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As pessoas relativamente simpáticas a Donald Trump, no campo progressista, gostam de afirmar que ele seria contrário à “globalização neoliberal”, por conta de medidas como a ruptura com o TPP e a denúncia do NAFTA.
Breno Altman*
Antes de mais nada, o conceito é frouxo. Mistura um fenômeno estrutural – globalização, sofisma inventado pela direita para imperialismo – com um ciclo conjuntural, qual seja, aquele marcado pelas políticas neoliberais.
Além de desconsiderarem que a política interna de Trump é ultraliberal, o recurso a esse conceito pressupõe que, abandonando os cânones neoliberais em política internacional, teríamos um golpe na “globalização” (portanto, alguma forma de encolhimento ou recuo do imperialismo).
Essa abordagem não para de pé.
Para começo de conversa, pelo lastro histórico: o nazismo, por exemplo, era ultra-keynesiano, constituía um regime de regulação estatal de acumulação capitalista, mas representava a versão mais agressiva do imperialismo.
Trata-se de uma aberração, acima de tudo, porque não se dão conta, com esse tipo de análise, das razões e objetivos pelos quais Trump ataca os pactos inter imperialistas até agora vigentes.
O novo presidente norte-americano simplesmente quer aumentar a parte do bolo da burguesia norte-americana, em detrimento das demais burguesias dos países capitalistas avançados e da periferia do sistema.
Recorre ao discurso xenófobo e obscurantista para lograr apoio dos trabalhadores brancos e protestantes de seu país, o que também não é novidade na história da direita mundial.
Se o nacionalismo dos Estados periféricos, em determinadas circunstâncias, pode ter um significado anti-imperialista, o mesmo não ocorre com as grandes potências imperiais.
O nacionalismo dos Estados centrais do capitalismo é intrinsecamente reacionário, se volta contra a periferia do sistema, pretende colocar os interesses burgueses como objetivos de toda a nação, opera para subjugar a luta da classe trabalhadora, camufla o racismo e a xenofobia como instrumentos de defesa pátria.
A vitória de Trump foi positiva para dividir a burguesia norte-americana e mundial, do ponto de vista geopolítico. Mas não pode haver dúvidas de que sua política leva à intensificação do imperialismo, mesmo que a bússola do Departamento de Estado deixe de ser neoliberal.
Vamos brincar assim no centenário da revolução russa, sem qualquer comparação de conteúdo: Trump é como Kerensky, expressou a derrubada do czar, representado pela hegemonia da família Clinton e seus laços de classe. Mas, derrubado o czar, abaixo Kerensky!
*Colabora com Diálogos do Sul o original do Opera Mundi