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Da Venezuela ao México e ao Brasil.
Nils Castro*
Na quarta-feira, 24 de maio, milhares de brasileiros ocuparam Brasília reclamando a renúncia do presidente de fato Michel Temer e a convocação imediata de eleições diretas para eleger um sucessor. O mesmo ocorre há várias semanas em todas as cidades importantes do país. O novo agora foi que por trás da imensa repressão policial contra os manifestantes, Temer chamou a força do exército para tirar essa gente da Esplanada dos Ministérios e impedir que chegassem até a sede do Congresso. Desde os tempos da ditadura o exército não tinha sido empregado para esse tipo de coisa.
Paralelamente, na Câmara dos deputados se negociava se abandonam a coalizão que depôs Dilma Rousseff –presidenta legitimamente eleita- e a substituiu por Temer. Questionado por incompetente e corrupto, agora é a vez de destituí-lo mas, assegurando que seja a Câmara que designe um mandatário provisório que se mantenha no cargo até às próximas eleições regulares em fins de 2018. Sobre a maioria dos deputados pesam processos por corrupção -e também sobre Temer e vários de seus ministros. Apesar da grave crise política todos coincidem em evitar eleições imediatas, para poder aprovar sua agenda ultraliberal antes de mudar o governo, que prepara mudanças drásticas na legislação trabalhista e previdenciária.
Luis Almagro, secretário geral da OEA por sua vez, cuida das costas de Temer omitindo a crise política brasileira e centrando a atenção desse organismo sobre a Venezuela. Enquanto alega que a “ditadura” do presidente Nicolás Maduro faz uma “guerra suja” contra o povo venezuelano, Almagro silencia a crise humanitária que castiga o povo e assassina jornalistas no México. Como advertiu o antropólogo mexicano Gilberto López e Rivas, essa nação já conta cerca de 200 mil mortos, 50 mil desaparecidos e meio milhão de desalojados, e é o segundo país mais violento depois da Síria, sem que Almagro se preocupe com isso.
O antropólogo denuncia a “dupla cara” da OEA de Almagro que, em vez de desempenhar um papel reconciliador que deveria ser desse organismo, se soma à campanha transnacional contra o governo venezuelano e justifica a violência da direita nesse país, enquanto evita referir-se a México e aplicar nele a Carta Democrática, como pretende fazer com a Venezuela. Não o faz, pensa López y Rivas, porque o governo mexicano se presta a secundar a campanha contra Venezuela. Já na semana anterior o presidente da Bolívia, Evo Morales, tinha criticado o secretário da OEA por ignorar o caso de Brasil, que se agrava rapidamente.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Cidade do Panamá