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O massacre de crianças em Jenin por Israel e o silêncio internacional: quem cala consente?

Essa lógica indica para onde o governo sionista vai se encaminhando, enquanto avança sobre terras tomadas do "perigoso" povo palestino
rita freire
Monitor Do Oriente Médio
São Paulo (SP)

Tradução:

A mídia e a justiça israelenses têm convicção de que as vítimas palestinas em Jenin são terroristas. Não se referem a palestinos de Jenin, mas a terroristas palestinos de Jenin.

De modo geral é assim frente aos alvos de operações na Palestina. E de tal forma naturalizada que a justiça israelense usa isso como premissa para decisões.  Na semana passada, enquanto palestinos velavam seus mortos em Jenin, uma presunção de terrorismo bastou para uma execução ser perdoada em tribunal. 

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O caso é famoso. Na manhã de 30 de maio de 2020, um soldado israelense matou o suposto terrorista Eyad al-Hallaq, enquanto sua cuidadora Warda Abu Hadid, da escola Elwyn, gritava que ele era autista. O rapaz assustado se agitava e sua cuidadora implorava calma aos soldados.

Mas um deles mirou, atirou e matou o rapaz. E a Justiça israelense acaba de absolver o militar. Entendeu ser natural que, ao ver o palestino se agitando perto de uma escola para pessoas com autismo ou deficiências, e com a mulher palestina se agitando também, ele concluísse tratar-se de um terrorista. E que deveria matá-lo..

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Essa lógica indica para onde Israel vai se encaminhando, enquanto avança sobre terras tomadas do perigoso povo palestino. Quando a mídia atua sem filtros, os ruídos desautorizam a narrativa israelense. Foi o que vimos quando a âncora da BBC News, Anjana Gadgil, entrevistou o ex-primeiro-ministro de Israel Naftali Bennett na semana passada e que, ao constatar quem eram os mortos em Jenin, declarou sem meias palavras: “As forças israelenses estão felizes em matar crianças.”

Antes, formulou a pergunta: “Os militares israelenses estão chamando isso de ‘operação militar’, mas agora sabemos que jovens estão sendo mortos, quatro deles com menos de 18 anos…É isso mesmo que os militares pretendem fazer? Matar pessoas entre 16 e 18 anos?”

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O entrevistado perguntou à jornalista o que ela faria se um jovem de 17 anos estivesse atirando contra sua família. Mas é assim, com suas famílias na mira constante dos soldados  de Israel, que os palestinos vivem. A ONG Defense for Children International-Palestine contabiliza 35 crianças e adolescentes palestinos mortos só em 2023.

Embora deixe arranhões profundos no discurso de Israel, esse tipo de questionamento de Anjana Gadgil dura pouco na mídia. No dia seguinte à entrevista, a BBC desculpou-se pela fala da  jornalista.

Essa lógica indica para onde o governo sionista vai se encaminhando, enquanto avança sobre terras tomadas do "perigoso" povo palestino

Issam Rimawi/Agência Anadolu
Uma visão dos escombros em uma rua onde as forças israelenses continuam seus ataques, em Jenin, Cisjordânia, em 04 de julho de 2023

Parceria histórica

A Inglaterra tem uma parceria histórica com Israel desde a Declaração Balfour e um dos lobbies sionistas mais ativos fora dos Estados Unidos, pressionando contra notícias que considera inadequadas aos interesses de Israel. 

Seus integrantes também se sentiram ultrajados pela charge do cartunista David Brown publicada no The Independent que compara os ataques israelenses a Jenin com os ataques russos à Ucrânia. No desenho, as letras de uma placa são sobrepostas com os nomes dos dois lugares.

Ele reincide na denúncia porque já desenhou o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon como um “monstro comendo bebês palestinos” em caricatura do quadro “Saturno devorando um de seus filhos”, de Goya (1819).

Charge de David Brown sobre Ariel Sharon [Wikipedia] 

O imaginário sobre um Israel infanticida escapa pelas frestas midiáticas, a ponto de um artigo de Yossi Klein publicado em maio passado no próprio israelense Haaretz, em que fala sobre Israel estar matando crianças para dissuadir a resistência em Gaza, afirmar que “as crianças mortas de Gaza sempre nos assombrarão”.

Brasil

No Brasil, com toda complacência com Israel, a mídia registrou a operação monstro, em que Jenin foi cercada por drones e atacada por dois mil soldados, em que 12 palestinos morreram.  As práticas da ocupação foram testemunhadas pelo jornalista brasileiro Edrien Esteves que trabalhava na cobertura de Jenin e teve o quarto invadido e os equipamentos tomados por 20 horas durante a operação, ficando isolado por soldados armados e agressivos, junto com famílias palestinas detidas sem qualquer suspeita de qualquer coisa. Seu relato foi publicado pelo jornal O Globo.

Movimentos de solidariedade aos palestinos já realizaram um ato na Universidade de S.Paulo na quinta-feira (06) e programam outro no Sindicato dos Advogados de S. Paulo para o dia 13 de julho.A operação batizada de Casa e Jardim pelas Forças de Israel terminou sem fazer qualquer sentido na matança. “As atividades terroristas não vão desaparecer e as ações que as forças armadas vão tomar contra isso vão continuar”, disse o ex-vice-chefe do Conselho de Segurança Nacional, coronel Itamar Yaar, a repórteres em 5 de julho.  De outra parte, palestinos consideram que essas declarações demonstram que Israel saiu derrotado frente à resistência.

Massacre de Jenin

Ao que indica a mídia israelense, os partidários dos ataques saíram frustrados. Conforme uma análise de Tovah Lazaroff no Jerusalém Post, a direita israelense e os líderes dos colonos esperavam que as IDF fizessem “uma intensa campanha militar para derrotar o terror palestino na Cisjordânia, semelhante à Operação Escudo Defensivo em 2002, que se concentrou fortemente em Jenin. Só que desta vez, eles esperavam que fosse maior e, claro, bem-sucedida.”

Jenin e o mundo reviveram os pesadelos de Jenin Jenin – como mais um episódio a atestar a incapacidade da comunidade internacional de reagir e aplicar suas próprias leis – enfrentando o apartheid já reconhecido a partir de investigações independentes, internas e externas, prevenindo operações iguais e mais mortes no futuro.

É talvez o que encoraja o analista do Jerusalém Post a sugerir que as IDF poderiam ter colocado uma placa na entrada de Jenin dizendo “Voltaremos!”.

Rita Freire | Monitor do Oriente Médio


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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rita freire

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