Em entrevista à imprensa, Jair Bolsonaro deu declarações infelizes nesta manhã de segunda-feira (29) ao comentar o desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo, autor da facada que o até então candidato sofreu durante sua campanha eleitoral.
Bolsonaro afirmou que o presidente da Ordem do Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, “não vai querer ouvir a verdade” sobre seu pai, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido no período da ditadura militar no Brasil (1964-1985). “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele”.
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira nasceu em Recife (PE) e era integrante da Ação Popular Marxista-Leninista, onde militava no movimento estudantil desde 1967, além de trabalhar no Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo.
Em fevereiro 1974 no Rio de Janeiro, Fernando foi preso ao visitar um amigo e os familiares souberam que os dois haviam sido levados pelo Exército, possivelmente por agentes do DOI-CODI do I Exército, Rio de Janeiro. Foi a última vez que o pais de Felipe foi visto.
Em resposta, Felipe Santa Cruz divulgou uma carta em repúdio a atitude de Jair Bolsonaro.
Confira a íntegra:
Reprodução
“Como orgulhoso filho de Fernando Santa Cruz, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro.
O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.
Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber.
A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas.
O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil.
Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente.”
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