. Estes irão com as bandeiras da Justiça, pela obediência à Constituição e às leis, pelo respeito ao voto popular.
Poderão ser 100 ou 100 mil, estarão com a razão. Melhor será se levarem propostas com vistas a tirar a nação desse marasmo, oferecer ao país um projeto nacional e um programa de governo capaz de unir uma grande frente de salvação nacional. Fora isso, será mais uma manifestação.
*Jornalista editor de Diálogos do Sul
 
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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