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O inglorioso fracasso do neoliberalismo

Jorge Maria Rabëlo

Tradução:

José Maria Rabêlo*

Nas últimas décadas do século passado até os primeiros anos do atual, “os donos” da teoria econômica quiseram nos impor como verdade absoluta que o mercado era capaz de regular a produção e a distribuição da riqueza. Seus arautos no Brasil, instalados em organismos como a Fundação Getúlio Vargas e alguns centros universitários, nos ministérios de Collor e FHC, no Congresso, na grande imprensa e nos partidos conservadores, tentaram implantar uma forma de pensamento único, baseado na ideologia da moda, o neoliberalismo. Era preciso eliminar, segundo eles, qualquer intervenção do estado na economia ou reduzi-la a sua expressão mínima. Desenterrando as teses antediluvianas de economistas como Friedrich Hayec e Milton Friedman, transformados em profetas dos novos tempos, reduziram suas ideias pretensamente inovadoras ao que se chamou de Consenso de Washington, identificado com os interesses do grande capital.
Um de seus divulgadores mais ilustres, o japonês-americano Francis Fukuyama, chegou a decretar o fim da história. Com o neoliberalismo, os homens começariam a viver uma nova era, diferente de tudo o que havíamos visto e vivido antes. Assistimos então a uma avalanche de argumentos supostamente científicos na defesa do velho pensamento, travestido de moderno e transformador. Poucos foram os que se insurgiram contra esse retorno ao passado. Orgulho-me de ter estado na primeira linha desse combate desigual, procurando, em artigos, entrevistas, programas de televisão, desmascarar a impostura que nos queriam impingir. Nessa época, juntamente com outros jornalistas, fizemos da revista Cadernos do Terceiro Mundo, editada sob a direção do deputado e também jornalista Neiva Moreira, uma trincheira contra o predomínio neoliberal. Cadernos era a única publicação no Rio e uma das pouquíssimas no Brasil a sustentar essa posição.
Os governos Collor e FHC trataram de implementar um sistemático programa de desestatização, anulando décadas de desenvolvimento do País sob a égide do estado. Assim, foram sendo desmanteladas e vendidas as empresas de telecomunicação, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Usiminas, as ferrovias, os portos, os bancos públicos, etc., numa política de terra arrasada, que só favoreceu os privilegiados arrematantes. Na maioria, foram entregues a preços vis, que não guardavam nenhuma relação com o que significavam seus patrimônios. O caso da Vale tornou-se emblemático: o governo FHC a vendeu por de U$ 3,3 bilhões, quando de fato valia cerca de duzentos, e ainda com o pagamento feito com as chamadas “moedas podres”, adquiridas pela metade do seu valor de face. Um escândalo que a história cobrará para sempre de seus responsáveis.
A crise do capitalismo mundial, que parece não ter fim, é o resultado direto das doutrinas neoliberais. A falta de um mínimo planejamento estatal levou ao colapso das principais economias, algumas delas, como a da Grécia, a um passo da desintegração.
A magnificação da procura do lucro e do culto às políticas do mercado estão provocando a ruína do mais avançado modelo de sociedade que o mundo conheceu, o chamado estado europeu de bem estar social.
E qual foi a saída que encontraram para a crise? A intervenção do poder público através da inversão de centenas de bilhões de dólares e euros nas economias mais afetadas. Para livrar-se do desastre total, os neoliberais, contrariando tudo o que disseram e fizeram antes, recorrem ao socorro do estado, embora deixando a conta para ser paga pelos trabalhadores e os mais pobres, ameaçados de perder seus direitos fundamentais.
Seus porta-vozes entre nós estão calados, fingindo-se de mortos. Perderam a antiga arrogância, mas sem reconhecer os males que causaram ao País. Felizmente não puderam completar sua obra, o que nos permitiu preservar algumas instituições hoje determinantes no esforço de vencer a crise, como o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras. Sem elas, certamente, o Brasil teria acompanhado a bancarrota internacional.

Livro

Sugeriria ao público a leitura de um livro, recentemente publicado, imprescindível para se conhecer em profundidade o fracasso do neoliberalismo. O Universo Neoliberal em Desalento, do economista José Carlos de Assis e do engenheiro Francisco Antônio Dória, desmonta com números e fórmulas matemáticas a farsa neoliberal. O livro é um chute no traseiro, para usarmos a expressão da moda, daqueles que pretenderam fazer a roda da história girar para trás.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Maria Rabëlo

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