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O grande vencedor da eleição paulistana: Ninguém

Celso Lungaretti

Tradução:

O tucano João Doria foi o primeiro candidato a prefeito da cidade de São Paulo a liquidar a fatura no 1º turno, desde que as eleições brasileiras passaram a ter dois turnos, em 1992.

Celso Lungaretti*
vote em ninguemMas, com seus 3.085.187 votos, Doria perdeu para Ninguém: a soma dos votos em branco, nulos e das abstenções totalizou 3.096.304 eleitores que não se sentiram suficientemente motivados a ponto de votarem em qualquer dos candidatos.
Adiante poderemos quantificar com mais precisão o desencanto do eleitorado com as opções políticas que lhe são oferecidas, mas já se sabe que aumentou significativamente desde as últimas eleições municipais. E nem poderia ser de outra maneira, depois de a presidente da República ter conduzido o país a uma recessão terrível e haver sofrido impeachment.
Quanto ao grande perdedor, não há nenhuma dúvida: foi o Partido dos Trabalhadores, com desempenho pífio nas capitais e cidades mais importantes.
Talvez o caso de São Paulo seja o mais significativo para entendermos o porquê da queda do PT.
Estava no poder com Fernando Haddad, um professor universitário que, sem recursos suficientes para investir em grandes projetos, apostou suas fichas em pequenas mudanças baratas, na linha do politicamente correto:

  • desestimular o uso do carro próprio, mediante uma redução exagerada do limite de velocidade nas ruas e avenidas, além de exageradíssima nas marginais, vendendo a medida como uma solução para reduzir as mortes no trânsito (só que as estatísticas utilizadas para tentar convencer os motoristas não foram exatamente confiáveis e fizeram a cabeça de pouquíssimos deles);
  • estimular, em contrapartida, o uso de bicicletas, mas isto numa cidade em que elas não se prestam para o percurso diário da casa para o emprego e vice-versa (o trânsito é pesado, as distâncias longas e a topografia inadequada) e mediante a criação, tão apressada quanto irresponsável, de ciclovias as mais precárias, nas quais pedestres acabaram sendo amiúde atropelados.

Adorado em alguns bairros de classe média sofisticada, Haddad se tornou o mais rejeitado dos prefeituráveis: à véspera do pleito, 41% dos entrevistados pelo Ibope afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum.
Mesmo com Lula entrando em sua propaganda gratuita na reta final para tentar salvá-lo, Haddad, com seus 16,7% dos votos válidos, ficou abaixo do desempenho habitual dos candidatos petistas. Foi o eleitorado do partido que encolheu como consequência dos desastres recentes ou Haddad que não conseguiu empolgar parte dele? É outra dúvida que só poderemos dirimir adiante.
Enfim, a derrocada de Haddad é emblemática da do PT como um todo. Convém para o partido atribuir suas desgraças à perseguição que lhe estaria sendo movida pelo Judiciário, mas muito mais relevante é o fato de que o capitalismo começa a vazar por todos os lados, aproximando-se da hora da verdade, quando se decidirá quem vai morrer e quem vai sobreviver: ele ou nós?
A aposta do PT era diminuir a pobreza destinando aos coitadezas algumas migalhinhas a mais dos banquetes dos ricaços, fazer pequenos retoques na maquilagem do capitalismo.
Não funciona mais. Daí o partido ter perdido até as calças no cassino eleitoral deste domingo.
*Editor do blogue Naufrago da Utopia, colabora com Diálogos do Sul
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Celso Lungaretti

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